Inácio de Antioquia
Inácio de Antioquia
Santo Inácio, segundo sucessor de Pedro na Cátedra de Antioquia é uma figura de grande importância na antiguidade cristã. Entre o ano 107-11 foi preso e conduzido acorrentado da Síria a Roma onde foi martirizado pelo Imperador Trajano.
Nas duas paradas da viagem de barco, em Esmirna e Trôade, teve ocasião de escrever sete cartas que chegaram até nós. De Esmirna escreveu à Igreja de Éfeso, Magnésia e Trália, que o tinham visitado através dos bispos e seus enviados e também à Igreja de Roma para não interceder pela sua libertação. Em Trôade escreveu às Igrejas de Esmirna e de Filadélfia, e uma carta pessoal ao Bispo de Esmirna, São Policarpo.
Estas Cartas, pela inspiração e pela força de fé singulares, tornaram público o seu testemunho de fé professada à Igreja de Antioquia e de toda a Igreja universal de Cristo conservando o seu valor imperecível.
Os pontos capitais da fé cristológica eclesial que Inácio expõe com ardente zelo são:
fugir das heresias gnósticas e das doutrinas judaizantes
estar ancorado nos Bispos, Presbíteros e diáconos queridos pelo Pai e por Cristo transmitida pelos Apóstolos
manter uma fé inabalável e a união de amor a Cristo, nosso Deus e nossa única esperança
Neste contexto adquiriram singular importância os breves textos marianos, que aqui recordamos. Eles porque parte integrante de Cartas testemunham a catequese mariana das origens do cristianismo, compendiada nos símbolos de fé locais e a preocupação de não ir além do que os Apóstolos transmitiram às Igrejas.
Maria toma a luz do mistério central de Cristo Salvador e o mistério de Cristo postula alguns pontos chave da doutrina mariológica, como condição indispensável:
verdadeira maternidade de Maria
A concepção, gravidez e parto que fundamenta a realidade humana e o agir humano do Senhor
A virgindade de Maria que concebe por virtude do Espírito Santo, que com o parto real constituem a concretização da predestinação e o atuar querido e podido por Deus os quais são parte do projeto de salvação para o homem.
Os mais belos textos de Santo Inácio
Carta aos Efésios 7 – Cristo Salvador, filho de Deus e de Maria
Alguns homens, com engano maligno, querem levar a todo lado o Nome, ainda que concretizem ações indignas de Deus: perante eles deveis tornar-vos em feras ferozes. Na realidade, são cães raivosos que mordem na traição. Deveis estar longes deles porque são incuráveis.
Existe apenas um médico, humano e ao mesmo tempo divino, gerado e ingênito, em carne feito Deus, na morte vida verdadeira, e a partir de Maria e a partir de Deus, agora passível e depois impassível, Jesus Cristo, o Senhor nosso.
Carta aos Efésios 16-20 – A economia de Deus perante os mistérios de Cristo
Não vos deixeis enganar, meus irmãos: os que corroem as famílias não herdarão o reino de Deus (cf. 1 Cor ,9-10). Então, se aqueles que realizam tais ações segundo a carne são colocados na morte, tanto mais aquele que com a doutrina perversa corrompe a fé de Deus, pela qual Cristo foi crucificado? Aquele, tornado impuro, terminará no fogo eterno, como também que o ouve.
Por isso o Senhor aceitou o perfume sobre a sua cabeça, para infundir a incorrupção sobre a Igreja. Não vos deixeis ungir deste mau odor do ensinamento do príncipe deste mundo, para que não sejais aprisionados longe da vida que nos espera. Porque não nos tornamos todos sábios acolhendo o conhecimento de Deus, que é Jesus Cristo? Porque deveremos estupidamente perecer, desconhecendo o dom que o Senhor verdadeiramente nos enviou?
