A Bendita em Cristo, inimiga acérrima do antigo Adversário

Introdução

Assim como o desígnio providente da Trindade escolheu e predestinou em Cristo Maria de Nazaré, também escolheu e predestinou os homens e as mulheres a serem, se assim o desejarem, filhos e filhas do Perdão, ou seja, filhos da Luz e filhos do Dia que não conhecerá ocaso: o dia bendito da ressurreição dos mortos! Esta eleição/dom do Pai será, se a acolhermos na fé e a fizermos frutificar no testemunho, mais forte do que qualquer sedução/experiência do mal e do pecado, como mostra de forma esplêndida a história de Maria de Nazaré, a primeira aliada de Deus contra Satanás e o mal.

Invocando a Toda Santa, compartilhando sua aceitação do dom do Espírito do Pai e do Filho com a adesão diária às exigências e valores do Reino, o discípulo e a discípula sabem que tal seguimento do Santo e Bendito de Deus envolve uma dura batalha que “não é contra as criaturas feitas de carne e sangue, mas contra os Principados e as Potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal” (Ef 6,12). Como Maria, a bem-aventurada porque acreditou (cf. Lc 1,45), o discípulo e a discípula de Cristo, contra o sedutor Adversário, deverão resistir-lhe, permanecendo firmes na fé (cf. 1Pd 5,8-9).

Depois do Vaticano II…

A presença e a ação da Mãe do Redentor na luta de Cristo contra Satanás, especialmente após o Concílio Vaticano II, não foi normalmente abordada pelos teólogos e não está presente nos textos de teologia e mariologia contemporâneos, exceto em alguns raros casos bastante recentes. A esse respeito, escreveu Stefano De Fiores em seu livro Maria e o mistério do mal, publicado postumamente em 2013: «Quem considera a Bíblia percebe que “para Israel, por muito tempo, existiram apenas duas causas do mal: o homem e Deus”. Depois, compreende-se que, enquanto o homem não pode escapar de sua responsabilidade, tendo o “coração sempre inclinado ao mal” (Gn 6,5), Deus não pode ser cúmplice de modo algum do mal. Assim, “como se tornou impensável que Deus pudesse causar o mal, foi feita a Satanás a responsabilidade por ele, sendo concebido como uma das potências adversas ao homem”. E Satanás, que significa “ser hostil, inimigo, adversário”, foi visto como o autor de toda doença e de todo mal. Apesar de sua ampla ação maléfica, o espaço total, embora concedido, do Novo Testamento não reserva a Satanás um lugar de grande destaque: ele não aparece de modo algum no anúncio central e constitutivo da fé, que gira em torno de Cristo morto, ressuscitado, ascendido ao Pai e doador do Espírito de santidade e verdade. No entanto, a luta contra Satanás é inevitável e sempre atual, pois a inauguração do Reino de Deus implica a destruição do reino do Mal, ou seja, das “estruturas distópicas, isto é, perversas”, inspiradas e organizadas pelo Maligno».

Na luta travada contra o mal e o Maligno por Cristo e por sua Igreja, está presente a contribuição peculiar da Mãe do Redentor, como testemunha a tradição patrística, litúrgica e magisterial, também recente. De fato, a Igreja, em sua doutrina, em sua vida litúrgica e em seu ministério pastoral, sempre considerou e invocou a Mãe de Jesus como seguro amparo contra o Mal! O próprio Concílio Vaticano II, na constituição dogmática Lumen Gentium, chamou a atenção para a – impossível – relação entre a Santa Virgem e Satanás em Lumen Gentium 55 e 63, ambas as vezes em relação à serpente das Escrituras e à promessa divina (cf. Gn 3,15).

O contributo de São João Paulo II

Desde o início da encíclica Redemptoris Mater (=RM), de 25 de março de 1987, ao abordar a questão do caráter agônico da Mãe do Redentor, ou seja, de tenaz adversária e forte combatente contra o Mal, contra toda maldição, São João Paulo II (1978-2005) insere a Virgem no contexto da história da salvação, destacando seu vínculo estreito com o Filho-Senhor (pois “somente no mistério de Cristo seu mistério se esclarece plenamente”: RM 4) e com a Igreja em caminho indissoluvelmente unida ao seu Senhor, sublinhando sua presença e ação abençoada dentro da própria história. “Espaço” onde continua ainda a luta entre a Mulher e a serpente, “luta que acompanha a história da humanidade na terra e a própria história da salvação” (RM 11), pois o núcleo central da história da salvação é constituído pela liberdade do homem, que pode escolher ou rejeitar Cristo, acolhendo ou rejeitando o influxo do Espírito e a generosa misericórdia do Pai, permanecendo assim prisioneiro e servo da maldição.

