Locus Mariologicus

Nossa Senhora das Dores, tem sentido?

No mês onde celebramos Maria, a senhora das dores, vamos refletir sobre o sentido desse tema.
Se pensarmos numa expressão que caracteriza o drama da vida de Maria encontramos como lugar comum Nossa Senhora das Dores. Esta invocação sobretudo em tempos de dor como é a perda de um familiar, de um amigo,a perda do trabalho, encontra em Maria não quem cura a dor mas quem vive a dor conosco.

A Senhora das Dores evoca sentimentos da espada da dor que trespassa todas as vidas de todos os tempos. Encontrar em Maria uma presença no momento mais pesados dando-nos conforto e infundindo-nos esperança, é um gesto de misericórdia associado intimamente à injustiça da Paixão de Jesus e a cada uma das pessoas.

A Mãe da dor tem um profundo significado espiritual que procuraremos demonstrar. Quem sofre, encontra na mãe um reflexo da compaixão divina que se torna única e verdadeira consolação. É célebre a imagem da Mãe com o Filho deposto da cruz nos seus joelhos, sobretudo porque nos estimula a aproximar-mos ao mistério da dor sem estarmos sozinhos mas com uma visão de fé que nos permite acreditar numa luz. Esta explicação não se desdobra dentro do nosso âmbito racional, mas nos introduz ao grande mistério pascal, da morte injusta de Cristo onde o instrumento da dor se tornou a nossa salvação, vivendo Maria todo este mistério ao lado do Filho.

Os Evangelhos nos indicam três momentos sobre a dor vivida por Maria: a profecia de Simeão, a perda do Menino Jesus no templo, a presença no Calvário junto à cruz. Não entrando em aprofundamentos exegéticos acerca destas passagens escriturísticas deixo apenas a referência de que a referência constante destes versículos são a Paixão-Ressurreição de Jesus. Evento amargo e glorioso, onde nascimento e morte, derrota e vitória, trevas e luz, abandono e encontro se fundem no eterno paradoxo cristão. Conosco também é assim, dor e esperança, medo e fé. Quem de nós não tem vivido momentos assim sobretudo nesses tempos, onde nossa única esperança é Cristo e a presença de Maria que nos consola e ensina a sofrer com fé.

Maria é envolvida por este mistério junto ao Filho onde a glória e a dor aparecem compreendidas apenas no fiat da Serva do Senhor que não deixa de o repetir junto à nossa cruz. Quando nos dirigimos à Tradição encontramos na liturgia a figura de Maria como a cordeira que segue o cordeiro destinado ao matadouro. Esta imagem por quanto estranho nos possa aparecer indica-nos como a dor de Maria não é uma dor isolada, fechada dentro de uma desolação. Em vez disso é uma mãe cheia de comunhão pelo Filho, que na cruz oferece a vida como sacrifício de amor pela salvação da humanidade. 

Esta imagem de Maria como Mulher das Dores ao lado do Homem das dores é também para nós pedagógica porque nos faz encontrar com a ressurreição nos momentos mais dolorosos de morte. As lágrimas de Maria convertem-se pela fé em lágrimas de esperança pelo Domingo da Ressurreição prometido. Esta eminente esperança toca-nos pela compassio Virginis, isto é, a nossa presença na compaixão da Virgem para com Cristo que nos oferece a vida através da sua morte.

A pessoa e a missão de Maria no mistério da dor dos cristãos é também vista como a mulher que está para dar à luz e que grita com as dores de parto atravessada pela espada da dor. Esta imagem muito forte do mundo mariológico adquire um significado que não nos deixa indiferentes quando pensamos na Mulher de Apocalipse 12. Pensemos a nós como filhos da Ressurreição de uma maternidade espiritual doada por Cristo na cruz ao discípulo amado e logo nos apercebemos da importância desta maternidade. 

Na tradição católica temos ainda a devoção às 7 dores de Maria que tem encontrado uma grande aceitação por parte da nossa sociedade, são elas: profecia da espada (Lc 2,34-35); fuga para o Egito (Mt 2,13-14); a perda de Jesus no templo (Lc 2,43-50); o encontro de Jesus na via do Calvário (Lc 23,26-27), a presença de Maria ao lado da Cruz (Jo 19,25-27); a deposição ou Piedade (Mt 15,42) e a sepultura de Jesus (Jo 19,40-42a).

Em conclusão, contra todas as interpretações dolorísticas, encontramos a Mãe de Jesus preocupada com o futuro de Filho e como dores infligidas por pessoas que agindo contra eles não foram capazes de entender o sumo bem. A atitude de Jesus e Maria perante a dor não são de fuga, passividade, retorsão mas de aceitação espiritual e de transformação profunda. A pedagogia da dor nos obriga a assumir responsavelmente o mal e colocá-lo no horizonte cristão de salvação onde cada dor salva. 

E você como tem vivido os momentos de dor?

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