A iconografia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
O ícone milagroso de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro mede 53×41,5 centímetros. Trata-se de uma pintura de estilo bizantino, da escola cretense, pertencente ao grupo de ícones denominado Nossa Senhora da Paixão.
Este ícone foi realizado em madeira com fundo dourado, cor muito utilizada pelos artistas do antigo Império Romano quando se tratava de retratar grandes personalidades. O ouro, neste caso, é um símbolo expressivo da glória da Rainha do Céu. A pintura é um ícone, portanto, não uma simples representação de santos, mas uma representação que torna os personagens representados presentes de forma espiritual adquirindo assim o valor de um sacramental. Mais do que um simples retrato de Maria, a pintura reproduz uma cena, torna presente este mistério para o contemplante.
Este ícone pode parecer estranho aos nossos olhos ocidentais modernos. Ele não retrata Maria como uma menina delicada de olhos baixos. Seu olhar direto e suas feições marcadas atraem nossa atenção. Ficamos impressionados com as qualidades irreais das figuras.
Jesus é do tamanho de um recém-nascido, mas suas feições são as de uma criança mais velha. Maria e Jesus não são colocados em um cenário, mas colocados em um fundo dourado, onde a divina humanidade do Menino se funde com o templo do Espírito Santo que é a Mãe.
O que nós vemos quando olhamos para a imagem?
Em primeiro lugar vemos Maria, porque ela domina a pintura e porque ela nos olha diretamente nos olhos – ela não olha para Jesus, ela não olha para o céu, não olha para os anjos que pairam sobre sua cabeça. Olha para nós como se nos fosse lhe dizer algo muito importante. Seus olhos parecem sérios, até tristes, mas chamam a atenção.
Ela é uma mulher importante, uma mulher de poder, de certo nível.
Está colocada sobre um fundo dourado, símbolo do céu durante a Idade Média.
Sob o manto azul, Maria veste uma túnica vermelha. Nos primórdios do cristianismo, as virgens distinguiam-se pela cor azul, e as mães, pela cor vermelha. Esta combinação cromática, portanto, define os mistérios de Nossa Senhora como, Virgem e Mãe.
A cor verde no forro de sua pelagem também é perceptível. A composição dessas três cores era de uso exclusivo da realeza. Apenas a Imperatriz tinha permissão para usar essas cores. Assim, a dignidade real da Rainha dos Anjos e Santos está bem representada em suas roupas.
A estrela de oito pontas na testa provavelmente foi acrescentada por um artista posterior, para representar a ideia oriental de que Maria é a sempre Virgem, antes, durante e depois do parto. A insistência sobre a Sempre Virgem derivada da singularidade da eleição da Mãe de Deus e do importante papel que Maria desempenha no plano de nossa salvação como Mãe de Deus e toda a humanidade. Para reforçar o simbolismo, existe uma cruz ornamental de quatro pontas à esquerda da estrela em seu véu.
As letras acima de sua cabeça a proclamam a Mãe de Deus (em grego).
Olhando para a pintura, entendemos que ela tem o poder de interceder por nós no céu.
O olhar de Maria está fixo em nós, mas ela segura Jesus em seus braços.
Nos ícones bizantinos, Maria nunca é apresentada sem Jesus porque Jesus continua sendo o centro da fé.
Jesus também está vestido com cores reais. Somente o Imperador poderia usar uma túnica verde, uma faixa vermelha e o brocado dourado que aparece na pintura.
As iniciais gregas à direita da criança e sua auréola decorada com uma cruz proclamam que ele é “Jesus Cristo”.
Jesus não olha para nós, nem para Maria, nem para os anjos. Mesmo agarrado à mãe, ele olha para longe, para algo que não podemos ver – algo que o fez correr para sua mãe tão rapidamente que uma de suas sandálias quase se desfez, algo que o levou a abraçar sua mãe para encontrar, proteção e amor.
A mão direita da Mãe acolhe seu Filho, enfatizando assim a humanidade de Cristo. A mão da Virgem, porém, aponta ao mesmo tempo para o Filho de Deus, evidenciando a natureza divina de Jesus. Maria, portanto, é representada como a Odigitria, aquela que nos guia para o Redentor, para quem é , Verdade e Vida. Ela é o nosso Auxílio, que intercede por nós diante de seu Filho, que sacrificou sua vida por nós na cruz do Calvário.
O que pode uma criança tanto temer, sendo que é o Filho de Deus?
As figuras que pairam de cada lado de Jesus e Maria – as letras gregas os identificam com os arcanjos Gabriel e Miguel – nos fornecem a resposta. Em vez de harpa e trombeta de louvor, estão carregados com os instrumentos da Paixão de Cristo.
À esquerda, Miguel segura o vaso cheio de fel que os soldados ofereceram a Jesus na cruz, a lança que perfurou seu lado e a vara com a esponja.
À direita, Gabriel segura a cruz e quatro pregos
No entanto, na pintura também se destaca o triunfo de Cristo sobre o sofrimento e a morte, como pode ser visto no fundo dourado (símbolo da ressurreição) e na forma como os anjos seguram os instrumentos da Paixão. Na realidade, mais do que uma ameaça de destruição, eles aparecem como troféus de vitória, tirados do Calvário na manhã de Páscoa. Pode-se dizer que o tema principal do ícone é o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Jesus vislumbrou parcialmente o que haveria de acontecer – o sofrimento e a morte que ele terá que sofrer. Embora ele seja Deus, ele também é humano e, como tal, tem medo de seu futuro aterrorizante.
Correu para a mãe, que o abraça neste momento de pânico, assim como estará perto dele durante toda a sua vida e na hora da sua morte. Ela não pode poupá-lo do sofrimento, mas pode amá-lo e consolá-lo.
Mas então, por que Maria olha tão atentamente para nós em vez de olhar para a criança necessitada? Seu olhar nos faz penetrar na história, nos torna participantes da pintura e da dor. Seu olhar nos diz que, assim como Jesus correu para sua mãe para encontrar lá refúgio, também nós podemos correr para Maria.
Sua mão não envolve as pequenas mãos de seu Filho assustado em um aperto protetor, mas permanece aberta, convidando-nos a colocar as nossas mãos nela e nos unirmos a Jesus. Maria sabe que há muitas coisas perigosas e aterrorizantes na vida, e que precisamos de alguém a quem recorrer em tempos de sofrimento e angústia. Ela nos oferece o mesmo conforto e o mesmo amor que deu a Jesus. Ela nos diz para corrermos para ela, tão rápido quanto Jesus foi, tão rápido que não damos importância a como nos vestimos ou como vamos, para chegar.
Oração perante o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Ó Mãe do Perpétuo Socorro, muitos são os que se prostram diante de tua santa imagem, pedem teu patrocínio. Todos vos invocam de Auxílio dos Miseráveis e sentem o benefício de vossa proteção. Por isso também recorro a Vós nesta minha tribulação. Vê, querida mãe, a quantos perigos estou exposto(a); olhai para minhas inúmeras necessidades. Aflições e necessidades me oprimem; o infortúnio e a privação me trazem desolação em minha casa; sempre e em todo lugar encontro uma cruz para carregar. Ó Mãe, cheia de misericórdia, tende misericórdia de mim e da minha família, mas de uma maneira especial ajuda-me agora, na minha necessidade. Livra-me de todo o mal; mas se é da vontade de Deus que eu continue a sofrer, ao menos me dê a graça de sofrer com paciência e amor. Peço-vos com muita confiança e espero obtê-la de vós, porque sois a Mãe do Perpétuo Socorro. Amém.
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