Desde a encarnação do Filho de Deus até a sua vinda definitiva na Parusia, ensina João Paulo II na encíclica mariana, «a vitória do Filho da mulher não ocorrerá sem uma dura luta, que deve atravessar toda a história humana. A “inimizade”, anunciada no início, é confirmada no Apocalipse, o livro das realidades últimas da Igreja e do mundo, onde reaparece o sinal da “mulher”, desta vez “vestida de sol” (Ap 12,1) […]. Maria permanece assim diante de Deus, e também diante de toda a humanidade, como o sinal imutável e inviolável da eleição por parte de Deus, de que fala a carta paulina: “Em Cristo, ele nos escolheu antes da criação do mundo […], predestinando-nos para sermos seus filhos adotivos” (Ef 1,4). Esta eleição é mais poderosa que qualquer experiência do mal e do pecado, de toda aquela “inimizade” que marca a história da humanidade. Nessa história, Maria permanece como sinal de segura esperança (RM 11)».

A leitura mariológica dos Servos de Maria

Assim descreve tal dramática, mas necessária luta o terceiro documento mariano dos Servos, conectando os textos de Gênesis 3 e Apocalipse 12: «No relato apocalíptico, ao dragão se opõem a fragilidade, o nascimento e a terra. Essas são intencionalmente ligadas à mulher vestida de sol, à sua experiência e à sua história. A fragilidade é plasticamente e dramaticamente representada pela mulher que, embora vestida de sol, está em meio às dores do parto. A vida humana é ameaçada e envolta pelo enigma do sofrimento e da dor desde o seu início (cf. Ap 12,2.4). No entanto, essa fragilidade está, segundo o hagiógrafo, no céu (cf. Ap 12,1). Nós, por outro lado, a teríamos colocado na terra, porque, por definição, o céu é o oposto da fragilidade. O céu é o lugar da onipotência e da transcendência, é o lugar da segurança, é o lugar imune ao sofrimento e à dor. Nós buscamos esse céu. E, talvez, o buscamos porque é o céu imaginado pela serpente (cf. Gn 3,4-5). O buscamos porque somos atraídos por suas palavras (cf. Gn 3,6). Nesse céu, não há espaço para quem é frágil. Nesse céu, não há lugar para o casal humano e seus frutos. Nesse céu, não há espaço para a paternidade, a maternidade e a filiação. A serpente quer, de fato, devorar, eliminar tudo isso. No entanto, não é o dragão quem habita no céu. Ele não é o senhor. Ele não pode conduzir ninguém para lá. O céu pertence a Deus. Ele é o Senhor. No céu de Deus, no reino dos céus proclamado e realizado pelo Filho, Palavra feita carne, a fragilidade é familiar: é até mesmo a origem e o destino. A Igreja proclama esse testemunho evangélico apontando para a pessoa da Assunta na glória como palavra de consolação e de segura esperança. Maria entra no céu porque viveu sem que a palavra venenosa da serpente jamais enredasse sua fragilidade criatural. Também o evento do nascimento se opõe ao dragão. É verdade, o nascimento anuncia um mistério de morte: nascemos precisamente porque aqueles que nos geraram não são e não eram imortais. Se alguém nasce, é porque morrerá. Tentando devorar o menino no momento de seu nascimento (cf. Ap 12,4), a serpente quer, portanto, provar que somos essencialmente “seres para a morte”. Para ele, a morte é a chave e a verdade de toda existência humana. Sendo assim, a palavra humana não pode senão admitir que a paternidade, a maternidade e a filiação são apenas estruturas de maldição pelas quais não é a vida que se propaga, mas a morte. O sábio deve dizer: “Pereça o dia em que nasci e a noite em que se disse: ‘um menino foi concebido'” (Jó 3,2; cf. Jr 20,15-18). Mas no céu de Deus, acontece de maneira diferente. Aquele que nasce, frágil e indefeso, é imediatamente levado para Deus e para o seu trono (cf. Ap 12,5). Deus garante que o nascimento, a paternidade, a maternidade e a filiação são mais fortes do que a morte. Graças a esta revelação (cf. Ap 11,19; 12,1), o sábio pode então dizer: “Eu sei que tudo podes e nenhum dos teus planos pode ser frustrado […]. Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42,2-5; cf. Lc 1,37-38). Somente se esta é a vida, o outro é irmão e irmã, não o inferno. Somente se esta é a vida, o conflito e a diversidade podem encontrar caminhos de reconciliação, respeito e acolhimento. Somente se esta é a vida, o nascimento se torna promessa e o mistério da dor, do sofrimento e da própria morte não impedem que nos tornemos homens e mulheres de esperança que lutam contra toda forma de medo social, cultural, religioso. Finalmente, é preciso perceber que a própria terra se opõe ao dragão (cf. Ap 12,15-16). A terra é refúgio para a mulher vestida de sol (cf. Ap 12,13-14). A terra engole o rio que o dragão vomita contra ela. A serpente não é senhora nem da terra. A terra pertence a Deus (cf. Ap 4,11; 5,13; 11,17-18; 14,7; Gn 1,1; 2,4-14). Não somos apóstolos de uma visão dualista que opõe corpo e alma, o material e o espiritual, o imanente e o transcendente, o finito e o infinito, a terra e o céu, o mal e o bem. Não somos portadores de uma sabedoria sincrética, moldada pelos ditames da Nova Era. Não somos profetas de uma religião universal, capaz de ir além das identidades crentes de cada tradição espiritual. Não somos guardiões de uma religião civil, horizontal, onde o amor ao próximo se torna ideologia. Nem somos arautos de experiências que recaem naquele vasto campo que os estudiosos chamam de “religiões da mãe”. Somos, ao contrário, aqueles que se colocam a serviço das potencialidades vitais dadas por Deus à terra (cf. Lc 12,54-57 e paralelos). No entanto, não devemos cair no “complexo do agricultor” e pensar que a terra só dá frutos se for cultivada. Não é por acaso que Jesus conta a parábola da terra que produz frutos espontaneamente (cf. Mc 4,26-29; Jo 4,31-38). As parábolas não são histórias simplistas para ouvintes ignorantes. Ao contrário, são pedras afiadas: são a Palavra que se torna espada para “arrancar e derrubar, destruir e demolir, para construir e plantar” (Jr 1,10) a boa nova evangélica que a terra não assume e não deve necessariamente assumir o rosto do agricultor que a está cultivando. O rosto que a terra deve ter é aquele que Deus lhe dá, porque Ele deseja concedê-lo em sua liberdade amante. Simplesmente porque é d’Ele».

Bento XVI e o ritual do Exorcismo

Sob esse aspecto, não é por acaso que, em seu ensinamento, Bento XVI assume de forma sutil e crítica a apocalíptica bíblica com o objetivo de enquadrar o conflito atual entre o humanismo cristão e o humanismo ateu (no sentido do pensamento teológico de Henri de Lubac). Ao discernir os termos do conflito, ele recupera o tema apocalíptico do Povo de Deus, mostrando como ele está envolvido em uma luta contra forças antagonistas. Dentro desse cenário apocalíptico, o humanismo ateu aparece como um exemplo do que é o falso profeta escatológico: a mentira de quem se apresenta sob o manto da verdade e, justamente por isso, acaba por desviar o Povo de Deus, destruindo-o. Seguindo a linha do livro da Revelação, o papa Ratzinger vê no testemunho profético, que tem a forma crística da caridade na verdade, a resposta adequada para esse conflito.

