Salve Rainha: origens e comentários

Origem e uso da Salve Regina

Origem medieval

A Salve Regina está bem atestada no século XI, conhecido como o grande século da piedade mariana, e de certo modo resume a devoção mariana daquele período. Nenhuma época jamais cantou a misericórdia de Maria com um entusiasmo tão extático e unânime quanto a Idade Média. A melodia gregoriana, antiga como a própria oração, tão bela e carregada de esperança, certamente contribuiu para sua difusão. Como é sabido, foi atribuída a muitos autores. Lembramos, por exemplo, o bispo espanhol Pedro Martinez (†1000), o bispo francês Ademar (†1098), delegado pontifício na Primeira Cruzada, o italiano Anselmo de Luca (†1086), São Bernardo e outros.

Hoje se acredita que quase certamente foi composta por Hermann de Reichenau, mais conhecido como Hermann, o Coxo (†1054), também autor da Alma Redemptoris Mater. O jesuíta inglês Cyril Martindale se apaixonou pela história de Hermann após a descoberta, na biblioteca de Oxford, do volume em latim que relata sua vida. As notícias biográficas sobre Hermann nessas páginas, segundo Martindale, não falam de um deficiente abandonado, mas de uma criança confiada aos cuidados amorosos dos monges, tornando-se rapidamente um companheiro valioso para os religiosos. Esta figura singular nasceu em 18 de julho de 1013, filho de Eltrude e Goffredo, conde de Altshausen da Suécia, e foi batizado como Hermann. Devido à sua grave deformidade física (não podia ficar ereto nem caminhar), recebeu o apelido de “Coxo” (do latim “contractus“, que significa contraído, encolhido, mas também aleijado).

Aos sete anos, foi enviado ao mosteiro beneditino de Reichenau, numa pequena ilha do Lago de Constança, onde permaneceu toda a vida, tornando-se monge em 1043. A biografia também revela que Hermann não era apenas um pesquisador muito culto – conhecia matemática, grego, latim, árabe, astronomia e música – mas também um homem marcado por uma humanidade apaixonada, uma pessoa “agradável, amigável, sempre sorridente; tolerante, alegre“, que descobriu no mosteiro a beleza da amizade e o calor de um lar. Ao amigo íntimo Bertoldo, que o acompanhava diariamente, Hermann confiava seus pensamentos mais íntimos nos dias de pleurisia que o levariam à morte.

O amigo se comovia e tapava os ouvidos quando o pequeno monge dizia estar “cansado de viver“. “A vida“, escreve o biógrafo Bertoldo, “é tão cheia de vida pulsante que Hermann a viveu verdadeiramente […] por sua coragem, a beleza de sua alma, sua serenidade na dor, sua prontidão para brincar, a doçura de seus modos que o tornaram ‘amado por todos’. […] Hermann prova que a dor não significa infelicidade, nem o prazer, felicidade.

O uso da Salve entre os monges e as Ordens mendicantes

Outras informações sobre a Salve Regina indicam que, inicialmente, a antífona era uma expressão da piedade monástica. Era cantada como um hino processional em Cluny, no tempo do abade Pedro, o Venerável (†1156), que a instituiu durante a procissão da festa da Assunção e outras grandes festas. Os “Estatutos da Congregação Cluniacense”, redigidos por volta de 1135, prescreviam: “Foi estabelecido que na festa da Assunção, durante a procissão, a antífona composta para a santa Mãe do Senhor, que começa com as palavras: Salve, Regina, mater misericordiae, deve ser cantada pela comunidade. O mesmo deve ser feito nas procissões que, da igreja principal dos Apóstolos, se dirigem, segundo a tradição, à igreja da mesma Mãe Virgem […]. O motivo dessa prescrição é que, após o Criador de todas as coisas, deve-se nutrir um amor supremo e máximo pela Mãe do Criador do universo por parte de cada criatura racional.”

A Salve também era usada pelos cistercienses, o que explica por que uma das atribuições mais difundidas era a São Bernardo de Clairvaux (†1153). O beato Godofredo de Auxerre (†c. 1188), monge cisterciense, amigo e confidente de São Bernardo, é considerado o autor do comentário mais antigo à Salve Regina. Sabe-se também que o Antifonário cisterciense, reformado entre 1135 e 1145, previa o canto da Salve como antífona ao Evangelho, ou seja, ao Benedictus ou ao Magnificat, e nas quatro festas medievais de Santa Maria:

  • Purificação (2 de fevereiro),
  • Anunciação (25 de março),
  • Assunção (15 de agosto),
  • Natividade (8 de setembro).

