A esperança é um pilar fundamental na espiritualidade do Antigo Testamento e do Judaísmo pré-cristão. Nos Salmos e nos escritos dos profetas, a esperança transcende a mera expectativa, manifestando-se como uma confiança profunda em Deus diante das adversidades. Este artigo explora o vocabulário hebraico relacionado à esperança e como ele é utilizado nas orações e profecias, refletindo a fé inabalável do povo de Israel.
O vocabulário da Bíblia Hebraica correspondente ao campo semântico de ἔλπίς no Novo Testamento e na Septuaginta aparece principalmente nas orações do Livro dos Salmos e nos escritos dos profetas. Essas expressões são frequentemente encontradas em lamentos e súplicas, tanto comunitários quanto individuais.
No livro de Jeremias, por exemplo, encontramos lamentos em tempos de seca, nos quais Deus é invocado como a “esperança de Israel” (Jeremias 14, 2-9), e a confiança esperançosa é colocada exclusivamente no Deus todo-poderoso e eleito (Jeremias 14, 19-22). De forma semelhante, as súplicas individuais nos Salmos expressam uma expectativa confiante em Deus, como em passagens como Salmos 71 (70), 5; 62 (61), 6; 38 (37), 16; 31 (32), 7b-8a; 61 (60), 4-5 (Woschitz, 286-297; Van Menxel, 172-182).
Essas orações, vindas tanto de comunidades angustiadas quanto de indivíduos sofredores, testemunham que a salvação — a libertação de desgraças, doenças, opressões ou outros males, muitas vezes materiais — é esperada somente de Deus. Confiam n’Ele como o Criador Todo-Poderoso e Senhor da Aliança de Israel.
Alguns salmistas aprofundam a reflexão sobre a esperança, vinculando-a à fidelidade à Lei (Salmos 27 [26], 14; 37 [36], 3-7, 34ab). Nesses textos, o salmista associa a confiança em Deus às bênçãos decorrentes dela:
A esperança em Deus é, portanto, exaltada como virtude, e aqueles que a possuem são chamados de bem-aventurados (Salmos 146 [145], 5; 84 [83], 13; 40 [39], 5; Jeremias 17, 7-8). Esses “esperançosos” são associados aos que buscam a Deus, aos “pobres” e “piedosos” (Salmos 69 [68], 7; 37 [36], 9, 28; 31 [30], 24-25). Assim, a esperança em Deus, em Sua fidelidade e poder, constitui um tema central da espiritualidade expressa nos Salmos.
Os escritos proféticos expandem e aprofundam a temática da esperança. Ela é reforçada por diversas promessas de salvação, como:
Os profetas pré-exílicos, como Isaías, reconhecem sua esperança em Deus mesmo diante da rejeição de Sua palavra pelos ouvintes (Isaías 8, 16-18). No Livro da Consolação, escrito durante o exílio, Isaías responde ao desespero do povo afirmando que Deus não abandonou Israel (Isaías 41, 27-31). Ele fundamenta seu apelo à esperança na eternidade de Deus, Criador da terra e guia da história. Esse texto pode ser a primeira expressão explícita de como a esperança é uma atitude fundamental da fé israelita.
No último bloco do Livro de Isaías, que anuncia a literatura apocalíptica, encontramos um fragmento de hino que resume a espiritualidade da esperança:
“Naquele dia, dirão: Este é o nosso Deus, em quem esperamos para que nos salvasse. Este é o Senhor, em quem esperamos. Alegremo-nos e exultemos em Sua salvação” (Isaías 25, 9).
Esse contexto inclui a esperança no cumprimento do definitivo ato de salvação, que envolve o triunfo sobre a morte e a vida eterna (Isaías 25, 6-8). As expressões de confiança e esperança no Deus fiel, tanto nos Salmos quanto nos profetas, mostram suas raízes na época pré-exílica, mas tornam-se mais densas com o tempo, culminando na visão de vitória sobre a morte e da esperança escatológica.
A esperança nos Salmos e nos Profetas do Antigo Testamento é retratada como uma confiança profunda nas promessas e na fidelidade de Deus. Desde as súplicas nos Salmos até as profecias de restauração e aliança, a esperança está intrinsecamente ligada à expectativa de bênçãos futuras e à restauração. Essa visão de esperança fortalece a fé, e também orienta a conduta ética e comunitária do povo de Israel, refletindo a complexidade e a profundidade das tradições religiosas que moldaram a espiritualidade judaica.
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