Nossa Senhora Rainha

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Contexto histórico-mariológico

Se o uso das imagens marianas coroadas se difundiu no Ocidente sobretudo no final do século XVI, a atribuição a Maria do título de Rainha pertence à tradição milenar da Igreja: os nomes de Basilissa e Domina foram recebidos pela arte e pela piedade significando a realeza de Maria, assim como poesia e hinologia em sua homenagem. 

O costume de representar a Bem-Aventurada Virgem Maria adornada com um diadema real foi-se afirmando tanto no Oriente como no Ocidente desde o tempo do Concílio de Éfeso (431). Os artistas cristãos muitas vezes pintavam a gloriosa Mãe do Senhor sentada em um trono real, adornada com a insígnia de uma rainha, cercada por uma multidão de anjos e santos. Em tais imagens, o divino Redentor é muitas vezes representado no ato de envolver a Mãe com uma coroa brilhante.

Pensemos nos antigos ícones representando a Virgem entronizada como a Rainha Mãe

que apresenta o seu divino Filho aos fiéis; recordemos o mosaico da abside de Santa Maria Maior em Roma,

onde a gloriosa Mãe de Deus pode ser admirada à direita do Filho, sentada no mesmo trono, recebendo dele a coroa real; ao mosaico de Santa Maria em Trastevere representando Maria como Rainha-Esposa sentada em vestes brilhantes ao lado de Cristo, Esposo e Senhor da Igreja;

até mesmo nas famosas pinturas de Fra Angelico que ilustram a coroação da Mãe pela mão do Filho, Senhor da história.

Todos conhecemos as antífonas medievais: Salve Regina, Regina Caeli e Ave Regina Caelorum.

É certo que a Rainha do Céu não se confunde com os governantes da terra. É um mistério do Reino dos Céus, de que fala a Sagrada Escritura, e que a piedade mariana dos fiéis explicitou através de vários títulos: “Rainha da misericórdia, da paz, dos anjos, dos patriarcas, da profetas, dos apóstolos, mártires, confessores da fé, virgens, todos os santos, a família”.

Instituição da festa

Em 1954, no final do ano mariano do centenário do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII decidiu instituir a festa da Bem-Aventurada Virgem Maria Rainha. De fato, foi o reconhecimento de um movimento eclesial que havia começado e desenvolvido naquela época: o desejo pela festa formulado no Congresso Mariano de Lyon em 1900, reafirmado em Friburgo em 1902 e em Einsiedeln em 1906, suscitou, de fato, impulso renovado após a festa de Cristo Rei, instituída por Pio XI, em 1925. A acentuação da realeza de Maria promovida naquele período, tanto ao nível da devoção como da reflexão teológica, encontrou expressão autorizada na Encíclica Ad coeli Regina de Pio XII, onde são expostas as razões históricas e teológicas subjacentes à adoção da festa, marcada para 31 de maio. Na ocasião, o papa coroou com as suas mãos o ícone da Salus populi romani, venerada em Santa Maria Maior.

A reforma do calendário romano de 1969 atribuiu-lhe o grau de memória obrigatória, transferindo-o para o dia 22 de agosto, oitava da Assunção, para que fosse mais evidente a ligação entre a assunção e a realeza de Maria. 

Significado mariológico da festa

A instituição da festa por Pio XII em 1954 encontrou particular confirmação na Lumen gentium 59: «A Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cf Ap 19,16)».

Nesta festa celebramos que a Virgem Maria, humilde serva, é exaltada no céu como rainha. O senhorio de Maria amadureceu na obediência à vocação materna aceita na Anunciação,  que é o Evangelho da festa Lc 1,26-38, onde o anúncio do Reino do Senhor Jesus trazido pelo Anjo, contém também a vocação dirigida à Serva do Senhor tornar-se Rainha-Mãe.

A afirmação, portanto, tende a reafirmar a analogia entre a missão de Cristo e a de Maria. Na verdade, assim como o reino de Cristo «não é deste mundo» (Jo 18,36), também o poder da realeza de Maria não diz respeito à ordem da natureza, ou seja, ao âmbito político diretamente mas à vida do espírito, comumente conhecido pela vida da graça.

A forma constitui, portanto, uma particular exaltação da realeza da Virgem “bendita entre todas as mulheres”, porque concebeu e deu à luz um Filho (Lc 1, 26-38) cujo “reino não terá fim” (Is 9 , 1-3,5-6). 

A realeza da Virgem torna-se motivo para sublinhar a sua contínua intervenção materna na Igreja e na humanidade, aliás em todo o universo. É sobre esta certeza, portanto, que se move a oração da Igreja quando pede a ajuda de Cristo “Deus homem, que se ofereceu… Cordeiro sem mancha na cruz” (Assim), para alcançar “a glória prometida… o reino dos céus ” pela participação” no banquete eterno ” que constituirá como o último” cumprimento das palavras do Senhor “. 

Liturgia da festa

Antífona de entrada Cf. Sl 44, 10

À vossa direita, Senhor, está a Rainha, revestida de beleza e de glória.

Oração coleta

Senhor nosso Deus,

que nos destes a Mãe do vosso Filho como nossa Mãe e Rainha,

fazei que, protegidos pela sua intercessão,

alcancemos no céu a glória prometida aos vossos filhos.

Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus

e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,

por todos os séculos.

LEITURA I Is 9, 1-6

«Um Filho nos foi dado»

Leitura do Livro de Isaías

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 112 (113), 1-2.3-4.5-6.7-8 (R. 2)

Refrão: Bendito seja o nome do Senhor para sempre.