Com uma série de intervenções legislativas, de 1174 a 1251, os capítulos gerais da Ordem ampliaram progressivamente o uso da Salve, conferindo-lhe maior importância e solenidade. Logo, a Salve Regina foi adotada pelas Ordens mendicantes. Em 1221, os dominicanos introduziram o canto diário da Salve após as completas, primeiro em Bolonha e depois nos outros conventos da Província da Lombardia, de onde se espalhou rapidamente por toda a Ordem. No caso dos Frades Menores, sabe-se que, após a reforma litúrgica realizada pelo Ministro Geral Frei Aimão de Faversham (†1244), a Salve Regina foi incluída entre as quatro antífonas cantadas após as completas, de acordo com os tempos litúrgicos do ano. Entre as Ordens mendicantes, os Servos de Maria se destacaram pelo uso frequente da Salve Regina. As Constituições antigas, redigidas em 1280, prescreviam no Capítulo I: “Não se deve omitir em nenhum tempo do ano litúrgico a Salve Regina ao final de cada hora e após a refeição comum, exceto no tríduo da Parasceve. Todas as noites a Salve deve ser cantada com grande devoção após a terceira leitura da Vigília de Nossa Senhora, quando esta é cantada; se a Vigília não for cantada, a Salve Regina deve ser cantada ao final das completas. Todos os frades presentes no convento, incluindo os provinciais e outros oficiais, devem participar desde o início, deixando de lado qualquer outro compromisso; e para que os frades não possam apresentar desculpas, o sino deve ser tocado.”

Durante o canto da Salve, os Servos inclinavam a cabeça e dobravam um joelho nas palavras “Salve Regina”, até o segundo “salve”. Na igreja de Santa Maria dos Servos em Bolonha, pode-se contemplar o ícone da Madonna della Salve, de autor anônimo do século XIII. A tradição diz que São Filipe Benizi (†1285) o doou aos frades do convento bolonhês. A comunidade fazia procissão até esse ícone, cantando a Salve. David Maria Turoldo, o mais famoso frade dos Servos de Maria, em um trecho poético, apresenta de forma sugestiva o relacionamento filial entre a Virgem e seus Servos em relação à nossa antífona: “Quantos frades e qual coro de vozes para me saudar todas as noites! E eu, sem que percebessem, com um leve sorriso, os saudava todas as noites, um por um.”

Nesta evocação histórica, não podemos deixar de recordar outro inesquecível servo de Maria, Frei Inácio Maria Calabuig (†2005). Em seu estudo sobre a Vigília de Nossa Senhora, o eminente mariólogo e liturgista dedica algumas páginas à Salve Regina e apresenta em três expressões seu conteúdo:

«A Salve Regina por seu conteúdo é simultaneamente expressão de saudação, forma de ‘clamor’, voz de súplica:
a) saudação dos servos à Rainha da misericórdia; saudação solene, expressa com feliz disposição literária: o mesmo termo abre e fecha a primeira estrofe: ‘Salve, Regina […] spes nostra, salve’;
b) clamor no sentido bíblico-litúrgico de grito de um povo oprimido que sobe ao céu (cf. Ex 2,23; 3,9); clamor, portanto, que se eleva dos servos à sua Advogada – oprimidos pela consciência do pecado e gemendo em terra de exílio – para que interceda em seu favor e obtenha para eles libertação e retorno à pátria;
c) súplica dos servos à Mãe de Jesus, para que ‘depois deste exílio’ mostre a eles o Filho, ‘fruto bendito’ de seu ventre
»

A Salve Regina – inicialmente expressão de piedade monástica e adotada pelas Ordens mendicantes – ocupa um lugar importante na piedade popular, obtendo grande simpatia entre o povo. Para atender a essa devoção, no século XVI foi estabelecido que, nos dias festivos, a antífona fosse cantada imediatamente após as Vésperas e não nas completas. No século XVII, para tornar mais popular o tributo noturno à Virgem, difundiu-se o costume entre as Ordens religiosas de aspergir com água benta – durante o canto da Salve – os frades e o povo.

