Maria mestra da peregrinação cristã
Maria nos ensina a contemplar as maravilhas do amor de Deus
Com sua maternidade sempre ativa em relação a nós, Maria reafirma a presença transformadora de Deus na história dos seres humanos, com o propósito de chamá-los e relembrá-los da salvação. Reconhecer essa presença é reconhecer que Deus está atuando de forma eficaz e decisiva em nossas vidas. Ele irrompe no mundo com Seu poder para salvá-lo. A Virgem nos convida a reconhecer que Deus existe, vive e age desde toda a eternidade.
Em Sua manifestação, Ele se revela principalmente como Deus – Amor que deseja se comunicar e dialogar com o homem. Através de Suas maravilhosas obras, fruto de Sua doação, Ele solicita nossa adoração, louvor e ação de graças, para que também nós, imitando a Virgem, manifestemos a Ele nosso amor e O recebamos com maior atenção. Maria nos ensina que nos foi concedida inteligência e coração, precisamente para que possamos nos sintonizar com nosso Deus e nos tornar a voz de toda a criação ao magnificá-Lo, uma vez que as criaturas materiais não podem entoar Seu louvor infinito.
Através de Suas obras e ao olhar para o homem feito à Sua imagem e semelhança, Deus se mostra próximo de Suas criaturas e intervém para orientá-las para Sua glória, de acordo com os desígnios de Sua divina sabedoria. Reconhecer a irrupção de Deus na história significa abrir-se, como Maria, para a contemplação de Seu mistério e Sua glória. Significa buscar a Deus acima de todas as coisas, ser e viver conscientes dessa presença inefável. Significa nutrir-se Dele, ser inundados por Seu esplendor. Significa libertar-se da escravidão do pecado para ser envolvidos por Seu amor que conquista, redime e salva. Significa compreender-se no conhecimento de Deus na luz interior do Espírito Santo.
Essa abertura orante à contemplação do mistério de Deus, que se manifesta em Suas obras maravilhosas, impulsionada pelo Espírito Santo e com a ajuda e o exemplo de Maria, é necessária para descobrir com um coração livre e atento o verdadeiro rosto de Deus que se revela no amor. No contexto de nossa existência, nosso culto a Deus deve emergir com força e manifestar-se continuamente, para que Sua glória permaneça sempre a razão suprema de nossa existência, assim como foi para a mãe do Senhor.
Maria nos ensina a ser livres em nossas escolhas
Nosso “sim” a Deus, como o de Maria, nasce da submissão à Sua vontade, fluindo de todo o nosso ser como a expressão máxima de nossa liberdade sustentada por Sua graça. A liberdade é o único dom que nos pertence e é intangível, por isso é o maior presente que podemos dar a Deus, tornando-O onipotente em nós. Essa total adesão a Deus, como o livre “Fiat” de Maria, nos insere em Seu plano de amor, em um caminho de crescente fidelidade e plenitude no amor. Por isso, a fonte de nossa felicidade e nosso primeiro dever como criaturas é uma busca incessante e amorosa por Deus. No entanto, o Senhor nos criou livres e deseja que venhamos a Ele em plena liberdade.
Embora Ele tenha a iniciativa absoluta ao ordenar e determinar os planos de salvação e realizá-los em tempos definidos em diferentes níveis e de formas diversas, Ele convida, como fez com a Virgem de Nazaré, a pessoa humana a aceitar livremente Sua Palavra, testemunhá-la e, sobretudo, em Seu relacionamento interpessoal com o ser humano, convida cada um a aceitar e colaborar com Sua graça, respeitando a dignidade da pessoa criada à Sua imagem e semelhança.
A resposta livre a Deus, como aconteceu com Maria, envolve plenamente a pessoa humana, que, antes de tudo, é chamada a acreditar verdadeiramente na fé em tudo o que Deus manifesta e a se dispor a obedecer ao plano de Sua vontade manifestada nele. Essa fé implica uma generosa abertura ao amor de Deus e a certeza de que Ele cumprirá todas as Suas promessas.
Nesse relacionamento da criatura livre e aberta à salvação e à glória de Deus, está todo o mistério que envolve o homem responsável e o insere, como Maria, no mistério da Trindade divina.
