A experiência do “encontro” com a imagem de Aparecida

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A Mariologia para além de ser um pensamento interdisciplinar acerca de Maria na Revelação e as suas influências no pensamento dogmático e litúrgico se dedica também ao ‘fenômeno mariano’. Certamente as aparições são as mais conhecidas, mas existem outros termos que designam de forma geral a presença de Maria: as mariofanias e as visões.

Para além destes termos dentro do ‘fenômeno mariano’ existe um evento muito documentado e originante de vários santuários que é a inventio, a tradução deste termo não é invenção mas sim encontro. A experiência do encontro com a imagem de Aparecida é então um encontro, dadas as suas particularidades. Não querendo aqui referir a história de Aparecida de todos conhecida, gostaria apenas de colocar em perspectiva mariológica a importância de uma inventio

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Este termo provém de Alexandre de Cipre (m. 565) que escreve a obra Inventio Crucis que se refere à descoberta, encontro da Cruz de Cristo. É uma obra que se dedica ao louvor da cruz recapitulando a história da criação, da religião, praticamente do mundo até aos tempos de Constantino, oferecendo uma visão da encarnação e da Trindade dirigidas à Cruz.

Para encontrarmos este termo aplicado à questão mariana será Teodoro Sincelo que no século VII escreveu a obra Inventio et depositio vestis in Blachernis que trata da descoberta das vezes da Mãe de Deus e da sua translação de Jerusalém para a Igreja de Blachernis, outrora Constantinopla, atual Istambul na Turquia. 

A partir destes dois elementos históricos, a cruz e as vestes, podemos ver como estruturalmente se indica uma realidade escondida, que por divina Providência é desvelada ao olhar humano e naturalmente ou sobrenaturalmente se oferece gratuitamente. De fato, não existem relatos de uma procura de imagens de Maria mas de um encontro improviso de uma imagem. Do ponto de vista mariológico é o Deus invisível que se deixa conhecer através de meios dos quais Maria é uma presença por excelência. 

Permitindo-me saltar de séculos gostaria de concluir indicando que aquele que procura Deus no tempo que hoje vivemos, que é refletido na nossa sensibilidade eclesial, deverá deixar-se tocar, e quem sabe trespassar pelo Espírito Santo. Apenas Ele é que pode tornar concreta, fecunda e estável a vida de fé de todos os dias, foi esta a experiência histórica de Maria de Nazaré. Ao mesmo tempo, tal como Maria, procuramos continuamente o grande dom do Espírito Santo que é Cristo, nós procuramo-lo e aprendemos onde encontrá-lo. Na tradição latina Maria é conhecida por inventrix gratiae, ou seja do verbo invenire que nós traduzimos por encontro mas também por procura precisa. Procurar com um objetivo que é claramente a radicalidade com que o Espírito Santo ‘inundou’ a Serva do Senhor. Prefiguração de cada fiel que aproximando-se da Mãe de Deus se aproxima do Espírito e de Jesus Cristo para ser conduzido ao Pai. 

Permitam-me terminar o nosso percurso com as palavras de São Bernardo quando diz: «Per te accessum habeamus ad Filium, o benedicta inventrix gratiae, genitrix vitae, mater salutis: ut per te nos suscipiat qui per te datus est nobis» [Por ti temos acesso ao Filho, oh bendita ‘encontradora’ da graça, geradora da vida, mãe da salvação: para que nos acolha Aquele que por ti nos foi dado] (De adventu Domini, serm. 2, n. 5). O sentido da inventio de Aparecida pode encontrar nesta fórmula a sua razão de ser.

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