A festa ou memória da Apresentação da Bem aventurada Virgem Maria ao templo, celebrada no dia 21 de novembro, além de narrar esse episódio da sua vida, recorda também o período que vai da natividade até o noivado de Maria com José. Ao celebrar esse acontecimento, a Igreja visa esclarecer o período da vida da Virgem Maria, que para muitos pesa, por não haver dados históricos concisos sobre a primeira fase da sua vida. Para isso, é necessário recorrer ao protoevangelho de São Tiago. O que a igreja usa como recurso, a fim de esclarecer momentos simples, mas que narram a vida silenciosa de Maria. Enquanto a festa latina se reduz a simples memória, a igreja oriental reserva destaque superior a duas outras festas relativas à infância da Virgem, isto é, a Imaculada Conceição e a Natividade.
Nascida no oriente, a festa da apresentação da Virgem Maria apresenta diferente significado no ocidente, tendo assim, conotações variadas em cada um desses continentes.
A festa no oriente
A festa da Apresentação da Virgem Maria, possui dados da sua origem na cultura judaica, em Jerusalém. O primeiro documento conhecido refere-se à dedicação de uma igreja construída por Justiniano (527-565), com data de 21 de novembro de 453, nas proximidades do templo em que Maria teria assim, frequentado. Segundo alguns dados históricos, ela teria morado no templo durante algum tempo entre a sua consagração e a sua entrega a José.
Depois da dedicação Néa, a festa parece haver conservado por algum tempo caráter local e limitado, correndo o risco de tornar-se esquecida, em razão da destruição do mesmo templo.
Nos primeiros séculos d.C, encontra-se algumas homilias sobre a apresentação de Maria, no entanto, referem-se mais a sua natalidade do que a festa, propriamente dita. O ofício da festa atualmente recitado foi sancionado de maneira definitiva no século IX, graças a ação de Jorge da Nicomédia e outro atribuído a Kyr Basílio, provavelmente do século X.
A festa no ocidente
No papado de Sérgio I (687-701), a festa da Apresentação de Nossa Senhora não havia sido introduzida em Roma, e o ocidente protela a sua aceitação. Enquanto isso, no século IX, a celebração acontecia nos mosteiros orientais situados na Itália. Mas somente em 1373 a festa começou a ser celebrada na cúria romana de Avinhão. O apóstolo que contribuiu para o início da celebração foi Filipe de Mézières, Gregório XI permitiu a celebração da festa com missa e ofício. Sisto IV, em 1472, estendeu a festa a toda igreja católica, introduzindo um ofício especial no breviário. São Pio V, em 1568, com o decreto Quod a nobis, suspendeu-a. Sisto V, em 1585 com a bula Intemeratae, retomou a festa no calendário, prescrevendo que fosse celebrada com o ofício da Natividade e com a simples mudança do título.
Depois da reforma litúrgica do Vaticano II, a festa ficou reduzida a simples memória, remetendo o ofício ao Comum da Bem aventurada Virgem Maria. Paulo VI alude à festa na Marialis cultus, porém somente ao falar da igreja ocidental.
Dados históricos da festa
Os evangelhos canônicos calam sobre a vida de Maria anterior à anunciação. O silêncio só é rompido com a presença dos evangelhos apócrifos, especialmente o protoevangelho de Tiago, que narra de modo peculiar os eventos da concepção de Maria, do seu nascimento, da sua entrega no templo para cumprir um voto feito pelos seus pais, dos seus compromissos esponsais com José, da anunciação, do natal até a chegada dos reis magos.
O relato do protoevangelho de Tiago
A apresentação da Virgem Maria é narrada pelo protoevangelho (7, 2- 8,1) da seguinte forma:
A menina atingiu os três anos, e Joaquim disse: “Chamai as filhas dos hebreus que estão sem mácula; cada uma delas tome uma lâmpada e as lâmpadas devem permanecer acesas para que a menina não volte atrás e o seu coração não se entretenha com algo fora do templo do Senhor”. E elas assim fizeram, até subirem ao templo do Senhor. E o sacerdote a acolheu e, depois de havê-la beijado, abençoou-a dizendo: “O Senhor glorificou o teu nome em todas as gerações. Em ti, nos últimos dias, o Senhor fará ver a redenção por ele concedida aos filhos de Israel”. E fez a menina sentar-se no terceiro degrau do altar, e o Senhor cumulou-a com sua graça, e ela dançou, e toda a casa de Israel gostou dela. E os seus pais desceram, cheios de admiração, louvando o Deus poderoso, porque a menina não havia procurado voltar atrás. E Maria estava no templo do Senhor, alimentando-se como uma pomba, e recebia as refeições das mãos de um dos anjos.
Dados históricos
O gracioso episódio foi sempre honrado no oriente, como podemos constatar mediante as proporções atingidas pela festa de 21 de novembro. O ocidente pronunciou-se mais tarde, entre muitas hesitações. Essas hesitações tornaram-se consequentemente maiores, após as negações do protestantismo. Os primeiros a questionarem o acontecimento foram os centuriadores. Entre os católicos, essa negação aconteceu através do dominicano Jacinto Serry (1659-1738), por um livro por ele publicado. O cardeal Lambertini, depois Bento XIV, afirmam que Maria foi apresentada ao templo, para que fosse bem educada. A propósito do valor histórico do episódio, os estudiosos G. Roschini e L. Peretto afirmam que o costume era cultivado pelos judeus, tendo como objetivo levar os filhos e as filhas ao templo, para os consagrarem ao serviço de Deus. Também afirmam que essa tradição acontece como um cumprimento de um voto da mãe, como uma promessa ou um ato de oferta a Deus, o que justifica a comemoração da data no dia 21 de novembro. No entanto, consideram que a permanência de Maria no templo, inserida em uma instituição semelhante a um colégio de virgens dedicadas aos serviço de Deus e dos sacerdotes pode ser lendária, pois se o fato fosse verdadeiramente concreto, teria sido descrito por Flávio Josefo ao discorrer sobre o templo sagrado.
Sobre a importância teológico-espiritual da festa, trataremos no próximo capítulo!