Porque Maria estava no Cenáculo?

Porque Maria estava no Cenáculo?

O bom pastor subiu 

à direita do Pai;

o pequeno rebanho vigia

com Maria no Cenáculo,

Uma espera de séculos.

 (Hino das Vésperas pela Ascensão do Senhor)

Uma vigília que conecta as origens do mundo criado por Deus a este novo dia que renasce do Sangue do Verbo de Deus imolado e ressuscitado.

Os Apóstolos e os discípulos, unânimes e concordes, estão vigiando há dias em oração, “juntamente com algumas mulheres e com Maria, a Mãe de Jesus, e com seus irmãos” (Atos 1,14).

A referência nos Atos dos Apóstolos a essas mulheres, como parte orante da primeira comunidade cristã, mostra o que é a Igreja; uma universalidade, onde com direitos iguais – ainda que com funções diferentes – homens e mulheres formarão uma única realidade, investida pelo fogo do Espírito Santo:

«há de ser que, depois, 

derramarei o meu Espírito sobre toda a carne,

e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, 

os vossos anciãos terão sonhos, 

os vossos jovens terão visões. 

E também sobre os servos e sobre as servas, 

naqueles dias, derramarei o meu Espírito» Joel 2,28-29.

Mas o acento do relato de Lucas recai sobre Maria, a Mãe de Jesus. Dignidade incomparável, a sua experiência de maternidade única. Cristo, subindo ao céu, havia prometido ao Espírito Santo:

“É bom para vós que eu vá;

porque se eu não for,

o Consolador não virá a vós,

mas, quando eu for,

vo-lo enviarei (Jo 16,7).”

O Espírito estava, portanto, prestes a descer do céu para possuir os corações, para irradiar de luz as almas, para mergulhar na carne do homem, selando-os com a sua presença, tornando-os templo da sua glória. Mas dos que estavam reunidos no Cenáculo, nenhum conhecia o verdadeiro significado das palavras de Jesus, porque nenhum tinha a experiência do Espírito Santo. Exceto Maria, ela sabia preparar-se para a vinda do Espírito: orando. Porque o Espírito Santo é um dom: é de fato o Dom do Pai por excelência: não conquistado mas oferecido gratuitamente. Portanto, no Cenáculo as pessoas observavam em oração, à volta de Maria: uma atitude de oração, que a Igreja de todos os tempos perpetua, imitando a Mãe de Jesus (Marialis Cultus 18).

Vinde, ó divino Espírito,

com vossos santos dons

e fazei de nossos corações

o templo da vossa glória.

Ó luz da sabedoria,

revela-nos o mistério

do Deus trino e único,

fonte do amor eterno.

 (Hino das Vésperas da Ascensão do Senhor)

O mistério de Pentecostes

Quem é o Espírito Santo? 

Por que desce do céu? 

«Deus é amor (1 Jo 4,8), diz-nos São João. No Deus de Amor o Espírito Santo é a subsistência do Amor. Num ímpeto irresistível de Amor eterno, além dos confins do tempo, o Pai gera sua Palavra igual e distinta de si mesmo, expressão total de seu Pensamento e de seu Ser: Palavra perfeita!

Numa igual e infinita explosão de Amor, o Verbo volta ao Pai que o gerou, Luz da luz, Deus verdadeiro do verdadeiro Deus (Credo de Nicéia em 325). Um princípio sem princípio une ambos e os funde na unidade de essência, enquanto as Pessoas permanecem distintas, pelo ímpeto do Amor infinito. Ele é o Espírito Santo.

“No princípio era o Verbo

e o Verbo estava com Deus

e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus” 

(Jo 1,1-2).

Este Amor subsistente do Pai e do Filho, oceano de paz e unidade, pelos méritos infinitos de Cristo, o Pai quis derramá-lo sobre a humanidade que acredita, curar suas antigas feridas, sustentar sua fragilidade nativa, iluminar a partir de dentro no caminho que reconduz ao seu coração – daqueles que se tornaram seus filhos no Filho – aqueles que nasceram filhos do homem.

Aos que o acolheram,

deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus:

aos que acreditaram no seu nome.

E o Verbo se fez carne.

De sua plenitude todos nós recebemos,

a graça sobre graça 

(Jo 1,12-14.16).

Pentecostes na terra. O sopro de Deus, através do qual o homem saltou pó da terra para ser a imagem e semelhança de seu Criador, desce ao mais íntimo do homem, para elevá-lo à mesma participação de Deus e dar-lhe a oportunidade de viver, como filho do Pai, uma vida de Céu. Por lemos em Gênesis 1,26-27; 2,7:

«E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. […] E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.»

Os Padres da Igreja do Oriente, começando por Irineu de Lyon, dão a estes versículos uma importância excepcional, vendo neles quase traçados desde o início o caminho dos destinos humanos em nossa relação essencial e existencial com Deus através da Palavra, da qual somos “imagem“, e através da nossa vida vida nos tornamos semelhança.

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Considerando as estreitas relações com as quais Maria e a Igreja estão ligadas, para glória da Santíssima Virgem e para nossa consolação, declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos Pastores, que a chamam de Mãe amada; e estabelecemos que com este título todo o povo cristão de agora em diante presta ainda mais honra à Mãe de Deus e lhe dirija suas súplicas.

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