No hoje da Igreja Católica, as duas ‘âncoras’ da assembléia convocada e reunida são a Eucaristia e Maria. É impressionante esta ligação quando se visita um santuário Mariano e se encontram os percursos praticamente idênticos dos peregrinos católicos: a) sacramento da reconciliação; b) comunhão eucarística; c) adoração e procissão eucarística. Nesses mesmos santuários o dedilhar das contas do Rosário ao longos dos mistérios luminosos sempre termina com a instituição da Eucaristia.
É neste contexto que falamos da relação entre Maria e Eucaristia que foi cristalizada pelo último capítulo da Encíclica de São João Paulo II Ecclesia de Eucharistia (2003) onde se faz o apelo a regressar à escola de Maria a partir do Novo Testamento passando pela história viva da Igreja até chegar aos nossos tempos. Façamos também nós esse percurso.
Quando olhamos para o Novo Testamento regressamos ao tempo do Jesus histórico e à primeira Igreja de Jerusalém, os testemunhos sobre Maria e a Comunidade em oração chegam-nos em dois versículos:
At 1,14: «Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres – entre elas, Maria, mãe de Jesus – e com os irmãos dele»
At 2,42: «Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações»
Esta descrição da vida comunitária do Novo Testamento deixa-nos concluir que existe uma maternidade espiritual de Maria associada ao Filho que se expande no dom da vida eterna.
Existem pequenos testemunhos que de forma indireta nos ajudam a colocar Maria dentro da obra da salvação realizada por Jesus. Começamos com Lucas onde encontramos que Maria é a Mãe do: «Salvador, que é o Cristo Senhor!» (Lc 2,11). Com os dois primeiros capítulos da Infância de Jesus, o Evangelista vai traçando a pequena comunidade que cresce à volta de Jesus e que depois se concretizará na Comunidade Apostólica do Pentecostes. Na realidade a ação do Espírito Santo em Maria, Isabel, Simeão, Ana, prefiguram a nova comunidade Igreja, com Maria e os apóstolos membros eminentes, que ganham consistência e visibilidade na celebração eucarística. Em ambas as comunidades está presente ‘a Mãe de Jesus’.
A Eucaristia é memorial do mistério Pascal entre ceia e sacrifício. A Mãe do Altíssimo encontra-se associada aos sofrimentos salvíficos do filho desde a sua conceção. Quando o Anjo encontra Maria a saúda de uma forma particular (Lc 1,28) «Alegra-te» porque ela se tornaria a Mãe de Jesus (Lc 1,31) «Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus», que é o Filho do Altíssimo e o Santo que tomará o Trono (Lc 1,32.35b) «Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. […] Aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus». Toda esta proposta de Deus pede de Maria uma resposta de colaboração que acontece quando Maria diz: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”» (Lc 1,38). Esta resposta eco em cada resposta de fé dos fiéis de todos os tempos e lugares. No mesmo contexto vemos também a apresentação de Jesus no templo onde Lucas narra a intervenção do Espírito Santo em Simeão (Lc 2,29-32) «“Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”». Nesta passagem vemos que a ação do Espírito Santo em Simeão o faz dirigir-se a Maria, Mãe de Jesus Salvador com as seguintes palavras (Lc 2,34-35): «“Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”». Esta metáfora da espada indica também a participação da Mãe nos sofrimentos salvíficos do Filho, são sofrimentos que acompanham Maira ao longo da sua vida e imploram graça também no tempo da Igreja. Depois do mistério pascal, Última Ceia, Paixão, Morte, Ressurreição, o Evangelista Lucas é o único que nomeia Maria pelo nome colocando-a no meio da comunidade que espera o dom do Espírito. A Mãe de Jesus é colocada como uma ponte entre o tempo de Jesus (Evangelho) e o tempo da Igreja (Atos dos Apóstolos).
Depois do acontecimento do Pentecostes, encontramos a eficácia do Espírito Santo na Comunidade eclesial pois todos eles eram (At 2,42.46-47): «Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. […] Perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. […] Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas». Tendo em consideração esta descrição, podemos com segurança afirmar que a Mãe de Jesus estava presente na fração do pão (Eucaristia), acompanhava os ensinamentos dos Apóstolos, participava do amor fraterno, orações e usando as palavras de Isabel, se prestava um particular reverência a Maria por ser a Mãe do meu Senhor a quem a Trindade doou um papel único na história da salvação. Quando assistimos cronologicamente à composição do Magnificat onde Maria afirma (Lc 1,48b): «todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz» é um claro eco desta condição da primeira Comunidade que suscitada pelo Espírito Santo praticava o Louvor pelo dom de Jesus à humanidade e pelo sim da Virgem.
Agora responda abaixo: Como alinhar a espiritualidade mariana à Eucaristia?