A Esperança nas cartas católicas

Introdução

A esperança cristã é um dos pilares centrais da vida de fé. Nas chamadas “Epístolas Católicas” — Tiago (Jacó), Primeira de Pedro, Judas e Segunda de Pedro — encontramos ensinamentos que fortalecem a confiança no futuro, o compromisso com a vida comunitária e a perseverança diante das provações. Neste artigo, exploraremos esses textos para mostrar como a esperança molda a prática cristã.

Tiago: a fé que produz perseverança

O autor de Tiago, tradicionalmente chamado de Jacó em muitas traduções literais, orienta a comunidade cristã a viver a fé de forma autêntica e perseverante. A esperança está entrelaçada na paciência e fidelidade, mesmo em meio às provações.

1.1 Tiago

Tiago 1,1-4

“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que estão na diáspora, saudações.
Considerai, irmãos meus, tudo como alegria quando cairdes em várias provações, sabendo que a aprovação da vossa fé produz perseverança.
Mas a perseverança tenha a obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, em nada faltando.”

Tiago 1,8-12

“Homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.
Mas o irmão de condição humilde exulte na sua exaltação; e o rico, na sua humilhação, porque passará como a flor da erva.
Pois o sol se levanta com ardor, seca a erva e a flor dela cai, e a beleza do seu aspecto perece; assim também murchará o rico em seus caminhos.
Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, ao ser aprovado, receberá a coroa da vida, a qual Ele prometeu aos que O amam.”

Tiago 4,13-16; 5,7-11

Tiago 4,13-16
“E agora vós, que dizeis: ‘Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos lá um ano, negociaremos e lucraremos’; vós que não sabeis o que será amanhã. Pois que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.’ Mas agora vos gloriais em vossas arrogâncias; toda glória tal é maligna.”

Tiago 5,7-11
“Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede também vós pacientes, fortalecei vossos corações, pois a vinda do Senhor está próxima.
Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados; eis que o juiz está às portas. Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e de paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que chamamos bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes da perseverança de Jó e vistes o fim dado pelo Senhor, pois o Senhor é muito compassivo e misericordioso.”

Na Epístola de Tiago, a esperança é sinal de firmeza interior diante das adversidades. É uma virtude que caminha lado a lado com a paciência, levando o crente à “perfeição” (plenitude) em Cristo.

2. I Epístola de Pedro: A herança incorruptível

Na Primeira Carta de Pedro, a esperança está particularmente voltada para a realidade do sofrimento. Os fiéis, ainda que estrangeiros neste mundo, são convidados a viver segundo a graça de Deus e a manter o testemunho vivo de sua fé.

2.1 1 Pedro

1 Pedro 1,1; 2,11

1,1
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos forasteiros da Diáspora, em Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia…”

2,11
“Amados, exorto-vos como estrangeiros e peregrinos que sois, a vos absterdes dos desejos carnais que combatem contra a alma.”

1 Pedro 1,3-5; Tito 3,4-7

1 Pedro 1,3-5
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma esperança viva mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação pronta para se revelar no último tempo.”

Tito 3,4-7
“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pelos homens, não por obras de justiça que nós tivéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, Ele nos salvou pelo banho da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que Ele ricamente derramou sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, nos tornemos herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.”

1 Pedro 1,13-17

“Por isso, cingi os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos conformeis às paixões anteriores, no tempo da vossa ignorância; mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo procedimento, porque está escrito: ‘Sede santos, porque eu sou santo.’ E se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, conduzi-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação.”

1 Pedro 1,18-21

“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento herdado de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de cordeiro sem defeito e sem mancha, o qual, na verdade, foi conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado no fim dos tempos por amor de vós, que por meio dele credes em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de modo que a vossa fé e esperança estejam em Deus.”

1 Pedro 2,20-25; 4,12-19

2,20-25
“Pois, que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, suportais com paciência? Mas, se fazendo o bem, padeceis e o suportais, isso é aceitável diante de Deus. Para isso fostes chamados, pois também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos; Ele não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; quando insultado, não retribuía com insultos, quando sofria, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga retamente; Ele mesmo carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Bispo das vossas almas.”

4,12-19
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge entre vós para vossa provação, como se algo estranho vos estivesse acontecendo; mas alegrai-vos por serdes participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis exultando. Se sois injuriados por causa do nome de Cristo, bem-aventurados sois, porque o Espírito da glória e de Deus repousa sobre vós. […] Por isso também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem.”

A esperança cristã, segundo Pedro, não se limita à vida eterna, mas orienta toda a conduta diária do fiel. Confiar em Deus significa viver de modo santo, servindo à comunidade e suportando os sofrimentos com Cristo como modelo.

3. Judas e II epístola de Pedro: defesa da parúsia e vida santa

Tanto Judas quanto a Segunda Carta de Pedro abordam a parúsia (a vinda do Senhor) e a firmeza na esperança cristã. Elas condenam os que zombam dessa promessa e exortam os fiéis a perseverar em fé, amor e oração.

3.1 Judas e 2 Pedro

Judas 16-18; 20-21

16-18
“Estes são murmuradores, queixosos, andando segundo as suas paixões, e a sua boca profere arrogâncias, adulando pessoas por interesse. Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que antes foram ditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: ‘Nos últimos tempos haverá escarnecedores, andando segundo as suas próprias paixões ímpias.’”

20-21
“Mas vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.”

2 Pedro 3,3-4

“Primeiramente sabei que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria, andando segundo as suas próprias paixões, e dizendo: ‘Onde está a promessa de sua vinda? Pois desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.’”

2 Pedro 1,16-21

“Pois não seguimos fábulas engenhosamente inventadas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade. Pois Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a voz: ‘Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.’
E nós mesmos ouvimos esta voz vinda do céu quando estávamos com Ele no monte santo. E temos ainda mais firme a palavra profética, à qual fazeis bem em prestar atenção, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva surja em vossos corações; sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal; pois jamais a profecia foi produzida por vontade humana, mas homens santos falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo.”

2 Pedro 3,10-13

“Virá, porém, o dia do Senhor como ladrão; no qual os céus passarão com estrepitoso ruído, e os elementos ardendo se dissolverão, e a terra e as obras nela expostas serão descobertas. Visto que todas estas coisas hão de ser assim dissolvidas, que tipo de pessoas deveis ser em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual os céus em fogo serão desfeitos, e os elementos ardendo se derreterão! Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.”

A esperança aqui se concretiza na certeza da parúsia. Vivê-la exige perseverança, oração e vigilância — virtudes fundamentais para quem anseia pelos “novos céus e nova terra” onde reinará a justiça.

Conclusão

A esperança, conforme descrita nessas Epístolas Católicas, não é um sentimento passageiro, mas uma virtude que molda atitudes, relacionamentos e a própria visão de mundo do cristão. Seja pela firmeza nas provações (Tiago), pela consciência de uma herança celeste (1 Pedro) ou pela expectativa da parúsia (Judas e 2 Pedro), a esperança nos impulsiona a viver de maneira santa, amorosa e perseverante.

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