Comentários sobre a Salve Regina

O texto italiano da Salve Regina – como saudação e invocação à Virgem – encerra a Liturgia das Horas e, nas Completas, apresenta-se nestes termos:

alve, Rainha, 
mãe de misericórdia, 
vida, doçura, esperança nossa, salve! 
A Vós bradamos, 
os degredados filhos de Eva. 
A Vós suspiramos, gemendo e chorando 
neste vale de lágrimas. 
Eia, pois, advogada nossa, 
esses Vossos olhos misericordiosos 
a nós volvei. 
E, depois deste desterro, 
nos mostrai Jesus, bendito fruto 
do Vosso ventre. 
Ó clemente, ó piedosa, 
ó doce Virgem Maria. 
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, 
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Entre os comentários que honraram a Salve Regina, destacam-se os de três autores: Godofredo de Auxerre (†1188), São Lourenço de Brindisi (†1619) e Santo Afonso M. de Ligório (†1787).

Godofredo de Auxerre (†1188)

Como mencionado, acredita-se que uma homilia do monge cisterciense Godofredo de Auxerre, pronunciada para a festa da Natividade de Maria, provavelmente nos anos em que ele foi abade de Clairvaux (1162-1165), seja considerado o primeiro comentário à Salve Regina. Essa homilia-comentário representou uma novidade significativa no campo da homilética monástica, uma novidade destinada a um sucesso duradouro. Foi uma novidade porque as homilias de Godofredo sempre comentavam um texto bíblico, enquanto naquele 8 de setembro ele começou a comentar um “texto litúrgico“, recentemente incluído no Antifonário cisterciense mencionado anteriormente.
Na segunda parte da homilia, o beato explica os três atributos que acompanham o título de Regina misericordiae aplicado a Maria, a saber: “vida, doçura, esperança nossa.” Segundo Godofredo, Maria é nossa vida porque, com os exemplos de sua existência santa, ela gera e educa para a vida. Ela é nossa doçura porque traz valores de imensa amabilidade, como o amor à contemplação, a alegria ao seu recordar e a confiança que seus olhos misericordiosos nos infundem. Maria é nossa esperança, primeiramente, porque é “esperança de ressurreição.”
Contemplando já realizado nela o que aguardamos com íntimo e ardente desejo – a vitória sobre a morte e a felicidade eterna -, sentimos-nos encorajados e cheios de confiança. Ela é também “esperança de misericórdia” porque, considerando a Virgem como ícone da misericórdia divina, confiamos em obter por sua intercessão o que não merecemos por nossos pecados e, sobretudo, em ver “depois deste exílio, Jesus, o fruto bendito do seu ventre.”
Esses três atributos ecoam intensamente no coração do cristão: remetem-no ao fato misterioso de sua existência (vida), à sua necessidade de consolação na amargura (doçura), à necessidade de viver numa espera que não desilude (esperança). Godofredo não enfrenta a dificuldade que representa o uso desses termos aplicados à Virgem. Ele certamente não ignora que, rigorosamente falando, nossa vida é somente Cristo, ele é a fonte da suprema doçura, ele é nossa única esperança.
Ele sabe disso e, com os monges, canta-o quando, na liturgia coral, retornam os versos do hino litúrgico Jesu Rex Admirabilis: “Jesu… vita desiderabilis/… dulcedo ineffabilis/… spes paenitentium.” Mas para Godofredo, como para seu mestre Bernardo, tudo isso é dado como certo: em Maria não há luz que não seja reflexo da luz de Cristo. A Virgem é vida, doçura, esperança nossa apenas como reflexo eficaz da ação salvífica de Cristo. O pressuposto de Godofredo no comentário à Salve é familiar à literatura devocional medieval: a consciência de sua própria miséria e pecado e, ao mesmo tempo, o anseio por libertação e vida. Diante do trono da Regina misericordiae, Godofredo e seus monges são pobres que buscam ajuda, pecadores que pedem perdão.

