Santidade e devoção mariana

Santa Maria

Maria foi chamada pelo Anjo de “cheia de graça” (Lc 1,28). A cheia de graça é a mãe de Jesus, o Santo Filho de Deus. Como Imaculada e Mãe do Filho de Deus encarnado, Maria é a toda santa, a Panaghia. Desde as páginas bíblicas, passando pelos escritos dos Padres da Igreja, até as majestosas e esplêndidas catedrais medievais e as pinturas dos mais célebres artistas do mundo, bem como nas páginas dos mais insignes teólogos e mestres espirituais, Maria é celebrada como a mulher que a Trindade Santa elevou às mais altas culminâncias da perfeição evangélica, pela sua humildade e modéstia.

Maria é uma criatura inteiramente santa, sendo filha predileta do Pai celestial, mãe do Filho e tabernáculo do Espírito Santo. Por isso, os fiéis cristãos olham para Santa Maria como a Rainha de todos os Santos. Santos como, por exemplo, São João Bosco, encontraram nela inspiração e auxílio para um testemunho heroico das virtudes cristãs da fé, esperança e caridade. Os santos se colocaram, como discípulos diligentes, na escola de Maria, a fim de se tornarem irmãos exemplares de Jesus e testemunhas credíveis das bem-aventuranças evangélicas.

A devoção mariana faz parte do tesouro da piedade católica. Em toda igreja ou oratório católico, ao lado do tabernáculo, encontra-se sempre, infalivelmente, uma imagem de Maria, a mãe que conduz seus filhos à comunhão com Jesus e à sua adoração no tabernáculo. Nas constituições, nas regras das famílias religiosas e nas diversas formas de vida consagrada atuais, nunca falta a referência essencial à devoção a Maria, a consagrada de modo mais perfeito e modelo de toda vida consagrada.

Quando sopra a tempestade das perseguições, a invocação e a oração à Virgem tornam-se âncoras de perseverança na fé e na esperança. A história testemunha que a fé cristã manteve-se viva mesmo sob os regimes comunistas do Leste europeu, porque mães e avós rezavam em segredo, à noite, as orações à Virgem Santa, implorando socorro e libertação à Mãe do Senhor. E Maria, através do São João Paulo II, um papa totalmente mariano, foi a libertadora dos povos da opressão dos tiranos. O rosário mariano é a coroa que passa diariamente pelos dedos de milhões e milhões de batizados em todo o mundo.

Maria, a educadora dos Santos

Com suas virtudes, Maria torna-se formadora dos fiéis e, especialmente, dos santos, os quais, ao imitá-la, testemunham com maior constância o seguimento de Jesus. Os santos veem nela, antes de tudo, a mestra, a educadora, que ensina mais com atitudes concretas de fé, humildade, obediência e proximidade a Jesus do que com palavras.

Além disso, os santos encontram em Maria a guia para seguir o caminho reto. Por isso, especialmente na Espanha, a Bem-Aventurada Virgem é muitas vezes chamada de Boa Pastora, aquela que acompanha os santos a cantar os louvores de Deus e a viver, com alegria e sacrifício, sua consagração batismal ou religiosa.

Para os consagrados, Maria é uma guia experiente, pois conhece o caminho para subir à montanha e alcançar o topo do Tabor e do Calvário, onde se encontra com Cristo Senhor. Ela é o modelo de santidade. De fato, a mártir Edith Stein, Santa Teresa Benedita da Cruz, via Maria não apenas como um modelo à nossa frente, mas como alguém que está ao nosso lado, segurando-nos pela mão e nos acompanhando, dia após dia e passo a passo, até a meta da santidade.

Os santos refletem-se, sem dúvida, em Jesus, o modelo supremo de nossa vida cristã. Jesus é, de fato, o protótipo da santidade: “Dei-vos o exemplo, para que, como eu fiz, também vós o façais” (Jo 13,15). Ele é o Santo de Deus (At 3,14) e o mestre da verdade (Mt 22,16). Toda a vida cristã é uma “imitação de Cristo”. Em especial, a vida consagrada é fundamentada nas palavras e nos exemplos do Senhor.

Maria foi a discípula mais fiel de Cristo. Por isso, ela torna-se o modelo de vida santa para todos os discípulos. Santo Ambrósio de Milão dizia que a vida da Bem-Aventurada Virgem é, por si só, um ensinamento para todos. A espiritualidade contemporânea continua a destacar a exemplaridade de Maria, a mãe que resplandece como modelo de virtude diante da comunidade dos batizados.

Maria, a Mãe dos Santos

Por que a Bem-Aventurada Virgem é mestra, educadora, guia e modelo de vida cristã e de vida consagrada? Ela o é porque é a mãe de Jesus e mãe espiritual de todos os redimidos em Cristo.