Maria nos ensina a levar Jesus em nosso coração
Abrir-se, como Maria, para o mistério de Deus que se revela no amor significa também pertencer totalmente e completamente a Cristo. A Sagrada Escritura nos ensina que em Cristo nos tornamos “participantes da natureza divina,” que somos “participantes de Cristo,” que “viveremos com Cristo.” São Paulo repete isso mais de setenta vezes!
Cristo se identifica com os cristãos, quando chamou Saulo no caminho de Damasco: “Saulo, Saulo, por que me persegues?“. Pertencemos totalmente a Cristo porque somos em Cristo como membros de um corpo. Formamos uma unidade, temos plena participação em atividades e destino. Somos o corpo místico de Cristo, tão real que nos une, nos incorpora com a cabeça e também com os outros membros: somos em Cristo como galhos na videira. Uma união e compartilhamento de seiva vital, compartilhamento do frutificar que ocorre nos galhos e do humor da videira.
Pertencer a Cristo, acreditar Nele, seguir Seus caminhos de vida, como Maria fez e ensina, significa ser ensinado por Ele e constantemente se referir a Ele para tornar nossa existência rica em santidade. Mas isso implica, como consequência inevitável, testemunhá-Lo e proclamar Seu evangelho ao mundo. O verdadeiro cristão e toda a Igreja não podem permanecer em inércia quando receberam de Jesus o comando explícito: “Ide por todo o mundo“.
Maria convida os cristãos a tomar consciência de sua vocação missionária, que é a de promover a regeneração espiritual dos homens, fazendo-os renascer como filhos de Deus na nova vida em Cristo. Anunciar Cristo, amá-Lo, possuí-Lo e segui-Lo significa compartilhá-Lo com os outros, significa promover o homem porque Deus deseja a sua salvação. Testemunhar Cristo e ser Seus discípulos significa contribuir eficazmente para que todos os homens participem da salvação, conquistada por eles pela morte e ressurreição de Cristo.
Introduzido na contemplação do Crucificado ressuscitado, o verdadeiro cristão, em última análise, é aquele que, tendo ressuscitado com Ele, testemunha a cada pessoa necessitada de salvação sua vitória além da jornada dolorosa da vida, porque não pode mais guardar para si a experiência vital e transformadora que teve em Cristo, mas deve necessariamente anunciá-la ao mundo.
Maria nos ensina a ser dóceis ao Espírito
Conhecer a Deus e ser verdadeiros discípulos de Cristo é possível apenas através da obra ativa e constante do Espírito Santo, que nos permite fazer parte plenamente da “família divina” e que, em Maria, realizou as primeiras grandes maravilhas de Sua graça. É o Espírito, como São Paulo afirma, que nos revela Jesus e nos dá o senso de filiação em relação ao Pai: “aqueles que são nascidos dele são filhos de Deus,” e ainda: “recebestes o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai“. Esse Espírito que operou plenamente e maravilhosamente em Maria age em nós, guia nossa atividade, sustenta nossa fraqueza, ora em nós com gemidos inexprimíveis, nos faz conhecer nossa vocação como membros de Cristo e nos conduz no caminho da união com o Pai em Cristo, concedendo-nos as graças de que precisamos.
Embora Ele não nos mostre Sua face divina, o Espírito Santo se revela a nós em Sua ação, como fez em Maria desde a concepção imaculada da Palavra de Deus, e é a Pessoa da Santíssima Trindade que primeiro habita em nossa alma, toca nosso coração, reside em nós, introduz em nós o Filho e o Pai. Ele é quem anima todo o nosso ser espiritual, a voz misteriosa de nossa consciência, o inspirador de nossos pensamentos, o sopro e a respiração de nosso amor, o apoio de nossa vontade no caminho reto da salvação.
Permanecendo em nós como doce hóspede da alma, o Espírito Santo nos instiga a nos conformarmos cada vez mais nos sentimentos e ações com o amor de Jesus, a viver o compromisso que Jesus nos propôs na Última Ceia: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei“. A nova criatura formada pelo Espírito, como aconteceu em Maria, é a criatura em que o amor reina plenamente. No Espírito e com o Espírito, ela vive a Nova Aliança, porque conquistou a novidade de vida, ama, crê e espera e, no Espírito, se eleva ao Pai, se oferece pela salvação do mundo, torna-se, como nossa mãe Maria constantemente nos mostra, também pai, irmão, mediador e consolador para todos os homens.
