A contemplação no coração de Maria para a missão
O contexto missionário da contemplação de Maria
O anúncio do “Evangelho” aos pobres: “Não temais, porque eis que vos trago uma boa nova de grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). “Então foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino, deitado na manjedoura” (Lc 2,16).
O anúncio do Evangelho a todos os povos: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,1). “E entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,11).
O anúncio do Evangelho na sinagoga de Nazaré: “Dirigiu-se a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como de costume, e se levantou para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde estava escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim; porque me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a proclamar libertação aos cativos‘” (Lc 4,16-18). “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria?” (Mc 6,3).
A atitude contemplativa e missionária de Maria
“Maria, porém, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19). “Ele desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas essas coisas no coração” (Lc 2,51).
Na Anunciação, Maria assume uma atitude de silêncio meditativo e de abertura aos planos de Deus (Lc 1,29), expressa na fidelidade à Palavra divina (Lc 1,38). As atitudes expressas no Magnificat podem ser resumidas na pobreza bíblica manifestada em forma de louvor, agradecimento e esperança (Lc 1,46ss). Diante das palavras proféticas de Simeão, Maria, junto com São José, proclama sua admiração pelos desígnios de Deus (Lc 2,33-34). O silêncio contemplativo de Maria (em Belém e no templo) indica uma atitude de adoração e oferta (Lc 2,19; 2,51). A pergunta de Maria ao encontrar Jesus no templo será uma ocasião para que Jesus faça referência ao mistério redentor (mistério pascal) (Lc 2,48). Em Caná, Maria manifesta uma atitude de caridade suplicante ou de intercessão, sintonizada com as necessidades dos irmãos, sempre na perspectiva dos planos salvíficos de Deus (Jo 2,3ss).
“Diante do leitor orante da Palavra de Deus, ergue-se idealmente o perfil de Maria, a mãe do Senhor, que ‘guardava todas essas coisas, meditando-as no seu coração’ (Lc 2,19; cf. 2,51), ou seja, como diz o original grego, encontrando o vínculo profundo que une eventos, atos e coisas, aparentemente desconexos, no grande desígnio divino” (Mensagem final do Sínodo sobre a Palavra, n.9).
“O diálogo, quando se refere à Revelação, implica a primazia da Palavra de Deus dirigida ao homem… O homem responde a Deus em plena liberdade com a obediência da fé (cf. Rm 1,5; 2 Cor 10,5-6; DV 5). Maria, Mãe de Jesus, personifica essa obediência da fé de maneira exemplar, sendo também o arquétipo da fé da Igreja que escuta e acolhe a Palavra de Deus” (Sínodo dos Bispos, Proposição 4: Dimensão dialógica da Revelação).
“Maria… modelo de fé vivida” (TMA 43). “Devemos imitar a contemplação de Maria, que, após a peregrinação à cidade santa de Jerusalém, retornava à casa de Nazaré, meditando no coração o mistério do Filho (cf. Lc 2,51)” (NMi 59).
Um itinerário para unificar o coração: “lectio divina“, dimensão mariana. Um coração unificado que transforma a vida em um hino de amor e paz (Magnificat: Lc 1,46-55). A alegria de pertencer aos desígnios salvíficos de Deus (Lc 1,46-47). Maria se deixa surpreender por Deus (cf. Lc 1,29) e faz da vida um “sim” (Lc 1,38). Não antepor nada a Deus. Em sintonia com as necessidades dos irmãos (Jo 2,3: “eles não têm mais vinho”). Em sintonia com Jesus (Jo 2,5: “fazei tudo o que ele vos disser“). A “mulher” associada a Cristo Redentor (Jo 2,4; 19,26). O silêncio contemplativo de Maria (em Belém e no templo) indica uma atitude de adoração e oferta. Itinerário aprendido nas Escrituras: “Tua palavra é a alegria do meu coração” (Jr 15,16); “minha porção… é guardar tuas palavras” (Sl 119,57).
A contemplação missionária da Igreja à imitação de Maria
A Igreja, em sua missão evangelizadora, encontra em Maria um modelo exemplar de contemplação que impulsiona à ação. Assim como Maria meditou e guardou no coração os mistérios da vida de Cristo, a Igreja é chamada a contemplar profundamente a Palavra de Deus e os mistérios da fé, para que, fortalecida e iluminada por essa reflexão, possa anunciar o Evangelho ao mundo com zelo e fidelidade.
A contemplação de Maria não a isolou, mas a preparou para a missão de ser Mãe do Redentor e colaboradora na obra da salvação. Do mesmo modo, a Igreja, ao contemplar os mistérios de Cristo, é chamada a sair de si mesma, em missão, levando a todos os povos a mensagem de salvação. A oração, a meditação e a escuta da Palavra são fundamentais para que a Igreja, tal como Maria, possa discernir a vontade de Deus e responder com generosidade e coragem.
Maria, presente em todos os momentos decisivos da vida de Cristo, desde a Anunciação até Pentecostes, ensina à Igreja que a verdadeira missão nasce da contemplação. É na intimidade com Deus, na escuta atenta e no silêncio orante que se encontra a força para ser testemunha fiel de Cristo no mundo.