São Lourenço de Brindisi (†1619)

São Lourenço – frade capuchinho, sacerdote, doutor da Igreja e ilustre biblista – foi um dos maiores devotos de Maria que a história já conheceu. Ele é autor de 84 discursos sobre a Virgem, dos quais 6 são comentários à Salve Regina. O Mariale é o título dado aos discursos reunidos e publicados pela primeira vez em 1928 pela Província Veneta dos Frades Capuchinhos. Nos seis discursos sobre a Salve, o santo retoma a antiga questão sobre a relação entre os títulos “Rainha” e “Mãe” atribuídos a Maria: qual é a sua origem? Como se harmonizam?
Mais do que um problema real, trata-se de uma questão acadêmica, ou melhor, de um artifício pastoral para ilustrar as grandezas de Maria e aprofundar sua missão na vida da Igreja. São Lourenço identifica a origem dos dois títulos na semelhança de Maria com Deus e com Cristo.
Deus é sumamente poderoso (= Rei) e sumamente bom (= Pai).
De modo análogo, Maria possui grande poder (= Rainha) e é cheia de bondade (= Mãe).
Para indicar o poder e a bondade de Maria, o santo chama a Virgem de “Rainha” e “Mãe de Misericórdia“, como justamente começa a Salve. Segundo nosso autor, Deus fez de Maria uma Rainha poderosa e Mãe de Misericórdia para intervir em favor da Igreja e da humanidade. Nessa perspectiva, ele apresenta o exercício da realeza de Maria como um serviço materno de misericórdia e expressa de forma eficaz a emoção interior que o título Mater Misericordiae suscita no devoto: “Mãe de Misericórdia. Quão suave é o nome de mãe! Não se pode expressar, não se pode entender. E a Virgem não é apenas mãe, mas mãe de misericórdia, sumamente misericordiosa. Mãe cheia de clemência, de ternura, de amor.”

Santo Afonso M. de Ligório (†1787)

Grande missionário, bispo zeloso e escritor célebre, é autor da obra As Glórias de Maria, publicada em 1750. O livro teve um sucesso extraordinário e foi traduzido para várias línguas. É considerado por alguns estudiosos o magnum opus do santo, que o publicou após um longo trabalho e pesquisas históricas e teológicas minuciosas. Durante dezesseis anos, ele escutou e examinou a imensa tradição com a curiosidade de um amor ardente, com o senso pastoral de um excelente missionário, com o rigor de um teólogo a quem Pio IX concederia o título de doutor da Igreja.
A obra é um sinal da grande devoção do santo e uma expressão de gratidão à Mãe de Deus pela ajuda que ela lhe concedeu ao longo de sua vida, como resulta da declaração encontrada na “Súplica do autor a Jesus e a Maria“, colocada no início do livro: “A ti, pois, me dirijo, ó minha dulcíssima Senhora e minha Mãe Maria: tu bem sabes que, após Jesus, em ti coloquei toda a esperança de minha salvação eterna; pois todo o meu bem, minha conversão, minha vocação para deixar o mundo e todas as outras graças que recebi de Deus, reconheço que todas me foram dadas por meio de ti.”
O volume divide-se em duas partes: a primeira compreende um amplo comentário à Salve Regina, e a segunda apresenta “As virtudes de Maria.” No comentário à Salve Regina, que constitui a parte mais importante do famoso livro, Santo Afonso descreve de maneira vívida, às vezes dramática, os múltiplos intervenções da Virgem em favor dos fiéis. Maria obtém-lhes o perdão, reconcilia-os com Deus, se o pecado separa e afasta de Deus, ela aproxima, reconcilia e une. Ela intervém para manter o pecador convertido na graça: convida-o à oração, obtém-lhe luz e força, impede-o de cair novamente e obtém-lhe o dom da perseverança final. Como advogada poderosa e mãe misericordiosa, Maria não se recusa a defender as causas dos mais miseráveis; está sempre atenta para ver, compadecer-se e socorrer, especialmente nos momentos de perigo e, sobretudo, na hora da morte: então, ela está mais presente do que nunca para confortar seus devotos, defendê-los do maligno, salvá-los do inferno e conduzi-los consigo ao paraíso para o encontro eterno com Deus.