Maria nos ensina a ser animados pelo amor
O caminho do homem que descobre e se aproxima do mistério de Deus, que permite ser animado, guiado e santificado pelo Espírito Santo, que acolhe e segue a perfeita discipulado de Jesus, só pode ser o caminho do amor, porque isso ele aprendeu na escola de seu Divino Mestre. A Palavra de Deus, por meio da qual todas as coisas foram feitas, ao se tornar carne, veio habitar na terra dos homens, entrou na história do mundo como o homem perfeito, animando-a e recapitulando-a em Si mesmo, por meio de uma recriação amorosa e dolorosa.
O Filho de Maria foi quem nos revelou que “Deus é amor” e nos ensinou que o amor é a lei fundamental da perfeição cristã e também da transformação do mundo. O caminho do homem, tornando-se o caminho de Deus em Cristo, é, portanto, apenas o caminho do amor. Olhando para seu Mestre, o cristão vê e entende que Ele, embora seja Rei por natureza e vocação, não quis reinar por meio de Seu poder absoluto de criador, mas apenas por meio do amor, dando dele a maior prova, aceitando sofrer e morrer por nós.
Viver no amor significa, como contemplamos em Maria e em seu agir em relação a nós, abrir-se completamente a Deus e, nEle e por meio dEle, também aos outros. Tudo isso nos une a Deus e aos irmãos, e tem como primeiro elemento vital a oração, como contemplação-ação, uma oração, portanto, não abstrata, mas que parte do diálogo transformador com Deus e da meditação-aceitação de Sua Palavra, como aconteceu com Maria, que meditava e guardava tudo em seu coração, e volta para a sua vida e a dos outros para renová-la e dar-lhe sentido.
A oração, assim entendida, é antes de tudo dar glória a Deus, o doador de todo bem e de toda consolação, estar sempre atentos à salvação dos outros, saber ouvir, sentir-se amado e deixar-se amar, deixar Deus trabalhar dentro de nós, deixar-nos guiar por Ele, nos tornarmos pessoas animadas pela criatividade, iniciativa e organização em benefício dos irmãos e irmãs que vivem ao nosso lado, deixar-se guiar pela Verdade para guiar todos à Verdade que unifica, salva e transforma o mundo.
Viver no amor, imersos sempre em uma atitude de oração na presença da Trindade divina, nos transforma em portadores de salvação e alegria no mundo. Como Maria, a pura transparência através da qual Deus sorriu para a terra, enviando ao mundo Seu Filho, fonte de alegria, também devemos ser portadores dessa alegria salvífica, que nasce da fé e da plena adesão a Deus e parte de um coração livre do pecado, fonte de tristeza infinita.
A Virgem nos lembra que a alegria só é possível se estivermos livres do peso sufocante de nossos pecados, para dar espaço ao Espírito e favorecer em nós o amadurecimento de Seus frutos de santificação e alegria. União com Deus e alegria são equivalentes. À medida que nos convertemos e passamos da escravidão do pecado para a liberdade da total pertença a Deus, nos revestimos de alegria e a irradiamos para o mundo. Essa alegria que nos transforma encontra em Cristo, no amor do Pai e na plenitude do Espírito Santo seu alimento. Maria nos ensina que seu ser “Toda Alegria“, “Toda Santa” e “Toda Graça” é fruto de sua total pertença a Deus, de seu caminhar a Jerusalém atrás de Cristo no sofrimento e no amor orante, que se torna co-participação na salvação do mundo.
A Virgem, em resumo, nos convida a nos revestirmos do traje nupcial para sermos admitidos ao banquete da alegria no reino dos céus, onde Ela está plenamente realizada e onde nos saciaremos de Deus, a única verdadeira alegria.
Maria nos exorta a confiar em seu coração materno
Como Mãe espiritual da Igreja e Mãe de todos os homens, profundamente envolvida na obra de renovação do mundo em Cristo, a Virgem muitas vezes mostra em suas aparições o seu Coração Imaculado, para expressar com uma imagem icônica envolvente a sua missão universal: colaborar apostolicamente no nascimento invisível, no florescimento da vida de Cristo no coração do homem.
