Advento: como tudo começou

Definição de advento 

Para os cristãos ocidentais, essas são as quatro semanas que preparam o Natal e formam o início do ano litúrgico. Caracterizam-se pela redução dos sinais festivos: não se reza o Glória (exceto na solenidade da Imaculada Conceição); a cor litúrgica é a penitencial, ou seja, roxa (exceto no terceiro domingo do Advento, quando se pode usar a cor rósea). O termo “Advento” também se refere à “Segunda Vinda” de Cristo no final da história. No Oriente os bizantinos começam o advento com um jejum de quarenta dias que começa a 15 de novembro, e a Igreja siriana ocidental faz 6 semanas de preparação para o Natal.

Origem e desenvolvimento do advento

A celebração da Páscoa na Igreja dos primeiros séculos era dominada pela expectativa da manifestação definitiva do Senhor. Por esta razão, a vigília pascal durava até de noite; somente neste momento poderia começar a liturgia eucarística. O Ressuscitado aparecia entre os seus de modo sacramental, como o sol da manhã que anuncia simbolicamente o dia sem fim!

Esta expectativa da segunda vinda de Cristo – daí a invocação «Maranatha: Vem, Senhor!» (Ap 22,17.20) – era uma das características da antiga piedade cristã.

Na concepção pagã, a divindade vinha em determinado dia, uma vez por ano, habitar em seu templo: essa presença ou vinda – em latim adventus – podia também durar vários dias, enquanto durassem as festividades. O culto do imperador valeu-se desta ideia: o adventus tornou-se a visita ou aniversário ou festa do imperador, que se celebrava como se fosse o seu regresso.

O advento cristão remete ao Natal-Epifania, que devem ser vistos em conjunto como celebrações complementares. A epifania, uma palavra grega, indica o aspecto de manifestação dessa vinda. Estas festas não têm a antiguidade nem a importância da Páscoa: mas quando surgiram no século IV, depois da liberdade de Constantino, difundiram-se rápida e simultaneamente no Ocidente e no Oriente, embora com características e sensibilidades diferentes. Tratava-se, evidentemente, de um fato que já estava de alguma forma presente e esperado no povo cristão. 

Na luta contra o arianismo – heresia que negava a filiação divina de Jesus de Nazaré, – o Natal tornou-se a festa do dogma da divindade de Cristo, definido no Concílio de Nicéia (325), e a sua celebração equivalia ao triunfo da ortodoxia.

O que foi o Concílio de Niceia?

O primeiro concílio ecumênico, convocado pelo imperador Constantino, o Grande (m. 337), e realizado em Nicéia (hoje, Iznik, Turquia) para lidar com a heresia ariana que ameaçava quebrar a unidade da Igreja e do Império Romano. Ário, um sacerdote alexandrino, sustentou que Cristo, longe de ser plena e verdadeiramente divino, era simplesmente a primeira criatura de Deus. O Concílio respondeu ensinando que Cristo é o Filho Unigênito do Pai e é homoousios (palavra grega que significa “do mesmo ser” ou “consubstancial“) com o Pai. O Concílio também reconheceu os direitos patriarcais de Alexandria, Antioquia e Roma e prescreveu a solução alexandrina em relação à data da Páscoa para todos. Uma estrela em ascensão do Concílio foi Santo Atanásio, que mais tarde se tornou Bispo de Alexandria (m. 373), que compareceu como arcediago e companheiro de seu bispo Alexandre de Alexandria.

Significado da palavra Advento

Palavra cristã de origem pagã, o ADVENTO designava primeiramente o aniversário do nascimento do Senhor e a celebração de sua manifestação (isto é, seu retorno ou sua visita).

No início, advento, de acordo com o significado da palavra, designava, portanto, a festa, não sua preparação ou expectativa. Com esta palavra (adventus Domini) o Natal se designava nas homilias dos Padres da Igreja, nas orações dos antigos sacramentários, nos primeiros calendários cristãos. Aqui um dado deve ser recuperado. Na celebração litúrgica coexistem sempre as três dimensões da história: 

  • a memória do passado;
  • o mistério celebrado no presente;
  • a antecipação do futuro. 

