Nossa Senhora Rainha está na Bíblia?

Hoje alguém me perguntou, Daniel porque é que Nossa Senhora é Rainha? Isso está na Bíblia? Como mariólogo tenho o dever de procurar responder, então decidi ir à pesquisa e a imensidão da realeza de Maria que encontrei vou tentar sintetizar neste contributo.

Em primeiro lugar temos de ler Mateus 2,2:

Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?

Neste pequeno versículo está incluída uma pluralidade de profecias do Antigo Testamento que se cumpriram naquele momento. Os Reis magos vieram adorar o Rei. Este Monarca que não é Herodes viria a realizar o projeto de Deus como cabeça e pastor de Israel, em vez de dominar com violência sobre os mais débeis.

A Sagrada Escritura relembrando Miqueias testemunha a favor do menino nascido em Belém e também os Magos que o vieram para adorar. Eventualmente podemos dizer que a reação de Herodes é aquela de refutar e perseguir o Rei porque Jesus o é. Não se trata de um simples rei, mas o Messias-Senhor prometido como vemos na profecia de Isaías 7,14 quando explicita o sentido profundo do termo Emanuel (1,23). Na realidade nós encontramos nesta passagem por três vezes a adoração (Mt 2,2.8.11). Se observarmos o objetivo dos Magos é esse mesmo pois a divindade do Menino está já presente na profecia de Oseias 11,1 quando diz:

Quando Israel era criança eu o amava, do Egito chamei o meu filho.

Também a estrela, por quanto misteriosa possa aparecer aos nossos olhos tem uma função de desvendar a realeza da personagem. Neste simbolismo nós encontramos quando disse Números 24,17:

uma estrela sai de Jacó, um cetro se levanta de Israel

Esta estrela anuncia uma personagem messiânica como Rei que iluminará e libertará o povo dos seus inimigos.

Todos estes elementos tem grandes reflexos sobre a Mãe de Jesus pois os títulos reais do Menino correspondem também a quem o gerou. Ser a Mãe do Rei na tradição de Israel e dos povos daquela zona é uma condição de particular privilégio e dignidade. A ‘Mãe do Rei’ não era uma viúva colocada de lado, mas esta associada à realeza do Filho e contribuía para o governo. Dos poucos textos do Antigo Testamento em que encontramos citado o tema vemos que uma leitura aprofundada realça esta ligação entre Mãe e Filho no Trono Messiânico. Recordamos que para a cultura bíblica a Mãe do Rei era honrada ainda mais que a esposa. Pensemos ao caso de Betsabea que, prostrando-se perante o rei David seu marido e senhor, encontra perante ela Salomão prostrado e para ela prepara um trono e a faz sentar à sua direita como encontramos em I Reis 2,19

Betsabéia foi até o rei Salomão para falar a respeito de Adonias. O rei levantou-se e veio a seu encontro, prostrou-se diante dela e, depois, sentou-se no trono. Puseram também um trono para a mãe do rei, a qual sentou-se à sua direita.

Não nos podemos então admirar de encontrar na cultura hebraica uma descrição de Maria enquanto aquela que dá a vida ao Rei. Esta importância é tão grande que em tempos particulares a Rainha pode tomar o lugar do trono e exercer a sua regência.

A importância da mãe do Rei é ainda afirmada pela célebre profecia de Isaías 7, 14

Pois bem, o próprio SENHOR vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel.

O sinal dado por Deus por meio do profeta tem haver com a Mãe que concebendo deu à luz o herdeiro do trono de David, que leva consigo a esperança e a promessa messiânica. Curiosamente o centro de Isaías na profecia é a Mãe e não o Pai do Rei! No mesmo sentido encontramos o versículo de Miqueias:

Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas. Por isso Deus os abandonará até o momento em que der à luz aquela que deve dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará para os filhos de Israel..

Nesta passagem falando de Belém como a Pátria de David, se anuncia aquele Rei que governará Israel. A maternidade da parturiente implica a libertação do povo. Estes dois oráculos são recordados por Mateus quando vê no Menino e sua Mãe o Deus conosco e o Rei dos Judeus. As particularidades que não encontram eco nas profecias são a concepção de Jesus por obra do Espírito Santo e da maternidade virginal da Mãe do Rei. De facto, o texto não se pronuncia o Menino e os seus pais mas apenas o Menino e a sua Mãe numa alusão à condição virginal de Maria.

A união da Rainha Mãe ao Filho reside no ato de adoração dos Magos como que incluindo a Mãe na glória da realeza do Filho. A perícope de Mateus não narra um facto contingente mas um evento de salvação onde os povos peregrinam para encontrar o Salvador cuja luz abriu as trevas do mundo. Deus não se enconde mais entre os muros do Templo de Jerusalém mas se apresenta gerado de uma virgem, Menino, perseguido, em fuga, exilado. Acanto ao menino a personificação do Antigo Israel em fuga, oprimido, colocado à morte pelo faraó mas liberto pela forte poderosa de Deus.

Neste sentido Nossa Senhora é Rainha porque mãe do Rei, imagem da Igreja que perseguida juntamente com Cristo pelos dominadores do mundo não deixa de acompanhar e até mesmo de reger este novo povo a quem é pedida apenas a fé.

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Responses

  1. Consultando no IV Volume da Liturgia das Horas, constamos que Bernardo de Claraval, nsdcido na França rm 1090,após receber uma educação pródiga, fundou mais 60 Mosteiros, tornando Abade aindo muitomoço e. um lugar chamado Claraval. A partir dai notabilizou-se pela sua espiritualidade entre os irmãos monges e fieis admiradores,também por possuit um carisma notável. Dedicou, parte de seu tempo a defesa da Igreja contra cismas eminentes.Escreveu muitas obras de teologia ascética e por ser devoto de Nossa Senhora, escreveu belos sermões dedicados a Maria, Mãe de Jesus Cristo, Nosso Salvador. Um desses esta explicitado no Oficio das Leituras do dia 20 de agisto de 2020. São Bernardo morreu em 1153.

  2. Excelente!!!! Parabéns professor Daniel.
    Interessante que a profecia “uma estrela sai de Jacó, um cetro se levanta de Israel” tenha sido feita por um ‘profeta pagão’, Balaão. Essa passagem foi ‘retratada’ várias vezes na arte cristã primitiva, por exemplo, no Sarcófago Dogmático, onde temos a representação de Maria, sentada em um trono, com o menino Jesus ao colo, os três reis magos, e atrás a figura do profeta Balaão, apontando para uma estrela…
    Salve Maria!

  3. Rainha dos anjos,
    Rainha dos patriarcas,
    Rainha dos profetas,
    Rainha dos apóstolos,
    Rainha dos mártires,
    Rainha dos confessores,
    Rainha das virgens.

    “Maria tem um direito radical a esta realeza universal depois de se ter tornado Mãe de Deus; mas, segundo as disposições da Providência, ela devia também merecê-lo unindo-se ao sacrifício de seu Filho, e ela não o exerce plenamente senão depois que foi elevada e coroada no céu como rainha de toda a criação”.

    R.Garrigou-Lagrange, O.P. – “A Mãe do Salvador, e nossa vida interior”.

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