As orações mariológicas do Advento

O que é uma Eucologia?

Este termo deriva do grego euché = oração e logos = discurso) significa propriamente a ciência que estuda as orações e as normas que regem sua formulação. Em sentido menos próprio, mas já de uso comum, eucologia é o conjunto de orações contidas em forma litúrgica, em livro ou, em geral, nos livros de uma tradição litúrgica. Aqui nos referimos às fórmulas litúrgicas de oração em sentido estrito, não às fórmulas litúrgicas em geral (hinos, antífonas, responsórios). Na liturgia existe um conjunto de textos muito diversificados pela origem, gênero literário e também pelo tipo de uso que a liturgia faz deles. Pelo mesmo motivo, nos textos litúrgicos é necessário distinguir sobretudo os seus vários gêneros literários: podemos fazer uma primeira divisão em dois grandes grupos, conforme se trate de textos que a Igreja tira directamente da Bíblia ou de fórmulas que ela cria expressamente para o seu culto. Ao primeiro grupo pertencem as leituras bíblicas e os cânticos bíblicos; ao segundo, todas as outras fórmulas compostas pela igreja, sejam elas textos eucológicos ou textos poéticos.

Como se dividem as eucologias?

A eucologia é geralmente dividida em menor e maior. O conjunto de orações simples pertence à eucologia menor: por exemplo, a oração coleta, a oração sobre as oferendas, a oração após a comunhão, a oração de bênção sobre o povo. À eucologia maior orações mais complexas como pertencem prefácios, orações eucarísticas, bênçãos solenes. Em geral, em cada formulário litúrgico, e respectivamente em cada livro litúrgico, é sempre possível distinguir a eucologia maior e menor.

Eucologias do Advento

No tempo do advento – um dos períodos de maior beleza do missal – as mais belas pérolas da antiga eucologia voltaram à vida, inspiradas nos sermões de S. Leão Magno, juntamente com o melhor reflexo da tradição cristã – bíblica, teológica, espiritual – e fundiu-se nos mais importantes sacramentários (Veronese, antigo Gelasiano, Gregoriano-Adriano, Rolo de Ravena, entre outros). Nessas formas, literariamente muito densas, muitas vezes em um espaço estreito encontramos conteúdos doutrinariamente amplos e localizam-se elementos riquíssimos.

Estes textos inserem o advento litúrgico na história da salvação, ou seja, pretendem atualizar e traduzir os anúncios bíblicos e ulteriores intuições na oração. Ainda que o colorido primário das celebrações seja dado pelas leituras proclamadas, a eucologia tem uma relevância indubitável não só pela sua riquíssima inspiração, mas também porque é a linguagem do louvor e da intercessão. Limitaremos nossas observações aos dois tipos mais significativos: os prefácios e as coletas.

Os prefácios 

Os prefácios são de grande importância porque condensam os temas essenciais do tempo litúrgico, fornecem motivos de ação de graças e podem ser entendidos como a estrutura de suporte de todas as articulações desenvolvidas pelas orações. 

Aos prefácios do missal de Paulo VI (I e II do advento), acrescentam-se mais dois (IA e IIA): 

  • os primeiros (I e IA) são para o advento escatológico;
  • o segundo (II e IIA) para os dias do advento do Natal.

O Prefácio I apresenta, em um texto entrelaçado, a cadeia das etapas fundamentais da historia salutis (história da salvação) entre o cumprimento da antiga promessa (o primeiro advento é uma expressão abrangente do mistério da salvação realizada na carne do Filho) e o cumprimento definitivo (virá novamente) onde a história da igreja é inserida. Para evidenciar a dialética entre o e o ainda não e mostrar seu avanço, as duas vindas são vistas ao mesmo tempo em paralelo e em oposição: por meio do percurso literário destaca-se a diferença e, ao mesmo tempo, a relação entre as duas manifestações de Cristo. A encarnação, enquanto cumprimento das promessas, já é garantia de salvação eterna e penhor de poder gozar da plenitude de Cristo, quando Ele for tudo em todos.

O prefácio IA – especialmente adequado ao 1º Domingo – tem como tema a parusia de Cristo, Senhor e juiz da história. O juízo já está presente e atuante:

«agora Ele vem ao nosso encontro, em cada homem e em cada tempo, para que o acolhamos na fé e testemunhemos no amor a bem aventurada esperança do seu Reino».

A visão é vasta: toda a história é o mistério do advento que, por sua vez, se irradia ao longo dos séculos. Olhar para o destino futuro ilumina o presente e implica consequências no compromisso cristão. São temas presentes na Gaudium et spes e no magistério recente.

O Prefácio II está em sintonia com a alegre expectativa da encarnação, Cristo figura no centro do mistério. Na primeira parte da embolia, o Messias é sujeito do anúncio dos profetas, da espera e preparação na Virgem mãe, do anúncio e apresentação do Batista (a progressão culmina com a presença no mundo de Emmanuel). Na segunda parte, Cristo é o sujeito ativo na preparação para a celebração do memorial de sua vinda, onde a mediação da Virgem se expressa em uma bela síntese que destaca sua cooperação na encarnação. A espiritualidade da espera caracteriza-se pela vigilância, oração e louvor, alegria.

