Relação entre o Espírito Santo, Maria e o Sacerdote
Se redescobrirmos a dimensão do Espírito Santo na vida de Maria, a Virgem aparecerá como aquela que foi arrebatada pelo Espírito de modo a poder conceber Cristo virginalmente e realizar o novo coração anunciado pelos profetas
(Ez 36,26 «darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne»).
Com Maria inicia a nova criação porque finalmente no sim da Anunciação passamos do antigo regime da Lei de Moisés, como acontece com Zacarias e Isabel seus representantes fiéis, para o novo regime da graça. Objeto do favor de Deus [encontraste graça diante de Deus], Maria é quem finalmente supera a dureza do coração de Israel, um coração calejado incapaz de dizer sim a Deus, mas Maria pronuncia este sim total no Espírito que antecipa nela o Pentecostes.
Esta relação com o Espírito é importante para a concepção do sacerdócio que é uma consagração no Espírito. Por isso existe a graça que vem pela imposição das mãos e faz do sacerdócio menos uma instituição e mais um carisma:
- 1 Tm 4,14 «não negligencies o carisma que está em ti e que te foi dado por profecia, quando a assembléia dos anciãos te impôs as mãos»;
- 2 Tm 1,6 «por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos»;
- 2 Tm 2,11 «eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com ele, com ele viveremos».
A instituição pode se tornar fossilizada em estruturas que não respondem, que não são serviço, que são auto-suficientes, que não anunciam, que não comunicam mas o Espírito Santo que funda a instituição não pode se aprisionado, por isso “quando os filhos de Abraão se calam as pedras gritam.”
A participação na exousia, ou seja, no poder espiritual de Cristo, de que os sacerdotes são ministros, orienta a sua vida para reconciliação escatológica. Isto transformará o Sacerdote não em funcionário mas se ele estiver em sintonia com o Espírito e se viver o sacerdócio como Maria viveu a sua maternidade pneumática, ou seja, no Espírito Santo e como obra do Espírito, então o sacerdócio é pneumático.
O sacerdote é como que uma nau no oceano da existência pronto a se mover segundo o sopro do Espírito. Este sopro no sacerdócio deve estar unido à santidade. Ressuscitar a graça de Deus transmitida com a imposição das mãos é viver segundo o Espírito e ao mesmo tempo construir a nova humanidade.
Aqui se apresenta o problema político que tanto tem agitado as consciências cuja resposta é: a tarefa do sacerdote não é a função diretiva ou o ofício político, mas a assunção de uma linha de ação clara para defender os direitos humanos fundamentais e promover a causa de justiça e paz. O sacerdote deve empenhar-se nisso, se vive o sacerdócio no Espírito, em vista da construção de uma nova humanidade.
À luz do paradigma da Virgem nós encontramos a desejada renovação da espiritualidade sacerdotal.
O sacerdote, consciente do valor da presença de Maria no culto Igreja, seguirá o ritmo de sua vida como Maria aprendendo as atitudes mariológicas fundamentais:
- a ministerialidade é serviço e não domínio;
- a vocação, eleição, missão e peregrinação de Maria é modelo do sacerdócio;
- os sacerdotes não são apenas ministros de Cristo, presidentes da assembléia, mestres do povo de Deus, mas também são como os outros fiéis discípulos do Senhor, irmãos entre irmãos, servos dos homens;
- Não são um obstáculo à união imediata com Cristo mas promotores, tal como Maria, da presença de Deus na história (Bodas de canã).
Estes pontos que acabamos de sublinhar crescerão num clima de oração e de diálogo com Maria, para que exista uma renovação que é herdeira das tradições e promove formas novas de viver o mesmo mistério.
O contato com a Mãe de Jesus é o contato com uma pessoa viva, sempre pronta a intervir junto ao seu Filho, para que se realize na Igreja um sacerdócio animado pelo Espírito para o serviço de Deus e dos homens pela nossa salvação.
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