Maria no segundo Advento
Se Cristo já veio no fim das expectativas de Israel e foi apresentado ao mundo por Maria, continua sendo aquele que ainda está por vir. «Ele virá novamente na glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim», proclamamos no Credo. Esperamos, portanto, uma segunda vinda: «Ele virá novamente».
A salvação já foi realizada e ainda deve se estender a toda a humanidade e se manifestar a cada homem em todo o seu esplendor e em todo o seu poder. Se a expectativa de Israel foi satisfeita com a vinda de Cristo Salvador, a mesma expectativa existe hoje para a Igreja e para toda a humanidade: «Maran àta: vem, Senhor» (1 Cor 16,22), é o grito que ressoou na comunidade eclesial desde o início da Igreja até hoje.
O tempo da Igreja, como se costuma dizer, é o tempo do já e do ainda não, é o tempo em que a salvação já se realizou e ainda não se manifestou plena e visivelmente. A plenitude será com a segunda vinda do Senhor. O tempo da Igreja é o tempo de um advento permanente. Cristo continua a entrar na Igreja e em cada um de nós, incansavelmente, até o fim da história, até a parusia final.
Nesta vinda incessante do Senhor Jesus, Maria continua realizando uma tarefa da maior importância: continua caminhando no mundo, como diziam os Padres da Igreja, para ser sempre aquela que prepara a vinda de Jesus.
Isto é uma verdade para toda a humanidade, para os povos da terra e especialmente para os povos que ainda não são cristãos, assim como vale para a vida batismal de cada um de nós. Podemos, portanto, refletir sobre esta dupla dimensão da tarefa de Maria em relação ao segundo advento:
- a missão que ela realiza para com a humanidade e para os povos não cristãos
- a missão que ela tem e realiza para com cada batizado.
A missão de Maria para com os povos
Façamos uma afirmação: Jesus ainda não veio para grande parte da humanidade. Sabemos que veio a alguns povos, mas não para todos. Chegou a vários homens, mas ainda não foi reconhecido por todos. Existem áreas inteiras da terra onde Jesus está como se não tivesse nascido. O Corpo místico de Cristo ainda não atingiu a plenitude, como diz Paulo, o pleroma daquele que se realiza inteiramente em todas as coisas (cf. Ef 1,23), para conduzir todas as coisas ao Pai:
«Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor 3,22-23)
Esta plenitude ainda não foi cumprida. Reconhecer a tarefa muito singular que Maria teve para que o Redentor viesse ao mundo implica reconhecer ao mesmo tempo a tarefa única e muito especial que ela realiza na preparação da vinda de Cristo entre os povos, especialmente entre os povos que ainda estão à espera do Redentor, que ainda estão no tempo do Advento.
Aqui reside a dimensão missionária do mistério de Maria, como somos chamados a contemplá-la: figura do Advento. O mistério da Virgem é estar onde Cristo ainda não está, ou ainda não foi recebido. E este é o mistério de Maria: estar presente neste espaço de espera, de Advento.
Do ponto de vista da história da salvação, em termos históricos, Maria estava em Israel antes de Jesus. Maria já estava presente naquele espaço que precede a encarnação histórica do Logos eterno no mundo. Existe um tempo, existe um advento em que Maria está presente, antes mesmo de Jesus se manifestar visivelmente à humanidade. Uma presença de Maria que precede a vinda de Jesus e não é um fim em si mesmo ou uma espera vazia. Esta é uma presença que já constitui uma ação ativa que prepara no segredo da história e trabalha, para que aquele mesmo esperado mistério da encarnação se revele e se cumpra no mundo em toda a sua plenitude e em todo o seu valor redentor.
Parece que podemos falar de um momento em que o reino de Deus já está em ação antes mesmo de Jesus o revelar explicitamente, pois Maria, mesmo antes da encarnação, é uma presença antecipada, já é um sinal eficaz de que o reino de Deus está acontecendo. Maria é o ícone da humanidade salva por Cristo antes mesmo que o próprio Cristo se manifeste e implemente historicamente a salvação.
Para além do mais, pode-se dizer também que Maria, a primeira redimida (Imaculada), é ao mesmo tempo o primeiro membro da Igreja: ela já é a Igreja antes da Igreja. A esse respeito, pode ser significativo mencionar outro fato. Maria ainda está presente naquele espaço de tempo, naquele intervalo espiritual que separa a ascensão do Pentecostes. Naquele espaço de tempo, naquele intervalo misterioso, espiritual, mas rico de significado teológico, não existe mais a presença visível de Cristo, agora glorificado, elevado ao Pai, mas Maria está ali.
O estar de Maria já é o estar da Igreja, antes mesmo da instituição oficial da Igreja que se dará formalmente com o Pentecostes. Não existe a presença visível de Jesus, não existe a presença formalmente estabelecida da Igreja, mas existe Maria, e a sua presença é de algum modo a presença da Igreja, é a garantia de que a promessa do dom do Espírito se cumprirá.
Este duplo fato, esta presença de Maria antes da encarnação e antes do nascimento da Igreja com o Pentecostes, é importante porque mostra qual é o papel da Santíssima Virgem na humanidade e entre os povos que ainda não acreditam em Jesus Cristo.
Cristo não está presente de forma explícita e reconhecida entre eles. A igreja não está explicitamente presente entre esses povos, mas pode-se supor que haja uma presença de Maria.