O Prefácio IIA é mariano e, portanto, especialmente adequado para o quarto domingo e para os dias que comemoram a Anunciação e a Visitação. Maria é apresentada como a nova Eva e a filha de Sião. Esses dois títulos evocam os temas que, desde o tempo dos Padres da Igreja, a reflexão cristã a esse respeito trouxe à tona. Virgem fecunda e mãe universal da vida, é fonte de bênção para toda a humanidade. Nesta Mariologia rezada, o papel de Maria está no mistério, porque ela faz parte do centro que é Cristo.

As orações coletas

Essas perspectivas básicas reaparecem, amplificadas por riquíssimas ressonâncias, nas orações. Nelas, o advento é apresentado como uma preparação para a vinda de Cristo, uma vinda que às vezes não é mais especificada, mas que geralmente é identificada com a encarnação ou o retorno glorioso no fim dos tempos. No entanto, devemos recordar que a liturgia contempla ambas as vindas de Cristo em íntima relação entre si: a celebração do nascimento de Jesus prepara-nos para o encontro definitivo com Ele.

As duas vindas de Cristo

Na primeira parte do Advento, a oração da Igreja está fortemente impregnada de sentido escatológico. Convém agrupar esta complexidade temática em duas perspectivas: 

  • o mysterium salutis ou as realidades salvíficas operadas pelo Pai no Filho enviado ao mundo;
  • o caminho da Igreja que vai ao encontro do seu Senhor.

O Senhor que vem 

É o tema mais importante e uma das máximos da Escritura. O verbo ‘vir’ significa a intervenção de Deus na história e equivale à vinda salvífica de Cristo. Por isso a expressão se repete com frequência nas orações. 

  • Cristo é enviado como dom do Pai (1º domingo; 1º sábado; 2ª e 3ª segunda-feira; 17 de dezembro);
  • viver entre nós (1ª terça-feira; 2ª quarta-feira; 23 de dezembro);
  • visitar seu povo (3ª segunda-feira);
  • para salvar (quinta e sexta-feira da III semana);
  • renovar o mundo (17 de dezembro);
  • fazer de nós novas criaturas (III terça-feira);
  • a sua vinda é para libertar os homens do pecado (tema da Páscoa; quinta, sexta e sábado da I semana; 18 e 21 de dezembro);
  • vencer as trevas e iluminar (tema batismal; sexta-feira e sábado da III semana; III segunda-feira);
  • implementar a reconciliação;
  • quando virá na glória (dimensão escatológica; I domingo; II sábado; 19 e 21 de dezembro);
  • ele nos chamará para o seu lado (I Domingo);
  • introduzindo-nos no reino (II domingo; 17 de dezembro);
  • então ele mesmo nos servirá (I quarta-feira);
  • a paz será para nós (III quinta-feira).

O caráter pascal da Encarnação é tão evidente quanto esquecido e desconsiderado na espiritualidade e na pastoral: a eucologia orienta e recorda continuamente a relacioná-la com o centro dinâmico do ano litúrgico, a fim de evitar a fragmentação do mistério de Cristo em mistérios particulares.

A igreja vai ao encontro do Senhor 

Vamos ao encontro do Senhor que vem. Os modelos são tirados do Evangelho: 

  • as parábolas das dez virgens (Lc 25,11; II sexta-feira);
  • os servos que o patrão encontra vigilantes na sua chegada repentina (Lc 12,35-40; I segunda-feira);
  • os comensais dignos de entrar no banquete eterno, no qual Cristo servirá à mesa (Lc 12,35-48; I quarta-feira).

Maria, esperando a primeira vinda, é o tipo da Igreja que espera a segunda vinda: confia-se à palavra de Deus e, pelo Espírito Santo, torna-se templo da nova aliança. À imagem de Maria a Igreja adere humildemente à voz do Pai (20 de dezembro).

A espera da igreja é vivida:

na fé (II quinta-feira; 19 e 22 de dezembro);
é reavivado pela esperança (24 de dezembro);
está vigilante (II sexta-feira);
fervorosa (II segunda-feira);
persevera em fazer o bem (I segunda-feira);
nas boas obras (I Domingo);
na santidade de vida (II quinta-feira);
a igreja se prepara para receber seu Senhor (II terça-feira);
na alegria que acontecerá no fim dos tempos (III quinta-feira, 21 de dezembro);
na exultação (II terça-feira; III domingo; 18 de dezembro)
– no louvor (I segunda-feira).

O nascimento de Cristo a partir de Maria

À medida que o Natal se aproxima, a atenção torna-se polarizada na encarnação e, portanto, o evento do nascimento vem à tona. A vinda do Verbo a este mundo é vista como parte do mistério pascal, tanto diretamente, quando se fala da escravidão-libertação (ou redenção e salvação), como de forma alusiva, quando se abordam os temas velha-nova criatura, escuridão-luz. 

O tema baptismal está presente ao longo do ciclo natalício como o elemento mais relevante do seu ambiente. Em tudo, o papel da Virgem é decisivo: Maria está inserida no mistério de Cristo e da Igreja, segundo a doutrina do capítulo VIII da Lumen gentium.

O tema mariano, antes ausente nas coletas deste período, encontra o seu lugar em cinco orações do advento do Natal, que destacam o mistério da encarnação. Este tema é aquele que consegue juntar os fios e sintetizar os vários elementos: é consequência do papel primordial que Maria desempenha neste tempo de preparação. A memória da Virgem de Nazaré na eucologia conduz à celebração do mistério do Filho.

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