No renovado rito litúrgico do exorcismo, que contribui para manifestar a Igreja como comunidade de bênção, na fórmula invocativa pronunciada pelo sacerdote, pede-se ao Deus onipotente e misericordioso que escute «a oração da bem-aventurada Virgem Maria: o Filho Jesus, morrendo na cruz, esmagou a cabeça da antiga serpente e confiou à Mãe todos os homens como filhos». Assim, o rito também faz sua a testemunha da Escritura sobre esta luta entre o Bendito e o Maldito, à qual a “cheia de graça” e a “bendita entre as mulheres” está associada como mater viventium. Esta maternidade universal, a Mãe do céu não renuncia a exercer por amor aos discípulos e discípulas do Filho, que estão sob o terrível domínio do Diabo, o qual, como admitem os próprios exorcistas, a considera sua acérrima e implacável inimiga pelo simples fato de existir como criatura, como mulher, como pessoa, como redimida perfeita pela graça e pela fé, em uma relação estrutural, estável e dinâmica, abençoada e abençoante, com todos aqueles que são chamados a fazer parte da communio sanctorum!

Conclusão

À inimizade de Satanás, Maria também responde com inimizade contra ele e suas obras. No entanto, o sentido e os termos dessa “inimizade” devem ser bem explicados, pois a palavra, em seu uso cotidiano e não cotidiano, contém elementos que podem sugerir ódio e violência: nunca, porém, essas dimensões amaldiçoadas da vida foram adotadas pela Bendita entre as mulheres. Podemos ser ajudados pelo já mencionado documento mariano dos Servos, quando escreve: «Somente Cristo, de fato, nos salva de nos tornarmos como o ímpio e o idólatra retratados na oração salmódica: animais ferozes que se alimentam de carne humana, devorando à direita e à esquerda aqueles que não podem, não sabem e não querem se tornar como eles (cf. Sl 10[9],8-10; 17[16],12; 22[21],14; 35[34],17; 57[56],5). Eles espalham terror ao seu redor (cf. Jr 20,10) e destroem a criação (cf. Jr 12,10-14; 14,2-6). Maria é mãe daqueles que combatem uma ferocidade animal tão cruel. Ela é mãe de seus Servos e Servas, que escolheram viver essa luta como regra de sua vida cristiforme e cristificadora (cf. 2Mc 7,1-41). Ela é mãe de todos aqueles que, mesmo sofrendo em sua carne a violência do príncipe deste mundo, não se submetem às suas regras e lógicas. Ela é mãe daqueles que o mundo considera “mortos” e como tais os trata, oculta e apaga, mas que, na realidade, em Cristo, com Ele e por Ele, são os verdadeiros vivos, porque “retornaram dos mortos” (Rm 6,13; cf. Ap 6,9-11)».

Assim entendida, a inimizade da Mãe do Senhor contra Satanás deve ser integrada em sua peregrinatio fidei como mulher e crente, justificada, de modo sublime e perfeito, precisamente por sua fé; e deve ser inserida no dom da maternidade espiritual a ela conferido pela Providência. A esse respeito, um conhecido teólogo e exorcista escreve: «Na luta contra Satanás, reservamos um lugar todo especial à oração mariana. O mistério da Anunciação nos revela como a Mãe do Redentor soube reparar o pecado de Eva, tornando-se instrumento de salvação para toda a humanidade. Obedecendo à vontade de Deus, Maria nos restitui o paraíso… Na luta contra o antigo dragão, a Mãe de Deus é mais poderosa que um exército em batalha. “Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, estupenda como um exército com bandeiras desfraldadas?” (Ct 6,10). Muitos santos nos ensinam que a oração do Rosário é uma arma poderosa contra o demônio».