Antes que os povos pagãos se convertessem a Cristo, antes que a Igreja visível esteja presente no meio deles, existe uma presença mística de Maria que prepara a vinda de Cristo, prefigura a Igreja e a constitui como antecipação.
Nisso reside a misteriosa e profunda relação de Maria com os povos não cristãos. Maria é verdadeiramente a figura do advento do Reino para todos os povos.
Antes do Pai Nosso a Ave Maria
Muitos “pecadores” são incapazes de recitar o Pai Nosso, mas mesmo assim recitam a Ave Maria. E com razão, quando não é possível dizer Pai Nosso porque faltam as disposições filiais de graça e, portanto, não se reza em espírito e verdade (cf. Jo 4,23), pode-se ainda dizer Ave Maria. Onde Jesus e o Espírito parecem estar ausentes de maneira plena e completa certamente ali existe uma presença secreta de Maria.
Isso explica a relação misteriosa e extraordinária encontrada entre os pecadores e Maria, tão fortemente sentida pelos testemunhos dos pecadores. Eles invocam Maria, embora muitas vezes não consigam invocar Deus ou se aproximar da Igreja. Lembro-me de ter conhecido pessoas que por longos períodos estiveram afastadas de Deus e da Igreja de alguma forma da fé e mesmo assim confiaram em Maria durante esse tempo. E esta confiança foi o ponto de partida para aquele retorno a Deus que é a conversão. Existe realmente uma relação particular: Maria antecipa, prepara para o encontro pleno com Deus Salvador, com a Igreja e com os sacramentos.
Da mesma forma, os povos que ainda estão longe da verdadeira fé, longe do Evangelho, têm em si a presença de Maria. Jesus e a Igreja não estão explicitamente lá, mas Maria certamente está lá. Uma misteriosa proteção, uma misteriosa preparação mariana envolve os povos que ainda não conhecem a Cristo. Podemos invocá-la, especialmente para eles, reconhecemos em Maria o caminho de encontro com o Espírito Santo. Podemos reconhecer também que onde ainda não pode ser testemunhada a ressurreição e expandida eucaristicamente a Igreja a via de Maria permanece aberta tal como no Advento, esperando que o Senhor se manifeste plenamente.
Explicação dogmática
Vejamos o que a teologia diz sobre a graça. Ao lado da graça santificante, a teologia distingue a chamada graça preveniente: antes de estarmos em estado de graça, não somos desprovidos de nenhuma graça. Existem graças também para aqueles que ainda não estão na graça, estas são graças que preparam para a graça. Sem estas graças preparatórias, que nos dão a possibilidade de alcançar a graça, isto é, a plenitude da graça, jamais a alcançaríamos sozinhos.
A missão de Maria – pelo aspecto que consideramos – situa-se neste nível. Maria é como uma presença inicial da graça onde esta falta ou não opera em toda a sua plenitude. Maria é como a graça que antecipa e prepara a graça para que ela se realize no homem em toda a sua plenitude.
Por isso podemos afirmar a existência de uma relação particular entre ela e os povos ainda não cristãos. Pensemos nos grandes continentes da humanidade: na China, na Rússia, na Índia, nos povos árabes, nas imensas populações que vivem, em grande parte, em relação a Cristo, numa situação análoga à dos hebreus antes da vinda de Jesus, ou à situação dos Apóstolos antes que o Espírito Santo descesse sobre eles.
Nós estamos em uma situação de espera em um advento atual. Se olharmos para:
- a profunda veneração do Islã a Maria;
- na devoção popular a Maria que permanece tão viva na Rússia;
- no culto da Mãe que caracteriza a cultura chinesa;
- ou no culto da virgindade tão presente na civilização da Índia.
Quem sabe se tudo isto não exprime esta presença de Maria na humanidade, e quem sabe se não é precisamente com base nestes sinais que Maria poderá um dia reconduzir essas nações a Cristo.
Em todo o caso, Maria ocupa um lugar imenso no mundo e aí realiza uma tarefa fundamental; e lamentamos que nossos irmãos da reforma ainda não possam perceber, pelo menos em grande parte, este mistério de Maria, mesmo que entre eles surjam sinais muito significativos de uma redescoberta de Maria.
A missão de Maria em cada batizado
O que vale para as populações do mundo obviamente vale para cada um de nós. As nações não cristãs não estão sozinhas no advento. A Igreja espera continuamente, numa situação de advento, porque espera continuamente uma plenitude que ainda não possui. Ela vive constantemente em um tempo de advento.
Cristo veio, mas sua vinda ainda não se manifestou plena e visivelmente. Cristo está presente, mas a sua presença está escondida sob os sinais da Palavra e dos sacramentos. Podemos percebê-lo, mas apenas com o olhar da fé. Um dia tudo isso se revelará de forma evidente, visível. Contudo, no interregno entre o primeiro advento e a parusia a Igreja vive num tempo que precede a verdadeira Igreja, a Igreja definitiva, a Jerusalém celeste da qual a Igreja actual é a preparação e a prefiguração ainda imperfeita. Também na Igreja, ao lado de uma presença de Jesus, existe uma ausência de Jesus e uma presença particular de Maria, na medida em que Maria é quem prepara a vinda de Jesus, a sua vinda definitiva.
Por isso a Virgem de Nazaré preenche consigo o espaço que separa o Pentecostes da parusia. Assim como preencheu com a sua presença o espaço que separava a Ascensão do Pentecostes.
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