Um leigo hoje significa uma pessoa batizada que não faz parte do clero. Esta simples definição distingue dois estados de vida: os leigos e os religiosos dentro do cristianismo. Em nossa época, os leigos são revalorizados enquanto responsáveis pela Comunidade eclesial. Será a partir desta definição que falaremos sobre o laicado de Maria.
Maria enquanto Mãe de Jesus é consagrada no Espírito e se une no único sacrifício de Cristo a todo o povo sacerdotal, contudo sobre a sua dimensão laical devemos considerar três aspectos:
- Sentido Sociológico – Maria é uma mulher israelita pelo que nunca poderia desempenhar nenhuma função sacerdotal. No âmbito do lar poderia como educadora dos filhos transmitir a fé até completarem cinco anos de idade. Depois dessa idade a criança era iniciada na vida pública onde a mulher não poderia intervir. Na realidade, mesmo a presença no templo era realizada num átrio distante do espaço de oração dos homens e mesmo na escola dos escribas era proibida a participação feminina.
- Sentido Histórico – A sacerdotalidade de um homem em Israel provinha da herança de sangue. Maria mesmo pertencendo a uma família sacerdotal – na genealogia de Jesus encontramos Sadoc (Mt 1,14), [Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud;] Levi (Lc 3,29) [filho de Jesus, filho de Eliezer, filho de Jorim, filho de Matat, filho de Levi] era parente de Isabel que era descendente de Arão (Lc 1,5) – a possibilidade do sacerdócio seria para José porque era homem.
- Sentido Evangélico – A religiosidade de Maria assumiu traços semelhantes aos de Jesus como nova via muito mais existencial do que ritual. Podemos até falar de um estatuto essencial da vida laical em Lucas quando contrapõe de forma antitética a Anunciação de João Batista a Zacarias daquela de Jesus a Maria! O Anjo entra na casa de Maria (Lc 1,26) [Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,] e anuncia a morada de Deus a uma mulher leiga. Esta passagem arruina a concepção do “templo de pedra” e inaugura a “Igreja de pessoas”, pois a mediação sacerdotal secular torna-se laica onde a presença de Deus encontra a pessoa livremente independentemente da sua pertença sacerdotal. Em vez disso, o Sacerdote Zacarias permanece dentro do templo de pedra incrédulo e de consequência mudo, enquanto Isabel indica a veneração de Maria (Lc 1,42) [Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!]. Quando lemos atentamente a descrição do esposo de Isabel, este é um sacerdote que desenvolve o seu sacerdócio no templo de Jerusalém, centro do culto hebraico, era justo e irrepreensível, vivia segundo a lei e os usos (Lc 1,6) [Ambos eram justos diante de Deus e cumpriam fielmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor]. Contudo, a longa experiência religiosa e cultual de Zacarias não o poupou à dúvida sobre as palavras do Anjo.
Poderíamos citar aqui romanticamente os feitos de Maria enquanto mulher leiga, esposa e mãe, mas não se faz necessário, pois a presença de Maria na história de salvação é ainda maior do que estes estados. Para a Mariologia, todos os 153 versículos sobre Maria, que chegaram até nós, não falam de uma alteração do status da Mãe de Jesus enquanto leiga. Maria realmente participou nas atitudes e comportamentos sacerdotais de Jesus quando oferece a sua vida para a remissão dos pecados do mundo. Tinha consciência que o seu Filho tinha vindo para salvar o povo dos seus pecados (Mt 1,21) [Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”], a profecia de Simeão tinha-lhe indicado a trágica morte de juntamente com a espada que a trespassaria a sua alma e por fim na hora da Cruz assistimos a máxima revelação do Filho em relação à Mãe deixando-a em herança à comunidade dos redimidos como Mãe na sua união ao sacrifício redentor do Filho. Podemos então concluir que o laicado de Maria se baseia na resposta de fé que inaugura a irrupção de Deus no mundo. A mulher que habitava numa província desprezada (Jo 7,41) [“Verdadeiramente, ele é o profeta!” Outros diziam: “Ele é o Cristo!” Mas outros discordavam: “O Cristo pode vir da Galiléia?], proveniente de uma aldeia denegrida (Jo 1,46) [Natanael perguntou: “De Nazaré pode sair algo de bom?” Filipe respondeu: “Vem e vê”!] é exaltada pela sua fé pois deu o seu consenso (Lc 1,38) [Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?” Eles responderam: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?”]. Enquanto Mãe do Filho de Deus as suas atitudes são a escuta da Palavra de Deus, conservar e realizar na vida quotidiana aquilo que chamamos de Evangelho (Lc 8,19-21) [Sua mãe e seus irmãos vieram ter com ele, mas não podiam se aproximar, por causada multidão. Alguém lhe comunicou: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem te ver”. Ele respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”]; (Lc 11,27-28) [Enquanto Jesus assim falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. Ele respondeu: “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”]. Maria é esta que põe em prática a Palavra de Deus e nos ensina, em todos os estados e formas de vida, sejam laicais ou não, a assumir o chamado de Deus e com coragem anunciar onde estivermos “os grandes feitos” do Senhor.
E você, leigo, onde tem anunciado “as maravilhas” que o Senhor tem feito por ti? Comente abaixo como você tem feito nesses tempos de pandemia para colocar em prática o seu Laicado!