Natividade de Maria – visão Mariológica

Se por um só momento não existisse a Tradição eclesial, poderíamos falar de Natividade de Maria? 

Na realidade não é um dado bíblico, contudo é um dado histórico, se Jesus é verdadeiramente homem o deve à verdadeira mãe de uma verdadeira história localizada no espaço e no tempo que deriva de uma outra história precedente que é o nascimento de Maria. 

Este raciocínio simples é ao mesmo tempo uma provocação à típica frase “onde está isso na Bíblia?”, se calhar porque o sentido de Palavra de Deus e de história de salvação é ainda uma miragem onde existem suspensos nas nuvens do pensamento religioso as diversas personagens sem que tenham um rosto, uma história, uma morte e uma esperança. Precisado o contexto do nosso artigo vamos nos deslocar para Jerusalém, cidade de Deus para os Hebreus onde cultualmente vemos a ‘anamnesis’ (reminiscência) da Antiga Aliança no Templo e onde temos a mimesis (mimificar) da Nova Aliança com o nascimento da Nova Arca da única e eterna Aliança de Deus com os Homens. Nesta cidade Santa as tipologias plasmam e estruturam a linguagem das festas e dos santuários. Pois se da morte de Maria temos uma festa litúrgica como não ter do nascimento? Seria impossível pensar que a meta de peregrinações nos lugares santos não fossem voluntariamente repetida na sua liturgia nas outras partes do cristianismo ocidental e oriental. 

Sobre a história da Natividade de Maria encontramos os primeiros indícios no século V, sendo introduzida posteriormente em Constantinopla em 555 com a memória de um hino à Natividade composto por Romano o Melode (m. 560). Na Igreja latina temos de esperar o Papa Teodoro (642-649) para vermos esta festa entrar no nosso calendário litúrgico.

Para a Igreja Antiga festa litúrgica era memorial, assim sendo, a Natividade é a realização dos oráculos messiânicos dos profetas e das preparações da Antiga Aliança. Se olharmos para o desenvolvimento da liturgia, tudo parte da Páscoa de Cristo e tudo a ela conduz, todos os acontecimentos que ao longo dos séculos nos levaram à Páscoa começam a ser celebrados. Neste sentido a Mãe, os Apóstolos, a Igreja de Jerusalém envolvem na liturgia cósmica que celebra a salvação todas as pessoas que colaboraram na obra de Jesus. Enquanto comunidade que provém maioritariamente do judaísmo a tradição das figuras do Antigo Testamento, dos oráculos tornaram-se presença no mistério de salvação celebrado.   

Para que Jesus fosse realmente Aquele de quem os oráculos anunciaram a vinda era necessário que ao longo da sua vida se demonstrasse que se cumpriram as Escrituras, e é neste contexto que deve ser lida a Natividade de Maria. Jesus é filho de Davi porque é filho legal de José sem sabermos se Maria fosse descendente Davi ou de estirpe sacerdotal! Contudo um fato revelador permanece até aos nosso dias surpreendente: as bençãos se transmitiam rigorosamente através do sangue masculino mas na de Jesus aparecem quatro mulheres.

Na realidade, os séculos cristãos apenas viram em Maria o seu aspecto religioso e espiritual enquanto hoje se tende a polarizar a história e a antropologia de Maria. Pois bem, me vejo na obrigação de precisar que todas estas mulheres ajudam a nos fazer entender que no Reino do Messias Jesus, a mulher tem um lugar privilegiado no encontro entre o divino e o humano como aconteceu com Maria que foi antecipada na sua maternidade por aquelas que junto aos Patriarcas e Reis garantiram o filho varão que continuou a descendência. 

O evento não registrado na tradição escrita da Palavra não pôde deixar de acontecer pois a sua ascendência é aquela patriarcal e da realeza de Israel onde as figuras femininas da Antiga Aliança prepararam o nascimento da aurora dos novos tempos. 

Pensemos por um momento à liturgia da Natividade, começamos a primeira leitura com o Profeta Miquéias anunciando que de Belém nascerá o Dominador de Israel de uma mãe que dá à luz Aquele que será a Paz. Outra opção da liturgia é que a primeira leitura seja da Carta aos Romanos onde se descreve como a predestinação da filiação divina justifica o homem diante de Deus para que possa ser glorificado, pois tudo acontece dentro do projeto de Deus. Por fim o Evangelho cita o Evangelho de Mateus e apresenta a vocação de José a receber tão especial gravidez onde a Mãe concebeu por amor do Espírito Santo aquele Emanuel prometido pois tudo se devia comprir do oráculo de Isaías 7,14 «Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco».

Tudo isto não poderia acontecer sem o nascimento da Virgem. Olhando para a arqueologia nós vemos como junto à piscina de Bezeta encontramos a casa natal de Maria como origem física da festa convertida em lugar de culto na primeira metade do século V. Provavelmente sabendo que o Espírito de Deus é criativo devemos também ligar a Natividade a um novo modo de comemoração: os 3 grandes nascimentos 25 de dezembro: Jesus; 24 de junho: João Batista e 9 meses após a Imaculada Conceição no dia 8 de Setembro: Maria.  A localização desta festa dentro do nosso complexo calendário litúrgico deve ter em mente que perante a festa da Koimesis (Dormitio) celebrada no 15 de Agosto dia da dedicação da Basílica, devia corresponder também a dedicação da Basílica da Natividade. Para além disso relembramos que o ano litúrgico bizantino começa no 1º de setembro pelo que o nascimento de Maria na aurora da redenção é de radiante valor. A Páscoa da Theotokos de 15 de Agosto conclui praticamente o Ano litúrgico reabrindo com o ciclo natalício-manifestativo que tem por objeto a proximidade com o mistério da Encarnação lido à luz da Páscoa pois não existe Messias sem Mistério Pascal que completa a sua vinda no ventre de Maria.   

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Responses

  1. Maria é Aquela que escolhida por Deus para conceber Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, diz sim em obediência e amor a Deus. A partir daí Ela se torna nossa intercessora. E Aquela que se manteve em silêncio assumindo sua condição de serva em humildade mesmo sabendo de sua importância para para humanidade..

  2. Ave Maria!
    O que podemos dizer a respeito do papel de Maria como mulher e leiga?

    Maria: Modelo da Leiga perfeita, verdadeira discípula missionária que ajudou a educar pelo amor e pelo exemplo.
    Maria: Modelo de Iniciação à Vida Cristã para a Missão
    Maria: Iniciação e Missão

  3. A importância do nascimento de Maria, pois sem ela não teríamos a Salvação, não teríamos um modelo, e muitas das profecias não se cumpririam. Se foi Deus quem falou pelos profetas as profecias tinham que ser cumpridas, logo Maria teria que nascer.

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