As celebrações mariológicas do Advento (IIª parte)
A feria de 21 de dezembro: a visita a Isabel
É a festa da visitação no tempo do Advento! Este mistério é retomado em 31 de maio.
A tradição bíblica, patrística e litúrgica, tanto do Oriente como do Ocidente, sempre associou esta celebração à imagem da esposa do Cântico dos Cânticos, que dá um tom alegre e lírico à celebração. O que se diz da esposa aplica-se a Maria. A viagem premurosa (às pressas; Lc 1,39) mostra Maria como o ícone da Igreja, amada e apaixonada por Deus, o esposo. A conclusão que dela deriva é o tema da presença de Deus na Virgem, representante do povo de Deus. Se esta leitura cria dificuldades pastorais, oferece-se uma segunda escolha, mais fácil, mas sempre sobre o tema da presença de Deus no seu povo (Está no meio de vós: Sof 3,14-18a) e na da filha de Sião, na qual culmina a espera messiânica.
A perícope evangélica apresenta o encontro de Maria com a prima Isabel (Lc 1,39-45), adiando para o dia seguinte a proclamação do cântico da Virgem (Lc 1,46-55). Para isso, a comemoração dos 22 de dezembro é o prolongamento desse mistério. O encontro em quiasmo acontece entre as duas mães e entre os filhos: O Batista é o primeiro entre os santos que recebe a intercessão de Maria. Santificado, salta, enquanto Jesus derrama, numa antecipação pascal, o espírito de profecia sobre as duas mulheres: as duas mães encontram-se num hino de bênção a Deus, que ressoa em Maria. Através deste cântico, fruto da sua sapiencial meditação sobre os livros sagrados, é Israel inteiro que irrompe unanimemente na alegria messiânica. Todos os memoriais do Antigo Testamento (bênçãos, louvores, ações de graças) que celebram a mirabilia Dei estão resumidos neste cântico do Magnificat.
O hino de entrada (cf. Is 7,14; 8,10) sublinha o tema da vinda: Jesus é levado por Maria – a nova arca da aliança – na sua viagem, para ir servir a sua parente, de Nazaré a Ain Karim. As palavras Emanuel, Deus-conosco também são imediatamente percebidas, como uma antecipação do que as leituras irão desenvolver. A antífona da comunhão é o início do cântico da Virgem: a parte representa o todo. Os comungantes do corpo e do sangue do Senhor, com o cântico do Magnificat, são guiados e levados a fazer, na sua ação de graças, a experiência de Maria: levar Cristo dentro de si e levá-lo aos irmãos.
A Oração da Coleta não contém uma referência direta ao mistério celebrado; o Filho que vem na humildade da condição humana é, no entanto, uma alusão ao tema da vinda de Jesus que corresponde à visita a Isabel.
O domingo mariano pré-natalino (4º Advento)
O domingo pré-natalino foi redesenhado e voltou a ser, para o lecionário e para as formas eucológicas, uma ocasião maior de piedade mariana, mesmo que não seja destacada por uma denominação particular. Também ele, como as ferias marianas, absorveu as tradições litúrgicas ligadas à Tempora de dezembro: assim, os eventos dos evangelhos da infância que precederam o nascimento do Senhor são inseridos em uma trama mais orgânica.
O lecionário sugere as seguintes leituras:
Ano | Profeta | Apóstolo | Evangelho |
A | Is 7,10-14: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho». | Rm 1,2-7: Jesus Cristo, da linhagem de Davi, Filho de Deus | Mt 1,18-24: Jesus nascerá de Maria, esposa de José, da linhagem de Davi. |
B | 2 Sam 7,l-5.8b-12. 14a.16: «O reino de Davi durará para sempre diante de Deus». | Romanos 16,25-27: O mistério oculto desde os séculos eternos é agora revelado. | Lc 1,26-38: Tu conceberás um filho e o dará à luz. |
C | Miq 5,1-4a: «De ti sairá o príncipe de Israel» | Hb 10,5-10: «Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade» | Lc 1,39-45: De onde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? |
Cinco deles já são lidos nas grandes ferias, mas combinados de maneira diferente: o anúncio a José (Mt 1,18-24) em 18 de dezembro; o anúncio a Maria e a visita a Isabel nos dias 20 e 21 de dezembro, respectivamente; o oráculo de Emanuel (Is 7,10-14) e a profecia de Natã (2 Sam 7) respectivamente no dia 20 de dezembro e na missa da manhã do dia 24 de dezembro. Devido à prioridade do lecionário festivo sobre o dia da semana, é assim apresentado aos cristãos dominicais o que é aprofundado pelo pequeno número de fiéis do dia: as memórias marianas, anteriormente celebradas, são assim fortalecidas tanto para a celebração festiva e para o uso mais extensivo de textos bíblicos.
