As celebrações marianas do Advento
Os fiéis, que vivem o espírito do Advento com a liturgia, considerando o amor inefável com que a Virgem Mãe esperou o seu Filho, são convidados a tomá-la como modelo e a preparar-se para sair ao encontro do Salvador que vem, vigilantes na oração, exultante no louvor (cf. Prefácio do Advento II).
«Queremos observar, ainda, que a Liturgia do Advento, conjugando a expectativa messiânica e a outra expectativa da segunda vinda gloriosa de Cristo, com a admirável memória da Mãe, apresenta um equilíbrio cultual muito acertado, que bem pode ser tomado como norma a fim de impedir quaisquer tendências para separar, como algumas vezes sucedeu em certas formas de piedade popular, o culto da Virgem Maria do seu necessário ponto de referência: Cristo. Além disso, faz com que este período, como têm vindo a observar os cultores da Liturgia, deva ser considerado como um tempo particularmente adequado para o culto da Mãe do Senhor: orientação essa, que nós confirmamos e auspiciamos ver aceita e seguida por toda a parte» (Marialis Cultus, 4). Essa veneração a Maria durante o Advento é uma tradição antiga e constante, tanto que também é considerado um tempo mariano.
Enquanto nas várias festas marianas ao longo do ano os mistérios em que a Virgem participou são vistos em etapas sucessivas, no Advento os vários eventos que lhe dizem respeito constituem um tecido contínuo que deve ser visto como um todo: é um fato importante celebração.
A SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Interessa-nos aqui esta festa pela relação mais ou menos fortuita com o tempo do Advento em que cai. A devoção popular celebra a Imaculada como uma homenagem à pureza de Maria, em conexão com as aparições de Lourdes e com a definição dogmática, ou seja, como uma celebração por direito próprio. Em sentido contrário esta festa deve ser vista, neste tempo de espera, como o mistério da realização na Igreja daquela santificação que em Maria, uma virgem sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), ocorreu antes em nós, para que fosse preparada para a Palavra uma digna residência (cf. Coleta e Prefácio). Não é uma imposição litúrgica, mas um esforço teológico e pastoral necessário para celebrá-lo como mistério do advento, isto é, na perspectiva de um memorial de salvação.
Na Mãe de Deus, desde o início, começa a realização: o evento de sua concepção anuncia a hora próxima da redenção, porque a sua virgindade – da qual faz parte a imaculada concepção – é o início do sinal de Deus, prometido à casa de Davi (2 Sam 2,12; Is 7,14).
Esta solenidade é sensível às perspectivas do Antigo Testamento, às do Novo Testamento e à tensão escatológica da Igreja. Maria, termo do povo de Deus na antiga aliança está também no início do povo de Deus na economia da nova e eterna aliança. Sob este duplo aspecto, ela proclama, prefigura, realiza de antemão, num ser incomparável, toda a santidade que será realizada escatologicamente pela Igreja quando esta tiver atingido a sua perfeição.
As festas da série maior (17 a 24 de dezembro)
Os livros litúrgicos não contêm nenhuma expressão particular para designar os dias do advento do Natal. Além da expressão usual feria, eles podem ser chamados, secundariamente, os dias marianos do Advento devido à acentuação das referências à Mãe de Deus contidas sobretudo nas perícopes evangélicas. Falamos dela de forma contínua e crescente porque, na lógica das coisas, a mãe tem um papel preponderante no nascimento do seu filho.
Estes dias já estão iluminados, como um prelúdio festivo, pela luz do Verbo que vem a este mundo (Jo 1,9). Pela sua proximidade e orientação para as solenidades cristológicas da Encarnação, constituem a mais antiga polaridade litúrgica das celebrações da Virgem. Desde as últimas décadas do séc. IV, desde que o nascimento do Salvador se tornou objeto de culto, na organização espontânea das festividades do Natal-Epifania, a figura da mãe de Deus teve nelas a sua posição litúrgica, todas referentes a Cristo.
A feria de 20 de dezembro: o anúncio a Maria
Herdeira da IV feria das Temporas de dezembro, e ainda antes do desaparecimento da solenes dominicae Matris de 18 de dezembro, é mais que uma feria, ainda que de série maior; na Idade Média, a missa deste dia era chamada de Missa aurea beatae Mariae. Em um missal da Toscânia do século X chama-se salutatio Mariae (o mesmo códice celebra o Arcanjo Gabriel em 11 de dezembro). É a comemoração da Anunciação no tempo do advento, por isso antecedeu em dois séculos a solenidade de 25 de março. Ainda que não seja dotada da qualificação de memória ou festa, pela época em que se insere e pela sua história é de primordial importância.