Portanto, à imitação de Maria, a Igreja é chamada a unir contemplação e ação, garantindo que sua missão seja sempre enraizada na oração e na profunda comunhão com Deus, para que, assim, possa levar a salvação a todos os cantos da Terra.
A contemplação missionária da Igreja à imitação de Maria
“A Igreja, contemplando Maria à luz do Verbo encarnado, penetra com reverência e mais profundamente no altíssimo mistério da Encarnação e conforma-se cada vez mais ao seu Esposo” (LG 65). Maria está no coração da Igreja (RMa 27). “Que a alma de Maria magnifique o Senhor em cada um de nós, que o espírito de Maria exulte em Deus em cada um de nós” (Santo Ambrósio). “A Igreja é o berço onde Maria deposita Jesus e o confia à adoração e à contemplação de todos os povos” (IM 11).
Maria, “Mãe através da Igreja” (RMa 24, LG 65). “A Igreja aprende de Maria a sua própria maternidade” (RMa 43). O apostolado mariano se caracteriza por atitudes como a fidelidade (à Palavra, ao Espírito Santo), a associação esponsal com Cristo, a oblação e a esperança.
“Muitas vezes nestes anos eu a apresentei e invoquei como ‘Estrela da nova evangelização’. Continuo a apontá-la como a aurora luminosa e guia segura do nosso caminho” (NMi 58).
Portanto, “assim como os Apóstolos após a ascensão de Cristo, a Igreja deve reunir-se no Cenáculo ‘com Maria, a Mãe de Jesus’ (At 1,14), para implorar o Espírito e obter força e coragem para cumprir o mandato missionário” (RMi 92).
A presença de Maria no caminho missionário da Igreja é uma continuação do evento evangélico narrado por João após o milagre de Caná: “Jesus realizou esse primeiro milagre em Caná da Galileia, manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disso, desceu para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,11-12). A sequência evangélica, que visa compartilhar a mesma vida apostólica de Cristo, é uma consequência do convite de Maria: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5).
Segundo a doutrina conciliar do Vaticano II, Maria “precede” o caminho missionário da Igreja e “assim, na terra, brilha agora diante do povo de Deus peregrinante como sinal de segura esperança e de consolação” (LG 68). Por isso, “todos os fiéis devem dirigir insistentes preces à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que, depois de ter assistido com suas orações a Igreja nascente, também agora, exaltada no céu… interceda junto ao seu Filho, até que todas as famílias dos povos… sejam felizes e reunidas em um só povo de Deus, para a glória da santíssima e indivisível Trindade” (LG 69).
A ação evangelizadora da Igreja possui e manifesta sua realidade mariana e materna, pois a Igreja imita Maria “que gerou Cristo, concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem para nascer e crescer também no coração dos fiéis por meio da Igreja” (LG 65).
“O Sínodo, que visa antes de tudo renovar a fé da Igreja na Palavra de Deus, olha para Maria, a Virgem Mãe do Verbo Encarnado, que com o seu ‘sim’ à Palavra da Aliança e à sua missão, cumpre perfeitamente a vocação divina da humanidade. Os Padres Sinodais sugerem que se difunda entre os fiéis a oração do Angelus como uma memória diária do Verbo Encarnado e do Rosário.
A Igreja do Novo Testamento vive onde a Palavra encarnada é acolhida, amada e servida em plena disponibilidade ao Espírito Santo. A fé de Maria desenvolve-se no amor com o qual ela acompanha o crescimento e a missão do Verbo Encarnado. Sob a cruz do Filho, a fé e o amor tornam-se a esperança com a qual Maria aceita tornar-se a Mãe do discípulo amado e da humanidade redimida.
A atenção devota e amorosa à figura de Maria como modelo e arquétipo da fé da Igreja é de importância capital para realizar também hoje uma mudança concreta de paradigma no relacionamento da Igreja com a Palavra, tanto na atitude de escuta orante quanto na generosidade do empenho pela missão e pelo anúncio. Os Padres Sinodais, unidos ao Santo Padre em oração para que o Sínodo “possa trazer frutos de renovação autêntica em cada comunidade cristã” (Bento XVI, Angelus em Pompeia, 19 de outubro de 2008), convidam pastores e fiéis a olhar para Maria e pedir ao Espírito Santo a graça de uma fé viva na Palavra de Deus feita carne” (Sínodo dos Bispos, Proposição 55: Maria Mater Dei et Mater fidei).
Que maravilha de artigo, prof Dr. Daniel, meu prof. na Locus Mariologicus na especialização em Mariologia. Como seu aluno, posso dizer (afirmar), que as aulas de Paulo e Marcos me trouxeram luz novamente sobre o plano salvífico do Pai e sua sabedoria divina, de.enviar Jesus através de uma mulher e sob a Lei. No primeiro caso, Deus deu uma lição em Satanás, que caiu por não querer servi-lo e, em Maria, em sua humilde e pronta obediência, Deus noa mostrou o exemplo perfeito de apostolado. Ouvindo a palavra, acolhendo-a e agindo no plano de salvação.