Arqueologia da Dormitio Mariae (Assunção)

No que diz respeito aos lugares da Dormição de Maria, eles são identificados com a atual Igreja da Tumba da Virgem, que nada mais é do que a cripta da igreja do mosteiro cruzado de Santa Maria de Josafá, agora destruído. Esta cripta possui um belo portal externo e uma escadaria larga de seis metros, composta por mais de quarenta degraus e coberta por um teto abobadado; à direita e à esquerda da escadaria, abrem-se duas capelas que contêm os túmulos das Rainhas do Reino de Jerusalém e que hoje são venerados como os sepulcros de São José, São Joaquim e Santa Ana. O sepulcro da Virgem propriamente dito é um bloco de pedra, isolado do banco rochoso, com altura entre um metro e cinquenta e um metro e oitenta; apresenta duas aberturas que servem de passagem para os peregrinos. A rocha sobre a qual foi depositada a Virgem é protegida por um cristal, pois foi corroída pelos séculos e pela devoção dos fiéis que, por devoção, retiravam dela brandea, ou seja, pequenos pedaços. O furo no teto da gruta serve como ventilação para a fumaça das velas e das lâmpadas, mas também tem o significado simbólico de abertura para o céu, para onde a Virgem foi assumida.

Os documentos antigos concordam em descrever o sepulcro da Virgem como novo e situado perto do Getsêmani. Divergem, no entanto, ao identificar o local de partida do cortejo fúnebre. Para os documentos dos séculos II e III, de matriz judeu-cristã, a Virgem teria adormecido em sua casa, situada perto de Jerusalém, na área do Vale de Josafá chamada Magdalia; os textos joaninos dos séculos IV e V fazem o Trânsito mariano ocorrer na casa dos parentes de João, no Monte das Oliveiras, onde a Mãe de Deus estava hospedada; finalmente, os documentos bizantinos do século V e seguintes situam a morte da Virgem no Monte Sião. A hipótese de que a Virgem viveu e adormeceu no Monte Sião encontrou recentemente um defensor em Bargil Pixner.

O arqueólogo sul-tirolês destacou que, sob a atual Basílica da Dormição, construída em 1898, foram encontradas as fundações de Santa Maria de Sião dos Teutônicos, o mosaico do átrio da basílica bizantina de Hagia Sion, um local sepulcral anterior a 70 d.C. correspondente à Casa de Maria nos documentos calcedonianos e, em 1983, uma estrada, também anterior a 70 d.C., escavada na rocha que corria de norte a sul, a vinte metros a oeste da Dormição, ao longo da qual se erguiam casas muito simples de pedra bruta, entre as quais uma, no lado oriental, possuía um banho ritual judaico com uma meia coluna erguida no centro. Dada a presença dos cristãos no Monte Sião, Pixner acredita que a casa em questão seja a da Virgem, pois nas fontes calcedonianas lemos a notícia – sem dúvida autêntica, pois enraizada na tradição judaica – de que a Mãe de Deus tomou um banho purificador após a revelação do dia de seu trânsito.

Os trabalhos de restauração do tradicional túmulo da Virgem, realizados em 1972, permitiram uma inspeção do ambiente, que se mostrou conforme à descrição dos textos mais antigos e, portanto, autêntico, datando do século I. O túmulo é uma caverna de pedra e um sepulcro escavado na rocha, conforme descrito pelas testemunhas oculares citadas nas fontes. O banco rochoso ficava sob o arcosólio; o túmulo pertence a um complexo funerário cujos restos se encontram num nível superior, além da parede norte da atual igreja bizantina: é uma câmara do século I, a kokhim, a dois metros e quarenta do nível da igreja atual, que devia ser precedida por um vasto átrio a oeste, aberto para o Cedron, com escadas de acesso aos lados, cujos restos são visíveis tanto ao norte quanto ao sul. A descrição literária e os achados arqueológicos são conformes a outros complexos funerários daquele vale e do mesmo período, como o Túmulo da família de Ben Hazir, chamado de Zacarias ou de São Tiago, e o monumental dos Reis, também conhecido como de Helena de Adiabene.

