Maria e os Conselhos Evangélicos

A maior parte dos institutos de vida consagrada católicos no mundo acolhem Maria como o protótipo de vida, de espiritualidade e modelo de serviço. Ao longos dos séculos não faltam testemunhos e o Magistério tem exortado os consagrados e as consagradas a viver mais intensamente esta dimensão que se torna indispensável à sua espiritualidade sob todos os aspectos da sua missão.

Na sociedade pós Concílio, sobretudo pós contemporânea, existe a necessidade de rever todas as heranças inalienáveis do passado. Se por um lado é uma provocação à stabilitas plurisecular da Igreja, por outro lado é uma oportunidade pois coloca a mariologia numa linha de repensamento, discutindo as referências marianas que devem corresponder a imagens reais da Virgem e não apenas no âmbito da (des) ilusão.

Nas comunidades em progresso espiritual é patrimônio comum que o vínculo a Maria seja uma presença fundamental. Este panorama de Maria na vida daqueles que vivem os conselhos evangélicos tem sido alvo da atenção do Magistério nas últimas décadas. Uma vivência do mistério de Maria que não é unicamente mulher hebreia da qual temos poucas informações históricas, não é apenas uma venerada Mãe de Jesus na primitiva comunidade eclesial, mas é uma Presença que se exprime, comunica, exercita funções de Mãe, introduz-nos no mistério de Deus que acompanha a vida mística, além de um tempo ao longo da história.

Na vida dos conselhos evangélicos podemos encontrar uma mariologia existencial, é comum encontrar nas fundações de diversas formas de vida cristã acontecimentos mariofânicos, esta presença de Maria faz-nos concluir que a Mãe é contemporânea nossa de todas as opções religiosas dos consagrados.

Para descobrirmos o sentido de fato devemos valer da mariologia pois a atual teologia existencial da vida consagrada nos tem oferecido novos aspectos sobre a identidade de Maria. A primeira constatação é que Maria não é mera historiografia ou arqueologia cristã mas uma misteriosa presença na contemporaneidade da Igreja. Maria oferece-nos uma perspectiva feminina para a contemplação do mistério de Deus na vida consagrada fazendo-nos entender uma peculiar forma de vocação na vida comunitária, na missão, na consagração e na espiritualidade.

Na nossa época pós moderna e globalizada estamos descobrindo esta herança mariana começa a ser redescoberta sobretudo a partir da liturgia. O Mistério de Salvação hoje está desconstruindo e reconstruindo o substrato mariológico mais fundamentado nas fontes da revelação e na Tradição eclesial, ligando-a aos desenvolvimentos cristológicos, pneumatológicos, eclesiológicos, antropológicos.

Os conselhos evangélicos hoje, são capazes de assimilar o cristão ao tipo de vida virginal e pobre abraçada pela Mãe de Jesus. A vida de Maria é um ensinamento para todos e a sua intercessão fará crescer esta forma de vida. São Paulo VI na Evangelica Testificatio propõe Maria, como nosso exemplo e nossa intercessora apresentando a vida de Maria, unida à vinda de Jesus, como fundamento da vida no celibato consagrado. São João Paulo II na Redemptionis donum apresenta Maria como a primeira e a mais plenamente consagrada a Deus, é virgem e o seu amor esponsal-virginal torna-se fecundado pela maternidade divina por obra do Espírito Santo. É despojada seja a Belém tal como no Calvário, obedecendo a todo o momento com uma fidelidade perseverante enquanto Mãe da vida Evangélica. Este é o paradigma mariano da vida consagrada.

A instrução da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada desde o Concílio até hoje foi apresentando Maria como a mulher que recebe em si o Verbo de Deus, que o concebe na plena fidelidade antes no seu espírito e depois no seu ventre. Ela foi para a sua fé e a sua caridade o exemplo de vida contemplativa e uma venerável tradição antiga que lhe aplicou na sagrada liturgia estas palavras do Evangelho: Maria escolher para si a parte melhor. Claro está que o aspecto contemplativo e eclesial da ação e da presença de Maria foi também um elemento forte a ser considerado.

No que concerne à dimensão devocional para com a Mãe de Deus nós encontramos este aspecto como parte integrante de uma necessidade de aprofundamento. Quantos consagrados e consagradas nunca receberam uma sólida formação em relação ao carisma onde vivem muito menos mariológica permanecendo uma vida em que o coração não se une à inteligência! Neste sentido São João Paulo II em 1999 com a exortação apostólica Vita consecrata resumiu a relação entre Maria e a vida dos conselhos evangélicos desta forma: Maria no Cenáculo é imagem viva da Igreja Esposa, sem mancha nem ruga, atenta aos sinais do Esposo e pronta para acolher o dom do Espírito; Maria é a virgem que escuta, reza, contempla a Paixão, estando ao pé da Cruz. N’Ela os religiosos e religiosas encontrarão a via segura que guia e reforça a dimensão contemplativa das suas vidas; Maria é a perfeita consagrada a partir da sua Imaculada Conceição. Reflete a beleza de Deus, é a mais próxima de Jesus, juntamente com José. Responde a Deus com uma dedicação plena e sem reservas; Maria ensina que cada missão começa com a mesma atitude que ela teve na anunciação: Eis aqui a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra (Lc 1,38). 

Na realidade a vida consagrada segue o seu exemplo e se coloca ao serviço do plano divino na doação total de nós mesmos, o exemplo de Maria nos faz correr a socorrer as necessidades humanas e a levar a divino-humanidade de Jesus a quem está à nossa volta.

Dentro do sentido Mariológico dos conselhos evangélicos: pobreza, castidade e obediência, como você consegue contemplar Maria? E em que parte de sua vida podemos enxergar a vivência desses conselhos?

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Responses

  1. Excelente postagem  , Maria e os Conselhos Evangélicos!
    Na anunciação , quando Maria diz : Eis aqui a serva do Senhor, FAÇA-SE em mim segundo a tua palavra, encontramos  a presença nítida dos conselhos evangélicos:
    Maria – Pobre
    Maria – Casta 
    Maria – Obediente
    A doação total e incondicional a Deus  de sua vida.

  2. Olá, boa noite.
    Como filho da mãe da Palavra, aqui eu me encontro, como também no exemplo da mãe, em sua disponibilidade ao Espírito Santo, através da oração eu me coloco à disposição do Espírito Santo para ter um espírito decidido a servir conforme a vontade de Deus.

    Gratidão pelo texto (como é bom sentir o sorriso de uma criança, estou aprendendo a cada dia)!

  3. Maria sempre foi para mim obediente, casta (maternidade virginal e pobre. Sempre a vejo na figura dos mais necessitados, nos mais carentes, nos meus irmãos de rua, principalmente ao me deparar com uma mãe com um criança no colo.
    Vivê-los …. procuro estar atentos as oportunidades que Deus coloca na minha vida. Tenho visto Maria agir na vida de muitos jovens em retiros (acampamentos) onde muitas famílias, graças a Ela, começam um processo de restauração

  4. Ave Maria! Contemplar Maria nos inspira ao mistério de Deus e nos ensina a redescobrir, a partir da liturgia, a beleza de segui-la como modelo para vivenciarmos seus conselhos em nosso dia a dia como presença acolhedora que exprime e revela a verdadeira missão de Mãe.

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