As escolhas do lecionário foram feitas num contexto literário bastante coerente e não muito extenso (as origens de Cristo destacam-se historicamente apenas no contexto da dinastia de Davi, segundo as percepções das cartas paulinas e sobretudo dos evangelhos da infância ). As perícopes evangélicas permanecem no centro da reflexão comunitária, pontuadas por proclamações de fé da igreja primitiva e iluminadas por alguns oráculos régios e messiânicos da tradição de Israel. Isso favorece o surgimento mariano das celebrações: a Virgem, verdadeira filha de Sião, resume em sua história de graças toda a tensão da história anterior.
A acentuação mariana, sem ser a única, é um componente característico deste domingo: com a aproximação do Natal, a figura de Maria salta para o primeiro plano, como acontecera com João Batista nos dois domingos anteriores. A Virgem, sendo eleita por Deus, é cheia de graça e serva fiel e continua a ser na comunidade dos homens, fiéis e não fiéis, sinal de total abertura ao Deus que vem. Neste contexto entendemos que as leituras do Apóstolo sejam messiânicas.
Também a eucologia se dirige ao mistério que se realiza em Maria de Nazaré, com uma alusão na Oração da Coleta e uma memória explícita na oração sobre as oferendas. A Coleta, que em três linhas apresenta a unidade e a globalidade do mistério de Cristo – encarnação, paixão, morte e ressurreição – tornou-se a oração diária na recitação do Angelus.
«Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas,
para que nós que, pela anunciação do anjo,
conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho,
pela sua paixão e morte na cruz
alcancemos a glória da ressurreição».
A acentuação colocada no primeiro evento, recorda expressamente o anúncio do anjo e a revelação da encarnação: a presença discreta de Maria faz com que ela apareça intimamente unida ao mistério do Filho. A oração sobre as oferendas é uma epiclese: «Consagra estes dons com o teu Espírito que encheu o seio da Virgem Maria»; o paralelo é ousado e eficaz.
O discurso mostra uma sensibilidade cuidada para temas cristológicos, pneumatológicos e eclesiológicos, nos quais o papel do Verbo-Palavra está na base. Neste mistério de escuta-obediência, Maria é a forma exemplar para a aproximação ao evento da redenção.
As missas marianas no tempo do Advento
Para as ocasiões de peregrinação aos santuários marianos, festas locais, celebrações especiais em honra de Nossa Senhora e aos sábados, o missal oferece uma forma especial para o Advento, que também serve como comum de Nossa Senhora neste período.
Formulário das Missas de Nossa Senhora: Advento
1 – A Virgem Maria, Filha eleita de Israel
2 – A Virgem Maria, na Anunciação do Senhor
3 – A visitação da Virgem Santa Maria
Quase sempre se utiliza elementos que já encontramos anteriormente nas diversas celebrações marianas do Advento. O único elemento próprio, a oração após a comunhão, merece ser lembrado: «Senhor, nosso Deus, que nos enchestes com o corpo e o sangue do vosso Filho, manifestai sempre em nós a vossa misericórdia, para que venerando com fé o mistério da Virgem e Mãe, nos preparemos para receber o fruto da salvação». No momento da celebração, este fruto é identificado com a Eucaristia, que é acolhida como penhor de salvação; no mistério do Natal, é visto como o início dos bens futuros.
Oração final
Deus de infinita bondade, que vedes o vosso povo
esperar fielmente o Natal do Senhor,
fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação
e celebrá-las com renovada alegria.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos. Amém.
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