O complexo mariano permaneceu intacto até que Teodósio isolou o túmulo da Theotokos, liberando-o dos outros túmulos e colocando-o no centro da igreja bizantina em forma de cruz. O edifício, retirado dos ebionitas, foi administrado pelos joaninos, que purificaram os textos sobre a Dormição referentes ao ciclo de Leucio e modificaram os ritos funerários comemorativos, realizando-os em parte sobre o Monte das Oliveiras, precisamente na área do Monte chamada Galiléia. Aqui, em 1889, foi encontrado um pavimento de mosaico de uma capela funerária, identificada com o santuário dedicado ao Anjo que apareceu a Maria para anunciar-lhe a iminente Dormição e entregar-lhe a palma a ser levada diante de seu féretro. Esta capela é do século V. No mesmo local, foi encontrada uma característica igreja de estilo oriental, também fundada no século V e que durou até a Idade Média, provavelmente a casa dos parentes de João, onde a Mãe de Cristo teria adormecido.

Os cristãos realizavam serviços nesse local antes de descer ao Getsêmani para celebrar a Dormição. Havia, portanto, três locais de culto: a Basílica sepulcral, a Igreja da Dormição e o Santuário do Anjo. Em 453, a Basílica e suas dependências passaram para os calcedonianos por vontade do arcebispo Juvenal, que instituiu localmente a solenidade da Assunção, depois estendida a toda a Igreja pelo imperador Maurício (582-602), que construiu sobre a igreja rupestre teodosiana uma segunda basílica de grande beleza em forma circular, infelizmente destruída pelos Persas no fatídico 614. Sobreviveu apenas a cripta sepulcral sobre a qual os beneditinos, entre 1112 e 1130, edificaram a mencionada igreja cruzada com o anexo mosteiro de Santa Maria de Josafá. Os monges deram uma nova entrada à antiga cripta. No entanto, a igreja cruzada foi destruída por Saladino após 1187, poupando apenas a cripta em honra da “Beatíssima Mãe do profeta Jesus”.

Resumindo, a meu ver, o lugar mais provável onde a Virgem viveu após a Ressurreição de Jesus foi, sem dúvida, Magdalia, porque as fontes mais antigas atestam esse local. As evidências arqueológicas nunca foram procuradas, mas não são indispensáveis. Isso não exclui a possibilidade de que a Virgem tenha vivido também em outros lugares em Jerusalém, hospedada por diferentes amigos, especialmente porque a existência de um bairro cristão próximo ao essênio na cidade não significa que os cristãos não pudessem estar distribuídos em outros locais, talvez em razão das origens sociais e da escolha, ou não, de aderir à forma de vida monástica conduzida em comum nos primeiros tempos.

A presença de um banho ritual em uma casa no Sião não a torna necessariamente a da Virgem, mas não se pode excluir que Maria tivesse uma moradia, bastante essencial, entre os batizados que escolheram viver em comunidade, a pouca distância do Cenáculo, e que, por isso, pudesse realizar as abluções prescritas. A localização da casa dos Parentes de João no Monte das Oliveiras parece mais sólida. Ali, a Mãe de Deus pôde passar alguns períodos da última fase de sua vida e também ter as visões descritas nos textos apócrifos antes de sua Dormição. No entanto, o Trânsito ocorreu em Magdalia. Dali partiu o cortejo fúnebre para o sepulcro, cuja localização, como vimos, não há dúvida. Pode-se deduzir que a Virgem se movesse entre várias casas de amigos, o que é normal para uma viúva sem seu único Filho, mas cercada por um sólido clã familiar e um círculo estreito de amigos, unidos pela profissão de uma Fé nascida entre eles.

Não considero fundamentada a opinião de quem coloca a Dormição da Virgem em Éfeso. Embora não se possa excluir que, numa fase inicial de seu apostolado na Ásia Menor, João tenha levado a Virgem Maria consigo, talvez para protegê-la dos perigos da primeira perseguição de 42, ordenada por Herodes Agripa, e que, portanto, a Casa a Ela dedicada na metrópole grega (a Meryem Ana), datada do século I, possa realmente tê-la abrigado – apesar do silêncio dos Padres antigos sobre isso e da negação explícita da presença da Mãe de Deus em Éfeso feita por Epifânio –, é absolutamente indubitável que a Dormição ocorreu em Jerusalém, presumivelmente durante o período do Concílio de Jerusalém (48) e, no máximo, até cerca de 50. Essas datas permitem contextualizar a presença de todos os Apóstolos no Trânsito mariano, como atestam os documentos assuncionistas.

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