A “consagração” repetidamente pedida pela Virgem, ou seja, confiar totalmente aos seus cuidados maternos, visa nos levar a reviver nossa consagração a Deus por meio de Cristo no Espírito, que já ocorreu no dia do Batismo. Com seu exemplo e intercessão, a Mãe do Senhor deseja nos ajudar a viver a consagração batismal e a compreender o profundo significado do batismo de regeneração e renovação no Espírito, que nos tornou filhos de Deus e participantes da natureza divina.
São João Paulo II afirmava: “Como podemos viver nosso batismo sem contemplar Maria, a bem-aventurada entre as mulheres, tão acolhedora do dom de Deus? Cristo a deu como mãe. Ele a deu como mãe para a Igreja. Todo católico espontaneamente confia sua oração a ela e se consagra a ela para se consagrar melhor ao Senhor“.
E Rahner escreve: “O que acontece em nós no Batismo tem sua originalidade e força inicial no ventre da Virgem Maria. Ao lado de cada fonte batismal da mãe Igreja, está a mãe de Jesus“.
A experiência dos santos mostra com grande força e evidência que, ao nos confiarmos a Maria, ela se torna nossa e nós somos dela, e entre ela e nós se estabelece uma maravilhosa intersubjetividade, uma atenção mútua, um relacionamento profundo, uma troca de bens, uma atmosfera amigável, uma influência e um amor oblativo. Tudo isso deve nos levar a compreender e acolher Maria como uma mãe em cujo coração nos refugiamos e também como mestra e modelo de vida no caminho da fé, na resposta total a Deus, na disponibilidade para colaborar no plano da salvação.
Portanto, compreende-se que a característica da devoção e dedicação a Maria é integrar-se na vida cristã como condição essencial para sua plena maturação e completude: confiar em Maria, acolhê-la como mãe significa, em última análise, inserir-se no mistério redentor de Cristo. O papel de Maria é ajudar aqueles que a ela se confiam a realizar em Cristo sua vocação, a redescobrir e viver plenamente a sua pertença a Deus. Com sua presença e ao nos acolher como filhos, Maria nos convida a nos desapegarmos de nosso orgulho, raiz e causa de todo pecado pessoal e social. Ela nos impulsiona no caminho da santidade e das virtudes evangélicas que ela mesma viveu. Ela nos convida a honrar em nós mesmos o estado de graça do qual ela está cheia e é o modelo perfeito, ou seja, a viver em amizade com Deus, a comunhão com Ele, a habitação do Espírito, a fim de reproduzir em nós os traços espirituais do Filho Primogênito, nosso Irmão e Senhor.
Deixemo-nos guiar pela Mãe Maria
A Igreja ensina-nos que Maria é Mãe e Companheira de Cristo Salvador: “Mãe” liga-a ao seu Filho, que é o eterno Filho de Deus encarnado nela; “Companheira” liga-a à missão do Salvador. Associada ao Filho, Maria deu-se completamente a Ele com amor e alegria, mas também com sofrimento incomensurável, adorando no seu dom ao Filho e na sua obra o misterioso plano do Pai. Na obra do divino Redentor, Maria cooperou de forma muito especial, de modo que os seus méritos, as suas ações virtuosas e os seus sofrimentos fazem parte do mistério da nossa redenção.
Ao consagrar-se completamente à pessoa e à obra do Filho, Maria colocou-se ao serviço do mistério da salvação, sob Ele e com Ele, com fé livre e obediência. O seu amor, a sua fé e a sua obediência a Deus não são como flores espalhadas no deserto, mas uma germinação que acompanha toda a vida de Maria como uma estrutura viva e constante da sua personalidade.
A consciência de tudo isso deve levar-nos a reconhecer a presença de Maria na nossa vida, a agir sob o seu olhar atento e materno, seguindo o seu exemplo de total dedicação a Cristo, convencidos de que a Mãe celestial está sempre perto de nós para nos incentivar, consolar, apoiar e conduzir a Ele.
O período que vai desde a “plenitude do tempo” até ao final da nossa história terrena compromete a maternidade espiritual de Maria sem a cansar, enfraquecer ou diminuir a sua dedicação. Devemos sempre depender dela ao longo da nossa peregrinação terrena, pedindo-lhe que, no final da jornada, nos mostre finalmente Jesus, o fruto abençoado do seu seio.
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