Como entender a afirmação sobre o poder que a oração mariana possui? A esse respeito, o documento dos Servos afirma: «O relato de Gênesis, além de qualquer leitura reducionista e devedora de uma tradição patriarcal indevida, introduz a mulher como aquela que “preserva” Adão em sua especificidade humana, impedindo que esta seja confundida com a animalidade (cf. Gn 2,18-25). Maria, mulher vinda da fileira dos pobres do Senhor e das santas mulheres de Israel, é a Mater viventium (cf. Gn 3,20), porque é a odigítria intacta que conduz Àquele no qual resplandece a plenitude da humanidade criada à imagem e semelhança de Deus, o verdadeiro esposo da Igreja (cf. Ef 5,29-32) […]. De fato, em sua intercessão junto ao Filho Jesus, Santa Maria pede a graça e o dom da unidade, da paz e da alegria para a humanidade, visando a construção da Civilização do Amor, superando as tendências à divisão, as tentações da vingança e do ódio, e o fascínio perverso da violência destrutiva. Apontando-nos Cristo, a Mater viventium testemunha Nele que Deus é a fonte da vida, porque não se identifica com aquele que Adão e Eva pensaram que Ele fosse ao ouvir a serpente. Segundo esta, Deus é aquele que finge gerar para a vida, mas na verdade abandona à morte, porque impede o conhecimento do bem e do mal. Sem isso, não há desenvolvimento de relações vitais e, portanto, justas, e o casal humano não sabe se posicionar no mundo à luz da verdade. O Deus revelado pela serpente assemelha-se muito ao destino narrado e transmitido pela tragédia grega, onde os personagens são forçados a confessar que o abandono é sua origem e o destino final que aguarda a todos e tudo. O Ressuscitado inverte esse paradigma de pensamento e de vida. Na hora da Cruz, Sua hora, Ele mantém inalterada a consciência de Sua origem, enquanto Filho, do Pai: Deus amou tanto o mundo que deu Seu Filho único (cf. Jo 3,16). Ele tem plena consciência de Seu nascimento: é o nascido do Pai (cf. Jo 3,6), o que desceu do céu (cf. Jo 3,13-15). Sabe bem qual é seu destino: o Pai (cf. Jo 13,1-3). A hora de Jesus não é o abandono, mas a filiação (cf. Jo 19,28-30). Nessa hora, o Filho envolve a Mãe. A Mulher das Dores se torna Mater viventium, testemunha da origem e do destino que aguarda toda a humanidade: o Deus que ama e dá».

O mistério da encarnação do Filho de Deus, verdadeiro mysterium pietatis et benedictionis, realizado pelo Espírito do Pai para derrotar o mysterium iniquitatis et maleditionis (cf. 2Ts 2,7; Ef 6,12), coloca a “Mulher” do Gênesis e do Apocalipse, mãe do Messias Jesus Cristo, em um estado de luta e serviço permanente, em contínua tensão agônica com a Igreja e seus membros. Nesse contexto de luta e vitória, em que Cristo é, apesar da nefasta virulência do Maligno, o «mais forte» que venceu «o forte» (cf. Lc 11,22), a Mãe do Redentor, «que pertence aos “humildes e pobres do Senhor”, a “Filha de Sião”, carrega em si, como nenhum outro ser humano, aquela “glória da graça” que o Pai “nos deu em Seu Filho amado”, e essa graça determina a extraordinária grandeza e beleza de todo o seu ser» (RM 11).

A fé de Maria, sua santidade, sua aceitação, com esplêndida e verdadeira humildade e docilidade, da vontade divina em todas as circunstâncias da vida e do seguimento de Jesus, seu exemplar e teologal temor de Deus, seu cooperação com Cristo e com o Espírito para a salvação dos homens (como testemunham os Evangelhos), a inimizade e a luta empreendida em sua vida terrena e continuada agora na comunhão dos santos no céu, contra o mal e o Maligno, evidentemente são partilhados, por meio dos sacramentos e dos múltiplos dons do Espírito, pela própria Igreja, como ensina o Papa Wojtyla em RM 25-28. Tudo isso é «transmitido ao mesmo tempo por meio do conhecimento e do coração, adquirido ou readquirido continuamente pela oração» (RM 28). Escreve o cardeal e teólogo Angelo Amato: «As armas do cristão contra Satanás – diz São Paulo – são o escudo da fé, a couraça da justiça e a espada do Espírito (cf. Ef 6,13-17). Como Jesus diz mais simplesmente, as armas para vencer o adversário de Deus são duas: a oração e o jejum. Mas ainda mais eficazes são as armas que a Igreja nos disponibiliza, especialmente nos sacramentos da reconciliação e da Eucaristia. São os sacramentos que nos fortalecem na graça, nos assimilam a Jesus e nos tornam fortes contra toda tentação, levantando-nos imediatamente quando caímos».

Permanece, no entanto, imprescindível a exortação à oração sincera e incessante como caminho para a «salvação das almas», e nesse mesmo sentido vai o chamado à penitência e à conversão ao Deus bom e misericordioso, apresentado e manifestado de forma hipostática na pessoa de Jesus, Filho de Deus e da Virgem de Nazaré, mulher e mãe de coração imaculado e misericordioso.

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