A esperança é um conceito fundamental que atravessa diversas tradições religiosas e filosóficas. Nas Escrituras Judaicas Não Canônicas e na filosofia de Filo de Alexandria, a esperança assume formas distintas que refletem as realidades espirituais e políticas das comunidades judaicas na diáspora e nas terras palestinenses. Este artigo explora como a esperança é apresentada nos Testamentos dos Patriarcas, no Livro de Henoc Etíope, nos Salmos de Salomão, na Comunidade de Qumran, e na Filosofia de Filo de Alexandria, destacando suas nuances e implicações teológicas.
Nos Testamentos dos Doze Patriarcas, redigidos inicialmente no período pré-cristão, a esperança da diáspora fundamenta-se na fidelidade à Lei, com a expectativa de um retorno à terra prometida (Testamentos dos Doze Patriarcas 12, Juda 26, 1; Asafe 7, 7; Benjamim 10, 11). Na versão posterior, do século I d.C., a exortação à obediência à Lei é ampliada pela perspectiva da ressurreição (Testamentos dos Doze Patriarcas 12, Juda 25, 1-5). Esses hinos não apenas reconhecem a esperança como um elemento central da espiritualidade judaica, mas também antecipam a tensão cristã do “já e ainda não” da salvação.
Filo de Alexandria, filósofo judeu helenístico, utiliza os termos ἔλπίς (esperança) e ἐλπίζειν (esperar) com significados distintos daqueles presentes na Septuaginta, enfatizando mais a expectativa do que a confiança. Ele define explicitamente ἔλπίς como “expectativa (προσδοκία) do bem” (Post. Cain. 26). Filo contrapõe ἔλπίς, entendida como uma dependência do espírito em relação a Deus, ao desejo irracional e corporal (ἐπιθυμία). Para ele, a esperança religiosa é uma expectativa racional e segura (Post. Cain. 26).
Filo também relaciona ἔλπίς ao conhecimento futuro proporcionado pelo espírito. Enquanto o conhecimento sensorial (αἴσθησις) está limitado ao presente, o espírito pode recordar o passado, perceber o presente e antecipar o futuro, seja pela expectativa (προσδοκία) ou pela esperança (ἔλπίς) (Leg. All. 1, 42-45; Virt. 75). Em Migr. Abr. 154, Filo associa ἔλπίς à iluminação tríplice do espírito, entendendo-a como uma expectativa segura.
3. A Esperança na narrativa alegórica de Israel
Na interpretação alegórica de Filo sobre a história de Israel, que se concentra em Deus e na alma, ele conecta a confiança humana à verdadeira esperança em Deus. Para Filo, a esperança como expectativa de felicidade faz parte da natureza humana, aliviando os fardos do presente e anunciando a alegria do futuro (Praem. et Poen. 161; Abr. 16). Essa esperança também serve como fonte de consolo em tempos de adversidade, tanto externas quanto internas (Praem. et Poen. 72; Flacc. 176).
Filo reconhece, no entanto, que ἔλπίς também pode carregar o significado clássico de pensamento ou avaliação (Jos. 252; Somn. 1, 204; Vit. Moys. 1, 285), assim como ἐλπίζειν em contextos mais amplos (Abr. 169; Jos. 138; Quod Det. Pot. Insid. 160).
As Escrituras Judaicas Não Canônicas e a filosofia de Filo de Alexandria oferecem perspectivas ricas e multifacetadas sobre a esperança, refletindo as realidades espirituais e políticas das comunidades judaicas na diáspora e em terras palestinenses. Desde os Testamentos dos Patriarcas até a filosofia de Filo, a esperança é retratada como uma confiança inabalável em Deus e uma expectativa de salvação e restauração. Essas visões fortalecem a fé individual e comunitária e também orientam a conduta ética e espiritual dos fiéis, destacando a importância da esperança na experiência religiosa judaica e na filosofia helenística que pavimenta a estrada da compreensão cristã da esperança encarnada.
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