É necessário sublinhar esta tríplice dimensão do mistério do Advento, sob pena de empobrecer ou mesmo desvirtuar o seu sentido, subjugado pela onda de sentimento popular que envolve com devoção o nascimento do menino Jesus, uma tentação pagã, sempre surgindo e nunca completamente superado.

No nosso caso, sobrepõe-se a expectativa do nascimento do Salvador, vivida por muitos séculos pelo povo de Deus, Israel; seu nascimento humano ou encarnação; a manifestação na glória, no cumprimento da história, a chamada parusia

Definição de Parusia:

A visita oficial de um soberano. Nos primeiros documentos cristãos (1 Ts 4,15; 1 Cor 15,23), o termo parousia indica a volta gloriosa de Cristo no fim da história para julgar o mundo (Mt 24,29-31; 25,31-46). Este será o dia do Senhor (1 Cor 1,8) quando Cristo «aparecerá uma segunda vez» (Heb 9,28). Os cristãos devem esperar pacientemente por esta vinda (Tg 5,7-8; 2 Pd 1,16; 3,4.12; 1 Jo 2,28). Os Sinóticos relacionam a expectativa do fim com a admoestação à vigilância (Mt 24,36; 25,13; Mc 13,1-37; Lc 21,5-36). O Evangelho de João fala da ressurreição que acontecerá no último dia (Jo 6,39.40.44.54; 11,24). A futura vinda de Cristo em glória para julgar os vivos e os mortos é professada em vários símbolos de fé. Os orientais enfatizam a dimensão coletiva dessa realização futura mais do que os ocidentais. Alguns teólogos contemporâneos preferem não falar da “segunda” vinda, pois a parusia nada mais é do que a consequência final da primeira vinda de Cristo na encarnação. Hoje podemos dizer que será o mundo que virá a Deus na parusia ao invés de Cristo ao mundo.

A história do Advento

Historicamente falando, o nascimento do Salvador foi preparado no Antigo Testamento. Psicologicamente, o mistério do Natal, pelo crescente sucesso popular que esta festa foi adquirindo a ponto de ameaçar suplantar a Páscoa, exigia um período de preparação. Mas nunca se chegou a fazer deste tempo o paralelismo com a preparação para a Páscoa, a Quaresma, que tem um significado completamente diferente (sobretudo pelo tom alegre, ainda que contido, com que se impregna o Advento).

Enquanto o Ciclo Pascal (a Quaresma e o tempo depois da Páscoa em particular) aparece uniforme e solidamente estruturado nos calendários litúrgicos do Oriente e do Ocidente cristãos, o tempo do Advento apresenta-se com soluções extremamente variadas nas diversas igrejas. 

Do ponto de vista de seus domingos, é uma peculiaridade do Ocidente latino. Ainda hoje, enquanto o rito romano o celebra em quatro semanas, na igreja de Milão ele consiste em seis domingos tal como na Igreja Siríaca.

A história do Advento é complexa, às vezes até misteriosa. O Advento não tem um único local de nascimento, mas surge quase simultaneamente em várias partes e com características diversas, entre as quais a batismal (em Espanha e na Gália, devido à influência oriental, consistia em três semanas – de 17 de Dezembro a 6 de Janeiro – de intenso catecumenato, sendo a Epifania a festa do batismo de Jesus no Jordão). Surgiu relativamente tarde (século VI-VII); sua característica ascética e espiritual prevaleceu sobre a dimensão litúrgica.

É impossível acompanhar aqui a história do Advento nas igrejas ocidentais (hispânicas, galicanas, ambrosianas, entre outras). Porém, é preciso reconhecer que o seu caráter escatológico (a expectativa da manifestação final de Cristo juiz), tão fortemente sentido nas origens, foi se desbotando e obscurecendo ao longo dos séculos, quase até desaparecer, devido ao crescimento – até se era quase exclusivo – da visão do Natal como a festa do nascimento de Jesus a partir de Maria. O Advento é cada vez mais entendido como uma mímica sagrada: a repetição anual das expectativas e preparações do Antigo Testamento.