Valor e significado para o nosso tempo

Vamos agora ao terceiro ponto: o valor e o significado da Salve Regina para o nosso tempo. Mencionamos que, pelo seu linguajar e atitude cultual, pelo ambiente social que reflete e pela concepção teológica a que se refere, a Salve Regina é uma expressão típica da Idade Média. Desse período, ela expressa valores religiosos perenes:

  • a consciência da necessidade de misericórdia;
  • a consciência de estar em terra de exílio;
  • viver num mundo como lugar de edificação do Reino;
  • o anseio de contemplar o rosto de Cristo;
  • a confiança na Mãe da Misericórdia, a quem Deus confiou uma missão especial de graça e intercessão em favor do seu povo.

Por tais valores, a Salve Regina foi e é amada por gerações de fiéis. É uma oração autêntica nos lábios dos primeiros orantes e ressoa verdadeira, apesar das mudanças culturais, nos lábios dos fiéis do nosso tempo. O povo cristão invoca a Mãe da Misericórdia porque reconhece nela a misericórdia do Pai em forma materna, composta de ternura, gratuidade, generosidade e acolhimento. As demonstrações desse fato às vezes ganham caráter público. Pensemos, por exemplo, nos ex-votos e nas placas votivas penduradas nas paredes dos santuários: atestam que Maria mostra sua misericórdia ajudando nos perigos, obtendo curas e graças.
O título “Mãe da Misericórdia” – presente na Salve Regina – justamente a celebra. Em primeiro lugar, porque ela é a Mãe de Aquele que é Misericórdia, Cristo, como afirma São João Paulo II na encíclica Dives in misericordia. Enviado ao mundo por Deus, Cristo se faz homem por amor à humanidade, para compartilhar sua dor, solidão, medo e morte. Além disso, porque esse título nos lembra que Jesus no Calvário ofereceu à Igreja uma mãe: “Eis aí tua Mãe” (Jo 19,25), como guia e consolo para os filhos peregrinos na terra, e lhe confiou seus irmãos: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19,26), tornados todos seus filhos queridos, também necessitados de uma mãe ao lado da sua cruz.

Recorrer confiantemente à Mãe da Misericórdia não é apenas um pedido de intercessão pelos pecados para o povo devoto, mas sobretudo uma súplica por sua ajuda para se tornar misericordiosos, conforme o comando do Filho Jesus: “Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai” (Lc 6,36). Esta atitude é requerida pelo Senhor àqueles a quem ele concede misericórdia. Façamos, então, uma simples pergunta: o que significa para nós ser misericordiosos? Literalmente, significa ter um coração sensível às misérias alheias, estar pronto para socorrer.
É a atitude do bom samaritano que, encontrando um estrangeiro maltratado à beira da estrada, de outra fé religiosa, sente compaixão (cf. Lc 10,33), sente uma dor no coração que o leva a uma série de atos de socorro. Significa perceber o outro em vez de “passar ao largo“, ser sensível às suas necessidades, ajudá-lo concretamente, empregando seus próprios meios, tempo, forças e até mesmo a vida. Cientes de que, no caminho de conformação a Cristo, estamos sujeitos a quedas e erros, imploramos ajuda daquela que – como ninguém mais – experimentou a misericórdia de Deus: sentiu-se olhada com amor e amada por Ele (Lc 1,48), proclamando no Magnificat que sua misericórdia se “estende de geração em geração” (Lc 1,50).

Portanto, ao rezar/cantar à Mãe da Misericórdia através da Salve Regina, podemos nos comprometer a seguir Cristo, o caminho que a Mãe de Deus nos ensina a trilhar: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Como quem diz: Este meu Filho pode vos dizer algo que vos pareça estranho, mas confiem, como eu aprendi a confiar, mesmo quando suas palavras me pareceram estranhas (cf. Lc 2,49-50). Na verdade, o Filho diz aos servos algo bastante estranho: os convidados querem vinho, e vocês lhes trazem água. Eles confiam e ocorre o “grande sinal”: a água da Lei (“servia para as abluções dos judeus“: Jo 2,6), quando levada ao mestre-sala, se torna vinho. “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5).
Como?
Abandonando sentimentos de ira e propósitos de vingança contra quem nos aflige, retomando diálogos interrompidos, vencendo o mal com o bem, o ódio com o amor, enfrentando a indiferença com o amor, a ofensa com o perdão, a ingratidão com a gratidão.

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