As perícopes bíblicas, excluindo a leitura do Novo Testamento, são as mesmas da Missa da Anunciação (25 de março). O oráculo de Isaías a Acaz (Is 7,10-14) é obrigatório, porque a perícope evangélica o recorda juntamente com as promessas e bênçãos feitas primeiro a Abraão e depois a Davi e à sua descendência (Lc 1,27-33).
Se a profecia permanece um mistério em si mesma, ela recebe a sua interpretação das palavras do Anjo, isto é, à luz da plena iluminação evangélica. Acaz não conseguia entender isso também porque tinha outras preocupações. A profecia do Emanuel indica claramente, juntamente com o Messias, também a Virgem.
No centro da liturgia da palavra, de importância capital para o Advento, temos a história do anúncio (Lc 1,26-38). Em todo esse tempo, de fato, Maria aparece principalmente no primeiro capítulo de Lucas, no qual a passagem sobre a Anunciação é o texto básico. Pelas alusões às passagens proféticas, das quais as palavras do anjo são tão densas, a Virgem é vista em relação aos acontecimentos do Antigo Testamento que prepararam a vinda do Verbo.
A Mãe é colocada em relação ao Filho, de cujo mistério da encarnação ela constitui uma exegese viva. A sua resposta, segundo a expressão do Sal 39, retomada na carta aos Hebreus («Entrando no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo… Então eu disse : Eis que venho – porque está escrito sobre mim no rolo do livro – para fazer, ó Deus, a tua vontade», Sal 39,7-9; Heb 10,5-9), deve estar em harmonia com o fundamento de atitude de obediência que determinou a vida de Cristo.
Os padres da Igreja, em seus comentários espirituais, costumam comparar a explicação do anjo (Lc 1,35) com Is 45,8: «Derramai, ó céus, dessas alturas, e as nuvens chovam justiça; abra-se a terra, e produza a salvação, e ao mesmo tempo frutifique a justiça; eu, o Senhor, as criei». A terra é Maria que, abrindo-se à epiclese do Espírito, à sombra da shekinah – manifestação gloriosa da presença divina – do Altíssimo, sem conhecer o homem torna-se mãe fecunda do Salvador. Esta é a maior bênção que uma pessoa humana alguma vez recebeu. O encontro entre o céu e a terra deu-se entre o melhor que a história divina realizou entre os homens e a intervenção mais extraordinária que Deus realizou numa mulher que nos representa a todos.
É a esta bênção que alude o salmo responsorial – tomado entre as características do Advento, o 23, que mostra Maria na condição primordial, como Deus projetou o homem em Cristo, para o qual a criação renovada age como um paraíso terrestre renovada premissa/promessa torna-se esperança para toda a humanidade.
Duas imagens deslumbrantes abrem a celebração (antífona de entrada). O céu goteja o orvalho refrescante sobre o velo de Gedeão (cf. Jz 7,36-40) e a terra faz germinar a flor dos campos no rebento místico de Jessé (Is 11,1; 40,5; Lc 3,6). O oráculo é cristológico, mas a sensibilidade celebratório-litúrgica percebe também a alusão a Maria. Para a procissão das oferendas, o Graduale Romanum apresenta a famosa antífona da Ave Maria, agora no IV domingo do Advento. A antífona da comunhão ocupa a parte central do anúncio de Gabriel (Lc 1,31): ‘conceição’, ‘parto’ e ‘nome’ (Jesus = Salvador) são propostos como forma de identificação dos comungantes na realidade eucarística à imitação de Maria. Aqui também Maria é vista com o Salvador.
A coleta, a mais mariana de todo o Advento, propõe uma anamnese que expressa sinteticamente a obra das três Pessoas no mistério da Encarnação. Além disso, nela existe espaço para os temas do anúncio e da palavra, da vontade de Deus e da entrega a ela; emergem também as da nova aliança e do templo.
Oração – Liturgia das Horas
Ó Mãe do Redentor,
Do céu ó porta,
Ao povo que caiu, socorre e exorta;
Pois busca levantar-se, Virgem pura,
Nascendo o Criador da criatura.
Tem piedade de nós, e ouve, suave,
O anjo te saudando com seu Ave!
V. O anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E ela concebeu do Espírito Santo.
Oremos:
Infundi, Senhor, em nossas almas a tua graça, para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do teu Filho Jesus Cristo, cheguemos, por sua paixão e cruz, à glória da ressurreição. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor.
R. Amém.
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