A atual reforma litúrgica, como transparece nos textos do lecionário, do missal e da liturgia das horas, querendo recuperar a dimensão escatológica, realizou uma operação de tipo prático: 

  • nas primeiras semanas deu um caráter predominantemente escatológico (advento escatológico); 
  • de 17 a 24 de dezembro recebeu um caráter marcadamente natalício (Advento de Natal e é aqui que se encontram os elementos marianos mais importantes); 
  • a festa do Natal, embora não faltem os outros temas, celebra a encarnação, ou seja, o nascimento terreno de Jesus (todas as outras festas que se lhe seguem seguem esta linha, incluindo a Epifania). 

Pode-se dizer que o estado e a situação do advento são permanentes: a igreja experimenta um advento perpétuo, até que o Senhor venha. O mistério do advento coincide com o mistério da história, que se revela como manifestação do juízo de Deus sobre o mundo. Com efeito, a expectativa e a esperança são o traço distintivo da fé cristã. Para s. Bernardo, o ‘sacramento’ do advento equivale ao mistério da presença de Cristo no mundo: suas quatro semanas são um sinal efetivo do intervalo entre a primeira e a segunda manifestação, isto é, do tempo da Igreja.

Oração de Adrienne von Speyr:

ORAÇÃO DE MARIA NA DOCE ESPERA DO MENINO

Pai, você me deu o seu Filho. Ele vem a mim como Deus e também como o Menino que estou esperando. 

Pronunciei o primeiro sim na fé, na confiança, na esperança, ao saber que sua vontade tem que ser feita em mim.

Eu pronunciei esse sim no Espírito de seu Filho, que será meu Filho. Eu não poderia deixar sem resposta, porque através de ti, meu filho fez uma pergunta.

Pai, agora existe um grande medo em mim. É a angústia diante do teu mistério, a angústia de não estar à altura da missão que me apresentas. Como devo eu, tua serva, criar teu Filho? Como devo acompanhá-lo nos primeiros anos? Como ele pode aprender a falar convosco através de mim? Como ele pode entender de mim como te adorar?

Pai, só peço uma coisa: guarde o meu sim. Guarde-o também agora, quando a angústia lateja em mim. Guarde-o sempre como a palavra que não tenho forças para pronunciar e que, no entanto, dei ao meu Filho.

Deus Espírito, eu também disse sim a vós. Eu disse sim para ser mãe, a mãe que devo ser para meu Filho. O Menino me foi dado, confiado a mim, porque Ele mesmo me destinou desde sempre para ser sua Mãe.

E diante desse mistério agora um grande medo me invade. Eu sei que não só te dei meu corpo, mas também minha alma, para que tu fertilizes corpo e alma, para que ambos sirvam verdadeiramente ao Filho do Pai que tu me trouxestes.

Mas tenho medo. E não sei se o teu Espírito tira a angústia da minha alma ou se a provoca. Só te imploro: guarda o meu sim, dá-me forças para te mostrar todos os dias de novo que quero muito dizer sim. É por isso que eu imploro pelo teu Espírito, que pertence ao Pai e ao meu Filho.

Meu filhinho, meu Deus, eu te adoro. Você ainda é muito pequeno para entender minha angústia. No entanto, você é meu Deus. Tu és o Deus que tanto esperamos e que me escolheu para ser tua Mãe.

E se agora experimento esta angústia, realmente me angustio por ti, porque sei que conhecerás a angústia como ninguém jamais a conheceu. Não te peço que tires de mim esta angústia. Só vos peço que a deixeis frutificar em vós e que, conhecendo a profunda angústia do homem, quando o Pai e o Espírito vos abandonam, saibais, no entanto, que ainda tendes uma Mãe. Uma Mãe que conhece tuas angústias, pelo menos em parte.

Concede, Pai, Filho e Espírito, que por tua graça eu cumpra minha tarefa, que certamente não consigo entender. Que eu o cumpra como esperas de mim. E disponha de mim dia após dia segundo o seu beneplácito, ouvindo sempre o sim, mesmo quando já não tenho forças para pronunciá-lo. Amém.

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