A história do Rosário. Você conhece?

grayscale photography of woman praying while holding prayer beads

Se considerarmos as orações cristãs, provavelmente o Rosário é a maior do mundo. Conhecido como saltério da Virgem Maria encontramos no dedilhar das contas, histórias de povos, famílias, pessoas. A saudação do Anjo, repetida tantas vezes, assim como os salmos, vão sendo alternados por episódios da vida de Cristo e de Maria como se de dois espelhos falássemos que se iluminam um ao outro.

Na história católica tivemos de esperar até Pio V para de 1566 até 1572 até vermos uma consagração oficial desta prática devocional fixando as normas que chegaram aos nossos dias com a Bula Consueverunt romani Pontifices. Claro está que a história do Rosário é muito mais antiga, podemos fixar uma data de grande difusão: séc. XII. Neste século encontramos a piedosa prática da recitação da Ave Maria, certamente que esta saudação era já conhecida muito antes desta época. No final do séc. VII a antífona de ofertório do IV Domingo de Advento, uma celebração de clara acentuação mariana, já encontramos a Ave Maria. Imitando, por assim dizer, a oração monástica da repetição dos 150 salmos davídicos encontramos, para os monges iletrados, a repetição do mesmo número de Pai-Nosso ou de Ave Maria

Um particular da oração que será repetida no Rosário, é o fato de ter apenas a primeira parte, correspondente à saudação angélica Ave [Maria] cheia de graça o Senhor está contigo e a bênção de Isabel: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu Ventre. Esta é a oração original que foi repetida durante séculos, e só no final do século XV é que encontraremos a segunda parte Santa Maria. Importa ainda referir que a oração do Pai-Nosso monges e leigos a dividiam em 3 vezes (50+50+50) durante o dia e que o Papa Pio V faria entrar esta modalidade na publicação do breviário em 1586.

Regressando no tempo ao século XIV encontramos um importante marco na história do Rosário quando o monge cartuxo Enrique de Kalkar (1328-1408) subdividiu o saltério da Virgem em grupos de 15 dezenas inserindo entre cada uma delas um Pai-Nosso. É desta mesma época Alan de la Roche, dominicano (1428-1475) que começa a difundir a história de uma suposta difusão do Rosário por parte de São Domingos de Gusmão (1170-1221). Sobre este fato histórico de forma indireta apenas sabemos referir que o saltério mariano se pode documentar antes mesmo do nascimento do santo. Outro elemento, não menos importante é o uso desta forma popular de oração pelos seus frades e provavelmente também por São Domenico, basta pensar às Confrarias Marianas fundadas por São Pedro de Verona (1205-1252) que tinham como carisma divulgar a devoção à Virgem. Portanto se de uma paternidade do Rosário não se pode falar, pelo menos um incentivo à devoção mariana é presente, não tanto nos escritos quanto na atividade pastoral do fundador da Ordem dos Pregadores.   

Na forma atual nós repetimos a Ave Maria e o PaiNosso intercalando-os com a meditação dos mistérios. Foi apenas no século XV que Domingos da Prússia (1382-1461) o introduziu reduzindo o número de Ave Maria a cinquenta no final de cada se acrescentava uma referência a um evento evangélico (quatorze da vida de Jesus em Nazaré, seis sobre a vida pública, vinte e quatro sobre a paixão e morte e por fim seis sobre a glorificação de Cristo e sua Mãe). Esta forma de oração, de meditação subdividida acabará por dar-nos o Rosário na modalidade que a conhecemos. Na realidade, esta forma acabou por proliferar em toda a Europa e no séc. XV já se contavam mais de trezentos saltérios deste gênero. Teremos de esperar a pregação e a fundação das confrarias de Alano de la Roche, já citado, para encontramos o novo Rosário da Bem Aventurada Virgem Maria – nome dado pelo dominicano, dividido em três partes: encarnação, paixão e morte, glória de Cristo e de Maria.

Já dentro da Ordem dos Pregadores veremos em 1521 Alberto de Castelo a reduzir estes mistérios a quinze, propondo simples comentários ao mistério recitando a Ave Maria. Esta reforma do novo saltério mariano foi se impondo um pouco por toda a Europa sobretudo nas confrarias até chegar à sua primeira fase em 1569, como já citamos, com Pio V na sua bula que lhe deu a forma que chegou aos nossos dias.

O Rosário diversamente de outras devoções populares tem a particularidade de ser uma forma universal de oração ao ponto de fundir-se com o conceito de piedade mariana que desde as mais remotas paróquias e mosteiros até aos mais longínquos povos cristianizados se continua a difundir e a congregar. E mesmo quando a avalanche de críticas, pouco evangélicas, à piedade popular, colocaram em discussão este pio exercício e não deixou de vir ao seu encontro o magistério dos Santos Padres que falaremos no próximo artigo.

E você? Tem costume de rezar e meditar o Santo Rosário? Tem dúvidas sobre ele? Comente aqui!

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Responses

  1. Oração de muita paz, mas não de hábito diário. Me acostumei a oração diária do Evangelho, que muito me preenche. Na Rosarium Virginis Maria e, destaco os diversos olhares de Maria, quando contemplamos os Mistérios. Salve Maria!

  2. Desde muito nova aprendi a rezar o terço com a minha mãe, mas eu algum momento da minha vida(não me lembro quando nem pq) passei a rezar o Rosário e a me sentir incompleta, digamos assim, quando só conseguia rezar o terço. O Rosário me acalma, me consola, me fortalece. É verdadeiramente o socorro de Deus para mim.

  3. Rezo o terço pelo menos uma vez ao dia, mas sempre sigo aquilo que aprendi da Igreja, ou seja, cada Mistério tem o seu dia.
    No início achava penoso, demorado, agora passa muito rápido principalmente quando se sente a presença de Maria junto a nós

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