O meu espírito é vítima da Cruz, a qual é um escândalo para os incrédulos, mas para nós é salvação e vida eterna. «Onde está o sábio? Onde está o inquisidor?» (1 Cor 1,20), onde está a fanfarrice daqueles que se dizem conhecedores?
Dado que o nosso Senhor Deus Jesus Cristo foi transportado no ventre de Maria segundo a economia de Deus, «da semente de David» (Rm 1,3) certo, mas a partir do Espírito Santo: ele foi gerado e foi batizado, para purificar a água com a sua paixão.
E permaneceu oculta ao príncipe deste mundo a virgindade de Maria e o seu parto, como também a morte do Senhor:
três clamorosos mistérios, que se realizaram no silêncio de Deus.
Então como se manifestaram ao longo dos séculos? Um astro resplandeceu no céu acima dos outros astros: a sua luz era inexplicável e a sua novidade levou ao turbamento: todos os astros, depois, com o sol e a luz, fizeram coro à estrela e ela expandia a sua luz acima de todas as outras. E assim começa o tumulto para saber de onde viria esta novidade, assim foram do comum. Então foi dissolvida toda a magia, cada laço de iniquidade foi abolido, foi destruída a ignorância, o velho reino caiu em ruína, tendo aparecido Deus em forma humana por uma novidade da vida eterna, e teve início aquilo que tinha sido estabelecido por Deus. Por isso, cada coisa era perturbada porque se estava preparando a destruição da morte.
Se Jesus Cristo, pelas vossas orações, me estimar digno e se for a vontade de Deus, no segundo livro que vos estou para escrever, manifestar-vos-ei a economia do homem novo Jesus Cristo, da qual vos comecei a falar: na sua fé e na sua caridade, na sua paixão e ressurreição. Sobretudo se o Senhor me revelar que cada um de vós e todos vós, pela graça que vem do seu Nome, vos reunis em uma só fé, e em Jesus Cristo, que é da estirpe de David segundo a carne (Rm 1,3), que é filho do homem e filho de Deus, na obediência ao Bispo e aos presbíteros, como estável concórdia, partindo o único pão que é o fármaco da imortalidade, antídoto para não morrer e viver para sempre em Jesus Cristo.
Carta aos Tralianos 9 – Verdadeira maternidade de Maria
Tapai-vos as orelhas se alguém vos fala de outra forma que não esta: Jesus Cristo, que é a estirpe de Davi, que é a partir de Maria, que verdadeiramente foi gerado, comeu e bebeu, verdadeiramente foi perseguido sob Pôncio Pilatos, verdadeiramente foi crucificado e morreu, debaixo do olhar dos celestes (anjos), dos terrestres e dos infernos; o qual também verdadeiramente ressuscitou dos mortos, tendo-o ressuscitado o seu Pai: o Pai que, à sua semelhança ressuscitará em Jesus Cristo também nós, que acreditamos n’Ele, fora do qual não temos a verdadeira vida.
Cartas de Esmirna 1
Virginal maternidade
Eu dou glória a Jesus Cristo Deus, que nos tornou assim sábios. Vos vi na verdade perfeitos numa fé inabalável, como se fossem pregados com a carne e com o espírito na cruz do Senhor Jesus Cristo e estabelecidos na caridade pelo sangue de Cristo, firmemente convencidos sobre o Senhor nosso, o qual é verdadeiramente «da estirpe de Davi segundo a carne» (Rm 1,3), filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, verdadeiramente gerado de uma virgem, batizado por João, para que fosse por ele concretizada cada justiça (cf. Mt 3,15); ele, sob Pôncio Pilatos e o tetrarca Herodes, por nós verdadeiramente foi pregado na carne – e do seu fruto nós somos, da sua divinamente bem aventurada paixão – para levar no alto sobre os séculos, mediante a sua ressurreição, o estandarte a favor dos seus santos e dos seus fiéis, provenientes tanto dos Judeus quanto dos Gentios, no único corpo da sua Igreja.
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