Ou: Aleluia.

Louvai ao Senhor, servos do Senhor,

louvai o nome do Senhor.

Bendito seja o nome do Senhor,

agora e para sempre.

Desde o nascer ao pôr do sol,

seja louvado o nome do Senhor.

O Senhor domina sobre todos os povos,

a sua glória está acima dos céus.

Quem se compara ao Senhor, nosso Deus,

que tem o seu trono nas alturas,

e Se inclina lá do alto,

a olhar o céu e a terra?

Levanta do pó o indigente

e tira o pobre da miséria,

para o fazer sentar com os grandes,

com os grandes do seu povo.

ALELUIA Lc 1, 28

Refrão: Aleluia. Repete-se

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco;

bendita sois Vós entre as mulheres. Refrão

EVANGELHO Lc 1, 26-38

«Conceberás e darás à luz um Filho»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Palavra da salvação.

Oração sobre as oblatas

Nós Vos oferecemos, Senhor, os nossos dons

na memória da Virgem santa Maria,

e Vos pedimos que venha em nosso auxílio o vosso Filho feito homem,

que a Vós Se ofereceu na cruz como oblação imaculada.

Ele que vive e reina pelos séculos dos séculos.

PREFÁCIO DE NOSSA SENHORA I

A maternidade divina de Maria

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

V. Demos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,

é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação

dar-Vos graças, sempre e em toda a parte

e louvar-Vos, bendizer-Vos e glorificar-Vos

na memória da Virgem Santa Maria Rainha.

Pelo poder do Espírito Santo

Ela concebeu o vosso Filho Unigênito

e, sem perder a glória da sua virgindade,

deu ao mundo a luz eterna, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Por Ele, numa só voz, os Anjos e os Arcanjos

e todos os coros celestes

proclamam alegremente a vossa glória.

Permiti que nos associemos às suas vozes,

cantando humildemente o vosso louvor:

Santo, Santo, Santo,

Senhor Deus do universo.

O céu e a terra proclamam a vossa glória.

Hossana nas alturas.

Bendito O que vem em nome do Senhor.

Hossana nas alturas.

Antífona da comunhão Cf. Lc 1, 45

Bendita sejais, ó Virgem Maria, que acreditastes na palavra do Senhor.

Oração depois da comunhão

Alimentados com os sacramentos celestes,

humildemente Vos suplicamos, Senhor,

que mereçamos participar no banquete eterno

nós que celebramos a memória da Virgem Santa Maria.

Por Cristo nosso Senhor.

Para meditação

Das Homilias de Santo Amadeu de Lausana, bispo (Sec. XII)

(Hom 7)

Rainha do mundo e da paz

Considera como se difundiu em toda a terra o admirável nome de Maria, ainda antes da sua assunção, e se estendeu por toda a parte o esplendor da sua glória imortal, ainda antes de ser elevada acima dos céus com toda a magnificência. Convinha, na verdade, que a Virgem Mãe, para honra de seu Filho, reinasse primeiramente na terra e assim entrasse finalmente na glória do Céu; convinha que fosse enaltecida neste mundo, para ser depois glorificada na santa plenitude dos bens celestes, e assim como na terra progredia sempre de virtude em virtude, assim no Céu fosse exaltada de glória em glória pela acção do Espírito do Senhor.

Por isso, durante a sua vida mortal, Ela saboreava antecipadamente as primícias do reino futuro, ora elevando-se até Deus em sublime exaltação de espírito, ora descendo ao cuidado do próximo com imensa caridade. Lá do Céu era assistida pelos Anjos; cá na terra era venerada e honrada pelos homens. Lá do Céu, Gabriel e os Anjos prestavam-lhe assistência; na terra, João sentia-se feliz por lhe ter sido confiada pelo Senhor, suspenso da cruz, a Virgem Mãe e, juntamente com os Apóstolos, a tomava a seu cuidado. Os Anjos alegravam-se por contemplar a sua Rainha; os homens por ver a sua Senhora; e uns e outros a honravam com sentimentos de piedosa devoção.

Situada na altíssima fortaleza das virtudes e enriquecida com o mar inesgotável dos carismas divinos, Ela derramava em abundância sobre o povo fiel e sequioso a torrente das suas graças, que superavam as de todas as outras criaturas. Dava saúde aos corpos e remédio às almas e podia ressuscitar da morte corporal e espiritual. Quem alguma vez se afastou d’Ela doente ou triste ou sem o conforto dos mistérios celestes? Quem não voltou contente e alegre para sua casa, depois de ter alcançado de Maria, Mãe do Senhor, o que desejava?

Enriquecida de bens superabundantes, a Esposa, a Mãe do único Esposo, suave e agradável, cheia de delícias, como uma fonte dos jardins espirituais, como uma nascente de águas vivas e vivificantes que brotam torrencialmente do Líbano divino, desde o monte Sião até às nações estrangeiras em redor, para toda a parte fazia derivar rios de paz e torrentes de graça celeste. Por isso, quando a Virgem das virgens era elevada ao Céu por Aquele que era o seu Deus e o seu Filho, o Rei dos reis, por entre a exultação dos Anjos, a alegria dos Arcanjos e a aclamação de todos os bem aventurados, então se cumpria a profecia do Salmista que diz ao Senhor: À vossa direita está a rainha, revestida com manto de ouro, resplandecente de beleza.

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