Nossa Senhora do Advento e o Batismo Cristão
Não só a Igreja em geral, mas em cada um de nós, em nossa vida espiritual, experimentamos um mistério de advento contínuo, de vinda progressiva de Cristo em nós, até atingirmos a estatura plena do Homem novo renascido da água e do Espírito (cf. Jo 3, 5), para alcançar a estatura do Filho de Deus encarnado (cf. Ef 4,13).
Vivemos nesta caminhada e nesta expectativa de que Cristo preencha cada vez mais a nossa vida e nos transforme. Se a graça do batismo já está ligada de várias maneiras à tarefa de Maria na história da salvação e na história de cada um de nós, o mesmo pode ser dito e com igual força para o crescimento de cada um de nós nesta vida batismal.
Desde os primeiros momentos até os cumes mais altos da espiritualidade, é sempre Maria quem prepara a vinda de Jesus em nós, que constantemente e plenamente forma Jesus em nós, os batizados. Maria acompanha todo o caminho da regeneração espiritual e do crescimento espiritual em Cristo, desde o seu início até à sua plenitude.
O batismo é este mistério do nascimento de Cristo em nós
A vida espiritual é o crescimento e o desenvolvimento progressivo neste mistério do nascimento de Cristo em nós, que começou com o batismo. Existe um mistério da natividade que se celebra continuamente ao longo da nossa existência espiritual: tem as suas raízes no batismo, no qual Maria realiza a sua tarefa.
O nascimento perene do Senhor Jesus em nós constitui o núcleo essencial de todo caminho cristão. O batismo funda ontologicamente este nascimento, funda-o de uma vez por todas. Tal é o significado do caráter batismal. Com o pecado pode-se perder a graça, já não se pode beneficiar deste mistério do nascimento em Cristo, mas nunca se perderá o direito de recuperá-la, quando se recupera, após o pecado, a vida filial.
O batismo é uma aliança irrevogável, dada de uma vez por todas. O caminho da vida no Espírito, mais conhecido por estado de graça pode ser perdida, mas esta aliança não será cancelada. Por isso, sempre será possível recuperar a posse da graça, desde que se reconheça a culpa e se reconcilie com o Senhor.
O batismo é uma aliança irrevogável porque não se baseia em nossas correspondências ou não correspondências, mas na fidelidade absoluta de Deus às suas promessas. Podemos ser infiéis, mas Deus permanece fiel, não falha no seu agir, na sua estreita aliança com cada um de nós, graças ao batismo.
Um nascimento radical, irrevogável, definitivo que estabelece, se o desejarmos e estivermos plenamente disponíveis, um caminho incessante de transformação de nós mesmos em Jesus, a ponto de poder dizer com São Paulo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2,30). Este é o significado do batismo e da jornada batismal. Ser batizado significa aceitar ser transformado pouco a pouco em Cristo Jesus, para nos tornarmos verdadeiramente filhos do Pai na plenitude do Espírito Santo que nos foi dado. Este é o fundamento da vocação comum à santidade.
Graças ao batismo já somos radicalmente santos e chamados a levar à plenitude esta santidade batismal ontológica recebida de uma vez por todas. Aqui também está o fundamento do sacerdócio comum dos fiéis, pelo qual todos somos chamados a oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, e a fazer da nossa vida uma oblação viva, uma ação de graças ao Pai (cf. Rm 12,1).
Este é o fundamento da responsabilidade, ou melhor, da co-responsabilidade de todos os cristãos na edificação da Igreja no mundo. Graças ao batismo, todos estamos envolvidos nesta história da salvação que tem o seu ponto central na Igreja e deve estender-se a toda a humanidade até à sua plenitude, até à parusia. Também aqui Maria cumpre uma missão primária.
Assim como teve a Serva do Senhor teve uma eminente tarefa no nascimento de Cristo, de acordo com a natureza humana assumida pelo Filho de Deus no mundo, assim também ela continua a ter uma eminente tarefa em preparar a presente vinda de Jesus em nós, os batizados, e continua a cumprir uma eminente tarefa de formar em nós Cristo, de nos formar à medida de Cristo, o novo Homem.
Maria é Mãe não só porque gerou Cristo entre nós de uma vez por todas, o Emanuel, mas é Mãe também e ao mesmo tempo porque colabora na regeneração espiritual de todos nós, no crescimento de cada um de nós em Cristo Unigênito. A partir do Espírito Pascal do Filho gerado, Maria tem a mesma tarefa em relação aos membros de Cristo que ela tinha com Cristo.
Maria é plenamente Mãe de Cristo e da Igreja, e mãe de cada um de nós. A esse respeito, os Padres da Igreja gostavam de colocar em paralelo a maternidade de Maria e a maternidade da Igreja na regeneração batismal.
Diz São João Paulo II:
«Existem apenas dois problemas, a nossa fidelidade à Aliança com a Sabedoria eterna, que é a fonte de uma verdadeira cultura, que significa o crescimento do homem e a fidelidade às promessas do nosso batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».
Não é por acaso que um grande ícone de Maria Mãe era frequentemente encontrado perto da pia batismal, precisamente porque a intenção era mostrar esta continuidade entre a maternidade de Maria na geração de Cristo para o mundo e a maternidade de Maria na geração batismal dos cristãos.
Se tudo isso é verdade, isso explica por que não pode haver um autêntico caminho espiritual e um verdadeiro crescimento de Jesus em nós que não passe pelas mãos de Maria. Não existe uma verdadeira realização da vida batismal que não se cumpra no modelo Fiat e da sua total disponibilidade ao Pai para a realização do seu desígnio de salvação no mundo.
Neste sentido, Maria é modelo de espiritualidade cristã:
- modelo de espera do Salvador;
- modelo de disponibilidade para acolher o Redentor do homem e do mundo.
Maria é a figura do Advento para cada um de nós
O batismo é aquele acontecimento fundamental que nos faz participar da vida de Cristo e da Igreja. A esse respeito, Maria está profundamente relacionada com o batismo. Existe uma presença da Virgem no nosso batismo:
- está na preparação;
- está no cumprimento;
- está em todo o nosso caminho batismal.
Além disso, olhando para Maria como ícone exemplar da fidelidade ao desígnio divino, sabemos qual é a forma mais autêntica de realizar a nossa vida batismal em resposta ao chamado de Deus na nossa existência e ao desígnio que Ele tem para cada um de nós.
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