São Pio de Pietrelcina sentia particularmente próxima ao seu coração filial a Bem-Aventurada Virgem Maria. Dando voz à experiência e aos sentimentos de muitos fiéis e consagrados, Padre Pio escreve em uma de suas cartas: “Esta querida Mamãe continua a oferecer-me com carinho seus cuidados maternos, especialmente neste mês. Seus cuidados para comigo são cheios de ternura […]. O que fiz eu para merecer tanta delicadeza? Minha conduta não tem sido uma negação contínua, não digo de seu Filho, mas até mesmo do próprio nome de cristão? E, contudo, esta Mãe tão terna, em sua grande misericórdia, sabedoria e bondade, quis castigar-me de modo excelso, derramando no meu coração tais e tantas graças que, quando me encontro em sua presença e na de Jesus, sou forçado a exclamar: ‘Onde estou, onde me encontro, quem está ao meu lado?’. Sinto-me completamente em chamas sem fogo; sinto-me unido e ligado ao Filho por meio desta Mãe […]. Gostaria de voar para convidar todas as criaturas a amarem Jesus, a amarem Maria. Eis uma descrição pálida do que me ocorre quando estou com Jesus e Maria.”

O mesmo Santo capuchinho descreve ainda o auxílio concreto desta Mãe celeste, que o alivia das enfermidades físicas e das angústias espirituais. Para a festa da Assunção, Padre Pio escrevia: “Nós, católicos, que veneramos em Maria Santíssima a Mãe mais terna e afetuosa que se possa imaginar, não podemos deixar de exultar de alegria neste dia sagrado em memória do seu maior triunfo, quero dizer, sua Assunção ao céu e sua coroação como Rainha dos anjos e de todos os santos. Demoremo-nos, portanto, a contemplar o poder e a glória de Maria Santíssima assumida ao céu, para nos inflamarmos ainda mais na devoção e na confiança nela.”

A Imaculada e a Santidade

O dogma da Imaculada Conceição destaca a plenitude de graça concedida à Bem-Aventurada Virgem. Os santos meditaram profundamente sobre essa verdade de fé, dela extraindo inspiração para a santificação e o apostolado. Um exemplo notável é São Maximiliano Kolbe, cuja missão e santidade martirial têm como chave a sua devoção mariana, especialmente sua filial piedade para com a Imaculada. Sua alma canta com entusiasmo e profunda participação as glórias da Bem-Aventurada Virgem. Para ele, a Imaculada é “o ápice do amor da criação que retorna a Deus.” Na Imaculada, os fiéis podem superar as barreiras de seus próprios limites e alcançar a santidade. A Imaculada é necessária, não apenas como modelo a ser seguido, mas sobretudo como mediadora materna eficaz e poderosa. Somente na Imaculada os fiéis conseguem romper as limitações e alcançar “o ápice da perfeição.”

Ao celebrar o dogma da Imaculada cinquenta anos após sua proclamação, o Papa São Pio X, na Encíclica Ad diem illum de 1904, afirmava que Maria é a melhor guia para se chegar ao conhecimento de Jesus. Ela é também mãe de todos os fiéis e mediadora e consoladora de toda a humanidade. A devoção mariana torna-se, assim, um incentivo para cumprir a vontade de seu Filho divino. Sendo Imaculada, Maria é o segundo modelo a ser imitado, depois de Jesus Cristo. Suas virtudes teologais, em particular, são exemplos a seguir.

São Pio X sublinha: “Embora seja conveniente que os filhos imitem todas as virtudes da sua Santíssima Mãe, desejamos que os fiéis pratiquem especialmente aquelas que são principais e como nervos e articulações da vida cristã: a fé, a esperança e a caridade, tanto para com Deus quanto para com o próximo. E se bem que nenhum período da vida da Virgem tenha sido desprovido do esplendor dessas virtudes, elas brilharam de forma especial quando Maria esteve presente na natividade e na morte de seu Filho.” (Ad diem illum).

Conclusão

Em Maria, encontramos o arquétipo da resposta humana ao mistério divino, uma criatura plenamente receptiva à ação de Deus e, ao mesmo tempo, ativa no consentimento que transforma a história. Sua santidade, marcada pela pureza absoluta da Imaculada Conceição, não é um fim em si mesma, mas o ápice do amor que redime, uma doação total à vontade divina que a torna mãe de todos os redimidos. Maria vive em perfeita consonância com o Amor trinitário, sendo, portanto, a figura humana que melhor revela e reflete a glória de Deus.

A espiritualidade cristã reconhece que, ao contemplar Maria, olhamos para a própria humanidade transfigurada pela graça. Para os santos, ela é a “porta do céu,” o limiar onde o humano e o divino se encontram numa harmonia profunda. Em sua humildade, Maria não aponta para si mesma, mas para o Mistério que a habita, tornando-se modelo do êxodo espiritual pelo qual cada discípulo é chamado a passar para entrar na comunhão com o Filho. A devoção a Maria, longe de ser um gesto de simples veneração, é uma introdução ao mistério da obediência e do amor, uma convocação a viver a fé na totalidade, sob o olhar da Mãe que nos conduz ao mistério de Cristo.

Maria, portanto, é a “toda-santa” que permanece como intercessora e educadora espiritual, e é ao seu lado que os fiéis são convidados a trilhar o caminho da cruz que leva à ressurreição. Ela é o ícone da humanidade redimida, aquela que, na presença da Trindade, habita plenamente a bem-aventurança prometida. Assim, ao seguirmos seus passos, não fazemos senão contemplar, em sua glória e humildade, o destino último a que somos chamados: a vida plena em Deus.

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