Leão XIV e a Súplica de Pompeia

Um pontificado consagrado a Maria desde o primeiro dia
Eleito Papa em 8 de maio de 2025, Leão XIV mantém viva sua devoção mariana nos gestos iniciais de seu pontificado. Ao aparecer pela primeira vez na loggia da Basílica de São Pedro para o Habemus Papam e a bênção Urbi et Orbi, o Papa Leão XIV incluiu Maria em sua mensagem. Depois de saudar o povo e agradecer a seus predecessores, o novo Papa conduziu a Ave Maria junto com a multidão na Praça São Pedro. Este ato de encerrar sua primeira aparição pública com a Ave-Maria – invocando a proteção da Virgem Santíssima – ressaltou a confiança filial de Leão XIV em Nossa Senhora e consagrou desde o início o seu ministério petrino aos cuidados de Maria. Além disso citou a Súplica de Pompeia sobre a qual nos debruçaremos ao longo do artigo.
Súplica de Pompeia: origem, conteúdo e valor magisterial
Por que milhões de fiéis, duas vezes por ano — a 8 de maio e no primeiro domingo de outubro — erguem a voz numa mesma oração intitulada «Súplica à Rainha do Santíssimo Rosário de Pompeia»? A resposta passa por três nomes centrais: o beato Bartolo Longo, a oração do Rosário e a visão eclesial que integra devoção popular, caridade e formação espiritual.
Há orações que atravessam séculos como rios subterrâneos, emergindo sempre que o povo de Deus precisa de consolo. A Súplica à Rainha do Santíssimo Rosário de Pompeia é um desses cursos de água viva. Para compreendê‑la, basta seguir a trajetória fascinante do beato Bartolo Longo, convertido das sombras do anticlericalismo às luzes fulgurantes do Rosário. Em 1872, numa tarde abrasadora, ele prometeu nunca abandonar o vale quase deserto de Pompeia enquanto não tivesse ali propagado a coroa mariana. A partir dessa decisão, a paisagem mudou: festas populares, confrarias, missões, a chegada de uma simples tela que se tornaria ícone, depois a construção de um santuário grandioso que ainda hoje aponta ao céu como um dedo de esperança. Entre tijolos e Ave‑Marias, Longo ergueu também escolas, orfanatos e lares para filhos de presidiários, convencido de que contemplar Cristo com Maria dilata o coração a ponto de abraçar todos os marginalizados.
No coração desse projeto lateja a Súplica, composta em 1883, retirada mais tarde do livreto I Quindici Sabati e multiplicada em incontáveis folhetos que viajaram pelo mundo. O texto abre‑se com louvores quase litânicos, em que Maria é chamada «augusta», «bendita», «onipotente por graça». Mas logo desliza para uma confissão ardorosa de miséria, oferecendo‑se como espelho no qual o pecador se reconhece e se levanta. A oração avança então num crescendo de intercessões, pedindo do trono da Mãe o que só o Pai pode conceder: paz em tempos de guerra, perdão onde grassam ódios, justiça onde reinam desigualdades, luz para os que perderam a fé. Cada invocação parece pulsar na cadência própria do Rosário, evocando mistérios cristológicos que se tornam bálsamo concreto para feridas do presente.
A força da Súplica não reside apenas na beleza retórica. Ela foi selada pela aprovação pontifícia já em 1887, ganhou voz radiodifundida e, duas vezes por ano, atravessa as fronteiras do santuário como um coral planetário. Quando João Paulo II beatificou Bartolo Longo, chamou‑o «apóstolo do Rosário» e reconheceu que aquela oração havia convertido um vale árido em laboratório de caridade cristã. Quem a reza hoje percebe que as suas palavras unificam desiguais: camponeses e cardeais, crianças e idosos, todos se colocam numa mesma fila de súplicas que sobe até o Coração do Filho. É doutrina posta em forma poética, teologia traduzida em compaixão, eclesiologia vivida como fraternidade.
