Ainda sobre o Rosário: visão dos Santos Padres.

person holding rosary

Ao longo dos séculos não faltam referências dos Santos Padres acerca do Rosário. Mais do que elencar documentos, procuraremos nas próximas linhas a novidade que cada um dos documentos trouxe para a compreensão do lugar que o Rosário ocupa no ensinamento magisterial. Começamos por Pio V (1566-1572), Santo e Dominicano, este Papa é conhecido pelo Papa do Rosário pois com a bula Consueverunt  Romani Pontifices, 17 de setembro de 1569, define esta oração como: 

‘O Rosário, ou Saltério da Bem Aventurada Maria é um modo pio de oração a Deus, modo fácil que todos podem realizar, que consiste em louvar a Bem Aventurada Virgem repetindo a saudação angélica cento e cinquenta vezes, tanto quantos são os salmos de Davi dividindo a cada dezena com a oração do Senhor, com determinadas meditações que ilustram a inteira vida do Senhor Nosso Jesus Cristo’.

Mais tarde com a Bula Salvatoris Domini (1572) São Pio V referindo-se à vitória da Batalha de Lepanto instituiu a festa litúrgica em memória de tal vitória. A doutrina de S. Pio V acerca do rosário se pode sintetizar da seguinte forma: a) é uma oração que deve ser rezada para superar dificuldades de calamidades, pestilências, guerras e outros problemas; b) é um meio que todos podem usar; c) tal caminho revelou-se de grande ajuda contra as heresias e perigos da fé realizando numerosas conversões; d) deve ser recitado por todo o povo cristão.

 O sucessor Papa Gregório XIII por sua vez com a bula Monet Apostolus (1573) instituiu a festa solene do Rosário, colocando-a no primeiro domingo de Outubro. Os sucessivos documentos magisteriais apenas vão conceder privilégios, indulgências, normas para as diversas confrarias. A importância documental está no fato que, mesmo não atribuindo novidades, o Rosário continuou a ser de suma importância para a Sede Apostólica ‘como exaltação da fé católica, extirpação das heresias, conservação da paz entre os príncipes cristãos’ (Papa Clemente VIII, bula Salvatoris et Domini, 13 janeiro 1593).

PIO IX: O Papa da Unificação Italiana - A12.com

Já na aurora do século XX temos o convite do Beato Pio IX (1846-1870)  com a carta Egregiis suis a rezar o Rosário pelo êxito do Concílio Vaticano Iº (1869-1870). Poucos anos mais tarde Leão XIII (1878-1903) assinando 12 Encíclicas e duas cartas apostólicas sobre os temas do Rosário acabaria por influir decisivamente na cristalização do mesmo na experiência cristã de oração. É neste pontificado que o mês de Outubro é dedicado ao Rosário, oração que segundo o Papa é um meio fácil para fazer entrar e enraizar nas almas os dogmas principais da fé cristã. Sobre os males da sociedade o Papa da encíclica social Rerum Novarum convida à recitação do Rosário para superar a aversão ao sacrifício e ao sofrimento que a fé conduz pois nos ensina a olhar para os sofrimentos de Cristo e nos conduz a uma vida humilde e trabalhada à imagem da humildade de Cristo e de Maria. Os mistérios da vida futura a o repúdio dos bens materiais consegue-se através da meditação e contemplação dos mistérios da vida de Cristo, de Maria e dos Santos.

Aventuras na História · Pio XI: O papa que despertou a ira de Hitler

Na mesma linha de pensamento Pio XI (1922-1939) com a encíclica Ingravescentibus malis, 20 setembro de 1937, convida à oração na hora do perigo à Rainha do Céu, sobretudo com o Rosário, que entre as orações à Virgem ocupa o primeiro lugar. É uma via para suscitar virtudes evangélicas, suscitar a fé católica, reavivar a esperança e a caridade.

Papa Pio XII – Wikipédia, a enciclopédia livre

O Venerável Pio XII (1939-1958) acerca do Rosário dedicou uma encíclica e oito cartas. Segundo o Papa, que proclamou dogmaticamente a Assunção de Maria em 01/11/1950, esta oração é: a síntese de todo o Evangelho, meditações dos mistérios do Senhor, o sacrifício vespertino, a coroa de rosas, o hino de louvor, a oração da família, o compêndio da vida cristão, o penhor seguro de favor celeste, o presídio para a esperança da salvação. Com a encíclica Ingruentium malorum (1951), o Santo Padre afirmava que:

«ainda que não exista um único modo de orar para obter ajuda, contudo nós estimamos que o santo rosário seja o meio mais conveniente e eficaz: tal como o demonstra a sua origem, mais divina que humana, desta prática, seja também pela sua íntima natureza… Não hesitamos em afirmar de novo publicamente que grande é a esperança que nós colocamos no santo rosário para curar os males que afligem os nossos tempos. Não com a força, não com as armas, nem com humana potência, mas com a ajuda divina obtida por meio desta oração, forte como David com a sua funda, a Igreja poderá afrontar impávida o inimigo infernal».

Quem foi o Papa João XXIII? | Cléofas

O Papa que iria abrir o Concílio Vaticano II, São João XXIII (1958-1963) revelou que ao longo da sua vida o Rosário sempre fez parte da sua espiritualidade. Explicou o seu magistério sobre o Rosário em várias encíclicas e discursos. Entre os quais citamos a Grata recordatio (1959) falando sobre a devoção do Rosário durante o mês de outubro, onde o Santo Padre afirma: ‘o Rosário, como todos sabem, é um modo excelente de oração meditada, constituído pela mística coroa, na qual as orações do Pai Nosso, da Ave Maria e da Glória se entrelaçam na consideração dos mais altos mistérios da nossa fé, pelo que é apresentada à nossa mente como em tantos quadros, o drama da encarnação e da redenção de Nosso Senhor’. Poucos anos mais tarde com a carta apostólica O religioso convênio (1961) com um trato paterno sobre os fiéis, que representa com uma linguagem nova o valor e a eficácia do Rosário e é uma verdadeira suma do Rosário.

O nosso percurso termina aqui às portas do Vaticano II (1962-1965) onde Santos como Paulo VI, João Paulo II influíram, reformularam e releram à luz do Concílio a mais rezada oração do mundo. Amanhã teremos mais conteúdo celebrando o mês do Rosário!

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