Talvez o seu segredo seja exatamente esse movimento pendular entre contemplação e ação. Longo escrevia que «dois amigos, convivendo diariamente, acabam por partilhar até os costumes». Conversar com Cristo e com a Virgem, repetindo os mistérios, transforma quem reza. A Súplica torna esse encontro quase tangível, pois passa da memória das maravilhas divinas à necessidade urgente dos nossos dias. Ali, a Virgem não é musa distante, mas «Mãe dos pecadores» que perscruta cada dor e a apresenta, como perfume, diante do trono divino. Rezá‑la implica assumir compromisso, tal como o seu autor assumiu — o mesmo vale arruinado que viu igrejas erguidas também viu orfanatos e escolas, jurídicas defesas de condenados e filas de pobres saciados.
Num tempo que exalta a velocidade e consome notícias como faíscas, a Súplica oferece uma respiração mais funda. Ela recorda que o Evangelho floresce quando alguém ousa acreditar que o menor espaço pode tornar‑se epifania da graça. Rezar essas linhas é ingressar na corrente de milhões que, a cada 8 de maio e primeiro domingo de outubro, pronunciam as mesmas palavras, seja em catedrais neogóticas, seja em favelas de lata, seja em transmissões on‑line. O eco percorre o globo, mas volta sempre ao vale de Pompeia como uma onda de gratidão.
Se a oração mariana corre o risco de parecer repetitiva, Bartolo Longo a resgata como fonte de criatividade evangélica. O que torna a Súplica apaixonante é o afeto que destila e a promessa embutida: quem se confia a Maria descobre o Cristo e, descobrindo o Cristo, encontra o próximo. Por isso, a cada invocação final — «Rainha do Rosário de Pompeia, rogai por nós» — o orante, ainda que silencioso, sente‑se chamado a continuar a história iniciada por aquele advogado convertido, transformando desertos em jardins de misericórdia.
A súplica de Pompeia
I – Ó Augusta Rainha das vitórias, ó Virgem soberana do Paraíso, ao vosso nome poderoso rejubilam‑se os Céus e, de terror, estremecem os abismos. Ó gloriosa Rainha do Santíssimo Rosário, nós todos, vossos felizes filhos, que a vossa bondade escolheu neste século para vos erigir um Templo em Pompeia, aqui prostrados aos vossos pés, neste dia soleníssimo da festa dos vossos novos triunfos sobre a terra dos ídolos e dos demônios, derramamos em lágrimas os afetos do nosso coração e, com a confiança de filhos, expomos as nossas misérias.
Oh! desse trono de clemência onde estais sentada qual Rainha, volvei, ó Maria, o vosso olhar piedoso para nós, para todas as nossas famílias, para a Itália, para a Europa, para toda a Igreja, e compadecei‑vos das angústias em que nos agitamos e dos trabalhos que amarguram a nossa vida.
Vede, ó Mãe, quantos perigos, na alma e no corpo, nos cercam e quantas calamidades e aflições nos oprimem. Ó Mãe, detende o braço da justiça do vosso Filho indignado e vencei, com a clemência, o coração dos pecadores: eles também são nossos irmãos e vossos filhos, que custaram sangue ao doce Jesus e golpes de espada ao vosso Coração sensitíssimo.
Hoje mostrai‑vos a todos como sois: Rainha da paz e do perdão. Salve Rainha.
II – Ó, é verdade, é verdade que nós, primeiro de todos, embora vossos filhos, com os nossos pecados voltamos a crucificar em nosso coração Jesus e traspassamos de novo o vosso Coração. Sim, confessamo‑lo, somos dignos dos mais duros flagelos. Lembrai‑vos, porém, de que no cimo do Calvário recolhestes as últimas gotas daquele sangue divino e o último testamento do Redentor agonizante. Esse testamento de um Deus, selado com o sangue de um Deus‑Homem, declarava‑vos nossa Mãe, Mãe dos pecadores. Vós, portanto, como nossa Mãe, sois a nossa Advogada, a nossa Esperança. E nós, gemendo, estendemos para vós as mãos suplicantes e bradamos: Misericórdia!
Compadecei‑vos, ó boa Mãe, compadecei‑vos de nós, das nossas almas, das nossas famílias, dos nossos parentes, dos nossos amigos, dos nossos irmãos falecidos e, sobretudo, dos nossos inimigos e de tantos que se dizem cristãos e, no entanto, dilaceram o Coração amável do vosso Filho. Piedade, ó piedade hoje imploramos pelas nações extraviadas, por toda a Europa, por todo o mundo, para que voltem arrependidos ao vosso Coração. Misericórdia para todos, ó Mãe de Misericórdia. Salve Rainha.
III – Ó, que vos custa, ó Maria, atender‑nos? Que vos custa salvar‑nos? Não colocou Jesus em vossas mãos todos os tesouros das suas graças e misericórdias? Vós estais entronizada, coroada Rainha, à direita do vosso Filho, cercada da glória imortal acima de todos os coros dos Anjos. Vós estendeis o vosso domínio por toda a largura dos Céus, e a vós estão sujeitas a terra e todas as criaturas que nela habitam. O vosso poder alcança até o Inferno, e só vós nos arrancais das mãos de Satanás, ó Maria. Vós sois a Onipotente por graça, portanto podeis salvar‑nos. Se dizeis que não quereis ajudar‑nos por sermos filhos ingratos e indignos da vossa proteção, dizei‑nos ao menos a quem mais poderemos recorrer para sermos libertos de tantos flagelos.
Ah, não. O vosso Coração de Mãe não tolerará ver‑nos, vossos filhos, perdidos. O Menino que vemos sobre os vossos joelhos e a mística coroa que contemplamos na vossa mão inspiram‑nos confiança de que seremos atendidos. Confiamos plenamente em vós, lançamo‑nos aos vossos pés, abandonamo‑nos como débeis filhos nos braços da mais terna das mães e, hoje mesmo, sim, hoje, esperamos de vós as graças suspiradas. Salve Rainha.
Uma última graça vos suplicamos agora, ó Rainha, que não podeis negar‑nos neste dia soleníssimo. Concedei a todos nós o vosso amor constante e, de modo especial, a vossa bênção materna. Não, não nos levantaremos de vossos pés, não nos afastaremos de vossos joelhos enquanto não nos houverdes abençoado.
Abençoai, ó Maria, neste momento, o Sumo Pontífice. Aos antigos louros de vossa coroa, aos velhos triunfos do vosso Rosário — pelos quais sois chamada Rainha das vitórias — acrescentai ainda este, ó Mãe: concedei o triunfo à Religião e a paz à sociedade humana. Abençoai o nosso Bispo, os Sacerdotes e, de modo particular, todos os que zelam pela honra do vosso Santuário.
Abençoai, enfim, todos os Associados ao vosso novo Templo de Pompeia e quantos cultivam e promovem a devoção ao vosso Santo Rosário.
Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação nos assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio comum, nunca mais te deixaremos. Serás nosso consolo na hora da agonia; a ti daremos o último beijo da vida que se extingue. E o último acento dos lábios pálidos será o vosso nome suave, Rainha do Rosário do Vale de Pompeia, ó nossa querida Mãe, único refúgio dos pecadores, soberana consoladora dos tristes. Sede em toda parte bendita, hoje e sempre, na terra e no Céu. Assim seja. Salve Rainha.
Saudação da Comunidade Locus Mariologicus ao Papa Leão XIV
Que a Bem‑Aventurada Virgem Maria, Mater Ecclesiae e Estrela da Nova Evangelização, revista o vosso ministério petrino com a claridade do seu fiat — ato de fé e de amor que colocou no mundo a própria Luz. Unidos à Igreja inteira, recorremos a Ela com as palavras da mais antiga súplica mariana: Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genetrix (Sob a tua proteção nos refugiamos, santa Mãe de Deus). Confiamos‑vos, pois, à sua ternura materna, certos de que, sob o seu olhar, a Barca de Pedro avançará firme na esperança, na unidade e na caridade.
Maria, Salus Populi Romani e Mater Spei, rogai por nós e guiai o Pontificado de Leão XIV ad multos annos, para glória da Santíssima Trindade e alegria de todos os fiéis.
Responses